Uma família de nove pessoas de São Vicente, cidade da baixada santista, no litoral sul paulista, decidiu passar as férias de junho na cidade de Ribeira do Pombal, semiárido baiano, distante 280 quilômetros de Salvador, onde mantém uma casa. Todos, com covid-19, desembarcaram na tarde do dia 6 de junho, um sábado.
O diagnóstico da doença só foi descoberto a partir do momento que um membro da família manifestou sintomas, um dia após o grupo ter chegado à cidade baiana. Eles não passaram por nenhuma barreira sanitária no Estado. “Em Minas, fomos parados em todas as cidades que passamos. Na Bahia, isso não aconteceu”, disse um deles à reportagem. A família não quis ser identificada.
A secretária de saúde do município, Lakcelma Costa, afirma que amostras do alto e baixo trato respiratório desse familiar foram colhidas no terceiro dia que a paciente estava na cidade, para a realização do teste RT-PCR. “Temos o prontuário que confirma essa data”, ressaltou. Esta versão, porém, é contestada pela família, que garante que a testagem só ocorreu no quarto dia.
Lakcelma afirmou ainda que o grupo não parou na barreira sanitária que existe na entrada principal da cidade porque o local onde eles moram, um povoado de Ribeira do Pombal, possui acesso direto pela BR 110. Por lá não há bloqueios. “Não furamos nenhuma barreira. Apenas não fomos parados”, justificou o integrante da família à reportagem.
Em nota, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) confirmou que não realiza mais barreiras sanitárias desde o dia 20 de maio, “em virtude da transmissão comunitária no Estado”. Os municípios são, portanto, os únicos que continuam fazendo esse papel, fixando uma equipe, geralmente, na entrada principal das cidades
As estruturas, porém, não impedem a entrada dos visitantes e só servem para fazer controle de quem chega na cidade. “Somos informados pelos agentes de saúde de cada distrito se alguém chegou e vamos imediatamente ao encontro dessas pessoas”, explicou a secretária. Para ela, independentemente do motivo da chegada, todos que vierem de São Paulo ou de outros lugares devem ser acolhidos. “O importante é que as pessoas cumpram o isolamento obrigatório. Fazemos o monitoramento”.
O presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB) e prefeito de Bom Jesus da Lapa, Eures Ribeiro (PSD), pensa o contrário. Ele já colocou a guarda municipal da sua cidade para escoltar a volta de um ônibus clandestino que queria entrar no município. “No meio de uma pandemia, não dá para ficar circulando. É só no Brasil que vemos essa loucura”, disse.
A família infectada garante que todos estão com quadro leve da doença, em casa, onde cumprem o isolamento desde que chegaram. Para se alimentarem, contam com a ajuda de familiares do próprio povoado, que levam alimentos até o portão da casa onde estão. Para eles, as férias se tornaram uma “viagem turbulenta”. “Todo ano costumamos vir nesse período. Viemos descansar de uma vida corrida. Só queríamos ar puro e a tranquilidade da roça”, disse o integrante da família.
O primeiro caso do novo coronavírus registrado em Ribeira do Pombal foi de uma pessoa que veio de São Paulo, no dia 19 de abril. Dois meses depois, a cidade já registra 50 casos. Destes, pelo menos 14 são oriundos do Estado paulista, segundo apuração da reportagem. Há também, no município, um óbito decorrente da doença, segundo boletim epidemiológico desta quinta-feira, 18.
U