Eles se casam mais e, se antes celebravam o matrimônio com um almoço discreto, agora a comemoração não dispensa festas elaboradas e cheias de personalidade. O número de pessoas na faixa dos 50 anos que se casaram no civil aumentou 37,7% entre os homens e 29,8% entre as mulheres, de 2012 a 2017, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No altar, a mudança de perfil já é notada pelas empresas que assessoram as cerimônias.
No dia 9, a ginecologista obstetra Leticia Maria de Oliveira, de 56 anos, e o professor Rogério de Moura, de 57, oficializaram o relacionamento de cinco anos com uma festa para 130 convidados na capital paulista. Eles já moravam juntos havia um ano e a ideia de celebrar o casamento surgiu após um momento dramático que Leticia acompanhou.
“Estava no hospital neste ano e uma moça, que não era minha paciente, chegou com um sangramento e acabou falecendo no parto. Embora não estivesse envolvida, foi um caso muito comovente. Pensei: a vida é tão curta. A gente está aqui e, amanhã, sabe Deus. Inicialmente, a gente ia celebrar com um almoço, mas resolvemos fazer uma festa à noite.”
A cerimônia foi o primeiro casamento dela e a primeira celebração com festa dele. “Eu nunca tive um sonho de me vestir de noiva, fazer coisa tradicional, com igreja. Mas acho que a gente merecia esse presente.”
Embora não tenha usado um vestido tradicional de noiva, o modelo escolhido foi especial. “Nem queria me casar de branco, preferia um tom nude, pêssego. Conversando com minha estilista, decidimos usar um forro nude e uma renda branca por cima. Também um arranjo na cabeça sem véu e sapato nude. No fim, achei que o resultado ficou bom.”
Além de celebrar o relacionamento, reencontrar amigos foi outro ponto positivo da cerimônia na opinião de Moura. “Apesar de ser um evento pequeno, pessoas de vários lugares foram convidadas. Tinha gente que não via há muitos anos.”
Perfil
A mudança no perfil é notada por empresas que assessoram as cerimônias. Sócia-proprietária da Inesquecível Assessoria, que presta consultoria para eventos dessa natureza, Érika Del Bon diz que os noivos com mais de 50 anos costumam ser muito objetivos durante os preparativos para a festa.
“Eles sabem o que querem e não investem em itens supérfluos. Querem um espaço gostoso, serviço de qualidade e música agradável. É um casamento mais personalizado e intimista”, diz Érika.
Márcio Reimão, sócio da empresa Agda Paula, que organiza casamentos, diz que a segurança é um dos pontos fortes dos noivos dessa faixa etária. Segundo ele, os cinquentões tomam decisões mais rapidamente, sem as dúvidas próprias dos casais mais jovens.
Outra característica é que eles preferem fazer um evento com mais convidados do que teriam em um almoço, mas selecionando apenas os parentes e amigos mais próximos.
“As pessoas estão mais interessadas em comemorar esse momento, mesmo que estejam no segundo casamento. São festas menores, mais íntimas, até porque os casais pagam a maioria das despesas”, diz Érika.
Enquanto há crescimento de uniões no civil nas demais faixas etárias, a casa dos 20 anos apresentou queda, segundo o IBGE. Entre as mulheres de 20 a 24 anos, a queda foi de 12,9%. De 25 a 29, foi de 10,9%. Entre os homens, foi menor: de 9,1% e 5,1%, respectivamente.
“Antes, os noivos se casavam na faixa dos 22 anos e tinham ajuda dos pais. Hoje, as pessoas estão se formando, trabalhando, morando juntas e, só depois, resolvem fazer o casamento”, afirma a empresária.
Cristiane Pileggi, professora do MBA em Gestão de Eventos e Cerimoniais de Luxo da Faculdade Roberto Miranda, trabalha há mais de 20 anos com eventos e diz que o perfil das pessoas com 50 anos mudou com o passar do tempo.
“Hoje, um casal de 50 anos não é velho. Os noivos são pessoas antenadas, que ouvem o mesmo tipo de música dos filhos e vão nos mesmos locais que eles frequentam.”
Apesar de joviais, eles não têm como foco as principais tendências do ramo divulgadas nas redes sociais. “Os casais mais jovens chegam com todas as referências de Instagram e de blogueiros. Inclusive, veem coisas que não necessariamente podem pagar. A geração dos 50 não é tão iludida com internet e mídias sociais.”
As festas desse público, segundo Cristiane, costumam ter entre 100 e 150 convidados. Os preços variam. “Tem festa de casamento de todo preço. A partir de 200 pessoas fica, em média, R$ 1,5 mil por convidado.”
Mudanças
A pedagoga Sandra Lazard, de 55 anos, começou a namorar o administrador de empresas Renato Botton, de 58 anos, em 2008 e casamento não estava nos planos do casal. Tudo mudou quando as duas filhas do primeiro casamento dela resolveram sair de casa. “Morávamos um de frente para o outro e não queríamos casar. Quando as meninas foram morar fora do País, ele e elas decidiram que a gente deveria se casar. Os três me pediram em casamento em outubro de 2018.”
A festa para 55 convidados foi organizada em pouco tempo e com mais tranquilidade do que em sua primeira experiência, aos 24 anos. “Foi muito rápido. Fui na galeria de arte onde queria fazer a cerimônia e comecei a organizar em outubro. Em seis meses a gente resolveu tudo”, diz Sandra.
Depois do casamento, eles se mudaram para uma casa de Sandra que passou por obras para se adequar ao perfil do casal.
“É uma casa pequena e tem exatamente o que a gente precisa. Fazemos jantares e convidamos sempre casais de amigos para mostrar a nossa casa e como a gente está feliz, cheio de saúde e de animação”, diz a pedagoga.
Tempo para sair e namorar
Para 61% das mulheres e 43% dos homens, ter tempo livre para sair e namorar é a principal vantagem de um relacionamento acima dos 50 anos. Outro benefício é não sofrer pressão para casar e ter filhos, segundo resposta de 35% das mulheres e 38% dos homens.
As opiniões foram recolhidas em pesquisa realizada com 1.358 pessoas e divulgada em março pela plataforma OurTime, aplicativo de relacionamento voltado para esse público que chegou ao Brasil em 2016. Por mês, a plataforma diz receber mais de 80 mil novos usuários.
Questionados sobre qual é a principal dificuldade na hora de buscar um novo relacionamento, tanto os homens quanto as mulheres afirmaram que é criar coragem para recomeçar. Conhecer pessoas novas e ter a aprovação dos filhos foram outros desafios apresentados.
Em uma pesquisa realizada em outubro do ano passado, a plataforma fez outras perguntas aos seus usuários, por exemplo, sobre qual era a melhor maneira de iniciar uma conversa. A maioria dos homens (64%) afirmou que o mais importante é “deixar fluir”. Já as mulheres (56% delas) disseram que fazem perguntas para descobrir o perfil do pretendente. Na época, tanto homens (56%) quanto mulheres (68%) mostraram-se preocupados com a segurança ao iniciar um novo relacionamento.