Um temporal forte em Santos, Guarujá e São Vicente, no litoral sul paulista, deixou pelo menos 19 mortos. Houve vários deslizamentos nos três municípios e, conforme balanço da Defesa Civil do Estado, havia ainda 30 desaparecidos e 163 desabrigados na noite de terça-feira, 3 – além de 11 desalojados. Neste verão, o total de mortes por chuvas no Sudeste – São Paulo, Rio, Minas e Espírito Santo – já chegou a pelo menos 141 – 70% a mais do que no verão passado, quando houve 82 vítimas.
Após eventos extremos – como chuvas de mais de 100 milímetros em um só dia em Belo Horizonte (janeiro) e na capital paulista (fevereiro) -, o total de desabrigados e desalojados no período passa de 87 mil, segundo dados da Defesa Civil compilados pelo Estado.
A combinação de efeitos de longo prazo das mudanças climáticas, temperaturas mais baixas nos oceanos e falhas urbanísticas nas cidades leva aos desastres, dizem especialistas (mais informações nesta página) “Há um tempo, chuvas de 120 milímetros no mesmo dia eram a cada 50 ou 100 anos. Agora, vemos isso se repetir em poucas semanas”, diz Ivan Carlos Maglio, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).
O Núcleo de Gerenciamento de Emergência da Defesa Civil do Estado indicou que a chuva acumulada nos temporais mais recentes no Guarujá foi de 282 milímetros; em Santos, no mesmo período, chegou a 218 mm. A média histórica prevista para a Baixada Santista durante todo o mês de março é de 257,3 milímetros.
Nesta terça-feira, o Guarujá era o local com mais mortos e desaparecidos. Um dos locais mais atingidos foi o Morro do Macaco Molhado, onde cinco morreram – incluindo dois bombeiros que tentavam encontrar uma mãe e um bebê após um desabamento, quando a terra deslizou outra vez.
O ajudante de pedreiro Luciano Oliveira, o Aranha, de 59 anos, dormia em casa, no morro, quando houve o deslizamento, por volta de 1h30. Ele ficou soterrado até o umbigo e teve auxílio de vizinhos e bombeiros. “Achei que iria perder metade do corpo. Me ajudaram a sair pela janela.” No início da tarde, mesmo com a chuva, Oliveira estava nas proximidades da casa, preocupado em conseguir documentos. Já a casa, de madeira, em que vivia há seis anos, desmoronou. “Não tenho lugar para ir. Perdi tudo, estou só com a roupa do corpo.”
Bombeiros estimavam 30 imóveis atingidos no local. “Como algumas (moradias) não estão cadastradas, é difícil fazer estimativa mais próxima da realidade”, disse o secretário adjunto de Defesa Civil do Guarujá, Carlos Eduardo Smicelato. A prefeitura prepara um abrigo com 200 vagas, que pode ser ampliado para até 400. O Estado prometeu aluguel social aos desabrigados e a Defesa Civil se mobiliza para tirar moradores de áreas de risco, pois há perigo de mais desabamentos.
Em Santos, deslizamentos atingiram os Morros Santa Maria, São Bento, Vila Progresso e Monte Serrat – muitos moradores abandonaram as casas. A prefeitura distribuiu lonas plásticas a moradores e suspendeu parte das aulas, por dificuldades de acesso. Um colégio acolheu desabrigados.
Houve ao menos quatro quedas de barreira na Rodovia Doutor Manuel Hipólito Rego, em dois pontos da Rio-Santos e mais dois da Guarujá-Bertioga. O VLT da Baixada também amanheceu paralisado, após deslizamento de terra perto do túnel que liga Santos a São Vicente.
Vítimas
No Estado de São Paulo, foram 42 mortes por chuva este verão, número que pode subir diante do total de desaparecidos. No ano anterior, haviam sido 41. Minas é o Estado com mais mortos (72), quatro vezes mais do que no verão anterior. Em Belo Horizonte, temporais em janeiro deixaram 13 mortos e os estragos nas ruas custarão ao menos R$ 300 milhões.
O governo federal anunciou há um mês R$ 892 milhões para Minas, Rio e Espírito Santo por causa das chuvas. O Ministério do Desenvolvimento Regional disse ontem que avaliará a necessidade de liberar verba para a Baixada Santista.