O morador de Sorocaba (SP) que morreu no último dia 11 no Hospital das Clínicas, na capital paulista, com o primeiro caso recente de febre hemorrágica brasileira, passou por cinco cidades do interior de São Paulo, no período em que teria se infectado. Além de Sorocaba, onde mora, o homem de 52 anos esteve em Itapeva e Itaporanga, no sudoeste paulista, e em Eldorado e Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira. A mulher da vítima e uma irmã do homem estão sob monitoramento.
“Orientamos as duas para que fiquem isoladas, em quarentena, pelo menos até o dia o dia 3 de fevereiro, quando vence o período máximo de possível transmissão. Também pedimos que evitem compartilhar copos, talheres, roupas e objetos de uso pessoal com outras pessoas”, afirmou a médica infectologista Priscilla Helena dos Santos, coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Sorocaba.
De acordo com o secretário de Saúde de Sorocaba, Ademir Watanabe, é pouco provável que o homem tenha adquirido o vírus na cidade onde morava. Segundo ele, os locais mais prováveis de contaminação são áreas rurais de Itapeva e Itaporanga, onde o paciente esteve. “Existe o relato de que em uma dessas localidades há um paiol com a presença de roedores, ratos do campo, que são os transmissores da doença. Na casa em que ele morava com a companheira, em Sorocaba, não existe a presença de ratos silvestres, que são o reservatório natural do arenavírus.”
Mesmo assim, segundo ele, todas as pessoas que tiveram contato com o paciente estão sendo monitoradas. A Vigilância Epidemiológica Estadual já orientou as medidas de bloqueio nas cidades visitadas pelo paciente.
Conforme o secretário, os deslocamentos do paciente foram reconstituídos para a adoção das medidas de bloqueio. No período de 1 a 5 de dezembro, ele permaneceu em Sorocaba, em sua casa na Vila Carvalho, viajando em seguida para Eldorado, no Vale do Ribeira, onde tem parentes. No dia 15, retornou para Sorocaba e, no dia 21, viajou para Itapeva, no sudoeste paulista. No dia seguinte, o homem se deslocou para Itaporanga, cidade da mesma região, permanecendo até o dia 26, quando retornou para Sorocaba
No dia 29, um dia antes de apresentar os sintomas, ele viajou novamente para Eldorado, onde procurou uma unidade de saúde já com os sintomas iniciais da doença. O quadro inicial, de dor no abdômen, náuseas e dores musculares, evoluiu para febre alta, queda de pressão, confusão mental e hemorragia. O paciente foi transferido para o Hospital Regional de Pariquera-Açu e, em seguida, para o Hospital das Clínicas de São Paulo.
De acordo com o secretário, a pasta municipal foi notificada no dia 7 de janeiro pelo Hospital das Clínicas da capital e iniciou as investigações epidemiológicas. “Havia suspeita inicial de febre amarela, por ele ter viajado para o Vale do Ribeira, mas os sintomas eram diferentes e ele havia sido vacinado contra essa doença. Como havia ratos urbanos na região em que mora, nós passamos a investigar também a leptospirose. O fato é que, em nenhum momento, esse paciente foi atendido em Sorocaba, o que reduz o risco de contaminação aqui”, disse.
Sintomas
Segundo Priscilla Helena dos Santos, a população do entorno da residência do paciente foi alertada para ficar atenta aos sintomas da doença. Os sintomas iniciais são: febre, dor de cabeça, dor abdominal forte, sonolência, prostração, queda de pressão, tontura e confusão mental. Em seguida, é constatado o comprometimento hepático (icterícia) e sinais de hemorragia. A rede municipal foi colocada em alerta para avaliar a possibilidade de contaminação pelo arenavírus em caso de sintomas parecidos.
A médica alerta para a necessidade de procurar uma unidade de saúde tão logo os primeiros sintomas se manifestem. “Eles são parecidos, inicialmente, com os sintomas da dengue, da febre amarela e de outras doenças graves, como a leptospirose. Todas são doenças importantes, então não há que ter hesitação: deve-se procurar atendimento médico imediato”, disse.
Embora a doença ainda seja pouco pesquisada, sabe-se que o arenavírus é transmitido pelas fezes e excreções do rato silvestre, que vive em matas, mas infesta paiois, lavouras de grãos e depósitos de cereais. A doença difere da leptospirose, pois esta é transmitida pelas fezes e urina de rato doméstico – ratazana, rato de telhado e camundongo – e é causada por uma bactéria.
No Brasil, há histórico de quatro casos humanos de febre hemorrágica brasileira causada pelo mesmo vírus, o último deles detectado em 1999, em um paciente de 32 anos, residente em Espírito Santo do Pinhal, no interior paulista. O homem, morador da zona rural e operador de máquinas de café, ficou internado sete dias e acabou morrendo.