Vídeos de uma perigosa “brincadeira” chamada de quebra-crânio, roleta humana ou desafio da rasteira, têm circulado nas redes sociais, deixando pais e educadores preocupados. Especialistas afirmam que a queda pode causar danos ao crânio, ao cérebro e à coluna.
Em novembro do ano passado, uma jovem de 16 anos que participava deste “desafio” morreu em Mossoró (RN). Emanuela Medeiros foi desafiada a participar da brincadeira por colegas em uma escola municipal. Ela caiu e bateu a cabeça no chão, sofrendo um traumatismo craniano.
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A prefeitura do município informou que a adolescente chegou a ser socorrida, mas morreu três dias depois de dar entrada no hospital. Seus familiares e os colegas que participavam do desafio receberam assistência de psicólogos e assistentes sociais. O assunto foi abordado nas escolas nesta quarta-feira (12), durante a abertura da jornada pedagógica com professores e gestores.
Os vídeos têm circulado nas redes sociais, principalmente no TikTok e mostram, geralmente, jovens se posicionando ao lado de um colega, que é orientado a pular e, então, recebe uma rasteira. Sem ter como se apoiar, a vítima acaba caindo de costas no chão e quase sempre bate com a cabeça, o que vem preocupando pais, educadores e médicos.
O aplicativo é febre entre os jovens e vídeos de desafios entre colegas são compartilhados com frequência. Em nota, o TikTok informou que prioriza a segurança e bem-estar dos usuários e que irá remover da plataforma qualquer conteúdo perigoso e que seja denunciado.
Em São Paulo escolas já informaram que têm conhecimento da “brincadeira” e estão divulgando alertas para que os docentes fiquem atentos. É o caso do Colégio Santa Maria, que tomou conhecimento por uma funcionária, e divulgou um alerta nas redes sociais para conscientizar estudantes e pais.
Em outro colégio, na capital paulista, o assunto foi debatido em sala de aula. “Isso é uma agressão, não é uma brincadeira. Temos computadores em sala de aula. Passamos os vídeos para os alunos e fizemos uma reflexão sobre esse tipo de violência e as consequências desses atos. Não adianta esconder”, explica César Marconi, diretor pedagógico da escola. O assunto também será abordado com os alunos mais novos. “Vamos abrir uma roda de conversa, até porque os alunos do 4° e 5° anos já têm celulares.”
O ortopedista especialista em cirurgia da coluna e coordenador da pós-graduação em cirurgia endoscópica de coluna na Universidade de São Paulo (USP), João Paulo Bergamaschi, disse em entrevista que os jovens não têm noção do risco de sofrer traumas graves e até morrer. “As pessoas que idealizaram não se atentaram à gravidade. É uma brincadeira que pode levar à morte”
Já o coordenador do departamento de neurologia pediátrica do Sabará Hospital Infantil, Carlos Takeuchi, explica que a forma que a pessoa cai é diferente no caso de uma queda por tropeçar ou escorregar, por exemplo. “Quando a gente tropeça, pode bater a cabeça, mas tem o reflexo de defesa, de colocar a mão (para se proteger). (Nessa brincadeira), a pessoa cai sem defesa. Ela vai ter a queda um pouco acima da própria altura. Um adolescente de 1,50 ou 1,60 metro cairá de quase 1,80 metro sem se proteger.”
Takeuchi diz que a região atingida nesse tipo de queda é ligada à visão. “Pode haver sangramento, contusão e uma infinidade de lesões intracranianas que podem demandar internações e até procedimentos cirúrgicos.”
O neurologista também alertou que os pais devem ficar atentos a sintomas que os jovens podem apresentar após sofrer uma lesão na cabeça. “Em casos muito extremos, a pessoa pode apresentar alterações de nível mental, vômitos e dor de cabeça.”
Ele recomenda que os pais conversem com os filhos sobre o assunto. “Quando nós, pais, recebemos um vídeo desses, temos de alertar. O filho não pode ficar no meio e muito menos dar rasteira nos colegas. Os pais têm papel de educador.”