A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou ontem o registro dos primeiros oito kits específicos para diagnóstico do novo coronavírus, que prometem apresentar o resultado das análises em cerca de dez minutos. O órgão não deu detalhes sobre cada produto e fabricante. Há cerca de dez empresas interessadas em entrar no mercado brasileiro com dispositivos de diagnóstico rápido.
Uma das interessadas é a Fiocruz, que estima conseguir entregar em até três semanas ao governo um teste deste tipo a partir de uma parceria com empresa privada. Segundo a Anvisa, seis dos testes aprovados são do tipo “ensaio imunocromatográfico”, que usa amostras de sangue, soro ou plasma. Outros dois são para detecção com uso de swab, instrumento semelhante a um cotonete que retira amostra das vias respiratórias dos pacientes, da nasofaringe e orofaringe. Os registros serão publicados na quinta-feira, no Diário Oficial.
Mesmo mantendo a posição de que testes em massa são “desperdício” de recursos, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), disse desejar que o País consiga adquirir em três meses até 1 milhão desses produtos para detectar o vírus em pacientes. A conta seria uma projeção com base na soma de testes já encomendados com a Fiocruz – 30 mil numa primeira leva e mais 150 mil adiante – e com importações de empresas privadas. Os testes adquiridos com a Fiocruz até agora são de uma versão mais simples, que tem apresentado o resultado em até 3 dias.
A empresa MedLevansohn deseja vender no País um teste fabricado na China, pela empresa Biotest, que promete o diagnóstico em dez minutos. A ideia da empresa é, se conseguir o registro na Anvisa, trazer um primeiro lote de 100 mil testes no começo de abril e encomendar outro de 200 mil. O dispositivo cabe na mão e analisa amostra de sangue do paciente.
Já a farmacêutica Roche quer trazer ao Brasil o teste “cobas® SARS-CoV-2”, registrado nesta semana nos Estados Unidos de forma emergencial. Ele pode ser colocado em um equipamento de análise clínica, da mesma empresa, que promete verificar 1.440 amostras de pacientes em um período de 24 horas. A empresa afirma que ainda conversa com o governo brasileiro sobre como realizar o registro e fornecimento do produto.
Por questões de sigilo industrial, a Anvisa não revela o número exato de empresas que pretendem registrar testes no Pais. O Ministério da Saúde se reunirá hoje com companhias que detêm a tecnologia para negociar a importação. O governo paga R$ 98,80 por unidade do kit fornecido pela Fiocruz. A expectativa é de que o preço caia “consideravelmente” com testes rápidos, por exemplo, segundo técnicos do governo.
Parceria tecnológica. A Fiocruz afirma que discute uma parceria com empresa privada para fornecer no Brasil em poucas semanas o teste rápido. A ideia é que o resultado das análises seja apresentado em até 15 minutos. Segundo o chefe da Divisão de Novos Negócios de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Hugo Defendi, há “várias empresas” interessadas na parceria com o laboratório. Com a parceria, a Fiocruz poderia fabricar parte do produto e fornecer ao governo. Com o passar do tempo, a empresa incorporaria a tecnologia do parceiro privado para fabricar o teste todo no Brasil. A expectativa é de que o preço seja bastante inferior ao teste vendido hoje ao governo.
Produtos como testes rápidos de novo coronavírus, no entanto, não são ainda encontrados na farmácia. Apesar de o manuseio ser considerado simples, ele ocorre em ambiente hospitalar.
Testes
O ministro da Saúde, Mandetta, voltou a se opor a recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para testar o máximo de casos suspeitos possível. “Do ponto de vista sanitário é um grande desperdício de recursos preciosos para nações”, disse o ministro ontem. A estratégia do governo é priorizar testes de pessoas internadas por síndromes respiratórias, além de realizar análises na “rede sentinela” (que inclui postos de saúde, pronto atendimento e hospitais) de pessoas com diagnóstico negativo para outros vírus gripais.
Citado como caso de sucesso no combate ao novo coronavírus, a Coreia do Sul tem testado de 10 mil a 15 mil casos diariamente, segundo dados do governo. Mandetta, no entanto, afirma que o país asiático não pode ser visto como referência para a realidade brasileira. “Uma coisa é ter um país como a Coreia do Sul. É totalmente diferente de um continente sul-americano. Vamos lutar, discutindo com nossos especialistas qual a melhor técnica que a gente pode usar. Os EUA estão sem kit. Não é uma situação para se pensar melhor?”, indagou.