Quando consumimos uma fruta, nada pode ser considerado resíduo. A casca, quando cai no solo, pode se tornar adubo para fortalecer as plantas locais. Já as sementes dão origem a uma nova árvore frutífera da mesma espécie Para a natureza, não existe lixo. Os processos ocorrem em ciclos, como as fases da lua, o movimento das marés, as estações do ano e as águas que evaporam e retornam à terra em forma de chuva.
A industrialização, no entanto, criou as linhas de montagem de produtos com uma vida útil estabelecida e limitada. Um produto é produzido, consumido e descartado. Frequentemente, a metodologia de extração de matéria prima, desenvolvimento de produto, uso e descarte não considera que, posteriormente, o material será encaminhado a aterros, incineração ou lixões a céu aberto – enfim, entregues à decomposição natural.
O problema com o pensamento linear é que o homem está, atualmente, extraindo muito mais matéria prima do que o planeta é capaz de repor. Além disso, o problema do lixo tem se mostrado mais complexo do que parecia no início das atividades fabris. A poluição do solo e dos oceanos tem impacto direto sobre a vida no planeta e prejudica a biodiversidade.
Para se ter uma ideia do problema, se a população global de fato chegar a 9,6 bilhões em 2050, serão necessários quase três planetas Terra para proporcionar os recursos naturais necessários para manter o atual estilo de vida da humanidade, de acordo com o Banco Mundial.
A ECONOMIA CIRCULAR
Uma forma de driblar o esgotamento da natureza é pensar em como extrair menos recursos e aproveitá-los ao máximo, pelo máximo de tempo possível, prevendo o fim da vida útil de um produto. Dessa forma, se concebe esse produto também para o momento em que ele será descartado.
A economia circular é isso: pensar um produto do começo ao fim de sua vida com foco na busca da mais alta eficiência no uso de materiais e energia, e na redução da geração de resíduos.
A economia circular, portanto, pode – e deve – fazer parte do nosso dia a dia. Veja como ela já é praticada, talvez até por você, e se inspire para fazer o que você ainda não sabia que colaborava com os objetivos da economia circular
TECIDOS
O que você faz com aquela calcinha velha, a camiseta furada, a calça que ficou pequena, a blusa que perdeu a graça? Algumas roupas podem ser encaminhadas para a doação, mas uniformes, peças íntimas ou muito desgastadas precisam de outra destinação. O lixo comum é o menos recomendável. A Renovar Têxtil, por exemplo, retira das ruas 120 toneladas/mês de retalhos que iriam para aterros sanitários. O resíduo têxtil vira enchimento, cobertores, feltros e mantas térmicas e acústicas para os setores automotivos, construção civil, decoração, etc. Já a Retalhar recebe uniformes usados e encaminha tecidos, botões e zíperes para novas aplicações. O Banco de Tecidos também recebe sobras da indústria têxtil e do mercado da moda. Pedaços íntegros de tecidos diversos podem ser comprados ou trocados por outros nas lojas físicas, que estão em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
AUTOMÓVEIS
O carro que você usa cotidianamente e sua mochila podem ter mais em comum do que você imagina! Com um pouco de criatividade e estudos de design, aparas de cintos de segurança e tecido automotivo viram bolsas, mochilas, malas, carteiras, pastas, bandejas, jogos de mesa e muitas outras coisas, tudo colorido moderno e cheio de estilo. Algumas organizações não governamentais e cooperativas desenvolvem exatamente esse trabalho: recebem os resíduos e reaproveitam, gerando valor, empregos e dando uma nova oportunidade à matéria prima já extraída da natureza. Um exemplo é a Cooperárvore, que há dez anos realiza projetos de reuso que envolvem a comunidade e apostam no empoderamento feminino.
CELULARES
Você sabia que seu celular pode ser devolvido gratuitamente na mesma loja onde você o adquiriu? Aparelhos modernos são montados com placas formando diversas camadas que são confeccionadas com metais finos e fios preciosos. Esses componentes podem ser desmontados e encaminhados para reaproveitamento separadamente. As empresas fabricantes já estão preparadas para a logística reversa e recebem de volta seus próprios produtos, reaproveitando-os para novos equipamentos do mesmo tipo ou recondicionando a matéria-prima para novos usos. Alguns elementos da bateria, por exemplo, podem ser recuperados para virar alto-falantes. Talvez o seu celular que você está usando agora já seja feito com produtos reaproveitados
AGRICULTURA
Restos agrícolas também podem ser reincorporados à cadeia de produção. A biomassa, resultante da decomposição de recursos renováveis, como plantas, madeira, restos de alimentos e excrementos, pode servir de insumo para a produção de combustível. O esterco de animais de pastagem pode ser preparado para virar adubo e fortalecer o solo para a plantação. Ele também pode dar origem ao biogás, que é gerado a partir da biodigestão desses resíduos e pode se transformar em eletricidade ou combustível renovável.
REÚSO DOMÉSTICO
Nas pequenas escolhas cotidianas, na compra, no consumo e no descarte do lixo da cozinha, do banheiro ou do escritório, por exemplo, também há boas práticas de economia circular.
Pensar em novas possibilidades para as embalagens que descartamos pode trazer benefícios para a família e também para toda a sociedade. Transformar as garrafas PET em vasos, reutilizar garrafas de vidro, reaproveitar o papelão e evitar o desperdício de alimentos são atitudes simples que podem ajudar.