O advogado Mário Ottoboni, criador de um sistema prisional humanizado e sem polícia, morreu nesta segunda-feira, 14, aos 88 anos, em São José dos Campos, interior de São Paulo. Segundo a família, ele estava hospitalizado e não resistiu a uma pneumonia Ottoboni foi o idealizador do método Apac (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado), em que os próprios detentos assumem a gerência das unidades e têm as chaves das celas.
Conforme o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), o custo do preso neste modelo é 50% menor do que nas prisões comuns e não são admitidos integrantes de facções criminosas. O índice de fugas é próximo de zero e estudos realizados pelo TJ de Minas, Estado com maior número de unidades, mostram grande queda de reincidência entre os egressos.
Na Apac, não há agentes armados e os próprios detentos dividem as tarefas, incluindo a produção de alimentos e o preparo das refeições. Pelo sistema passaram figuras conhecidas, como o publicitário Marcos Valério, operador do mensalão do PT, e o goleiro Bruno Fernandes, condenado pela morte da ex-namorada Eliza Samúdio.
O método foi exportado para países como Alemanha, Argentina, Estados Unidos, Inglaterra, País de Gales, Nova Zelândia e Noruega. No Brasil, funcionam em cerca de 80 unidades em quatro Estados. O modelo foi reconhecido pelo Prison Fellowship International, que atua como órgão consultivo da Organização das Nações Unidas (ONU) para assuntos penitenciários, como alternativa para humanizar a execução da pena.
Nascido na colônia italiana de Barra Bonita (SP) em 1931, Ottoboni mudou-se para São José dos Campos com a família aos 14 anos. Após concluir os estudos, além da advocacia, dedicou-se ao teatro e escreveu mais de 30 livros.
Em 1972, fundou a primeira unidade da Apac na cidade. Ele também foi presidente do Esporte Clube São José. Há três anos, perdeu a esposa, Cidinha, com quem viveu durante 55 anos. O sepultamento do advogado ocorreu nesta terça-feira, 15, no Cemitério Padre Rodolfo Komorek, no centro da cidade.