Cirurgia citorredutora com quimioterapia intraperitonial hipertérmica. O nome é tão complexo quanto o próprio procedimento, realizado pela primeira vez na região, no Hospital Medical, em janeiro, em uma paciente com câncer avançado na região do peritônio. Durou 10 horas e envolveu muitos profissionais.
O tumor já estava disseminado na cavidade abdominal. Ela já tinha passado por outros tratamentos, inclusive uma cirurgia anterior e a doença ainda se encontrava em atividade. Após uma avaliação criteriosa, foi indicada a cirurgia citorredutora com HIPEC, como o nome do procedimento abreviado é conhecido, que pode oferecer, em alguns casos, como no da paciente em questão, até 95% de chance de cura.
Os cirurgiões oncológicos Eduardo Ruzzante Pinheiro e Dr. Douglas Daniel Vilela coordenaram o tratamento, que também contou com o oncologista clínico Dr. André Orlando Marques e o anestesiologista Dr. Airton Correa de Almeida Júnior,e, apresentaram à diretoria da Medical a alternativa cirúrgica para doenças neoplásicas avançadas, indicada em alguns casos específicos, como tumores disseminados do peritônio, do apêndice, ovário, cólon e estômago, quando a doença atinge uma disseminação peritonial conhecida como carcinomatose. O procedimento é recente no país e é de altíssima complexidade, pois pode exigir a remoção de múltiplos órgãos do abdome para a retirada de todo o tumor. “Também é complexa do ponto de vista de repercussão para o paciente porque, remover órgãos, tem os seus riscos”, explicou Dr Eduardo. Apenas para remover a doença, a cirurgia durou 7 horas.
Depois da retirada do tumor, algumas pequenas células podem ainda continuar dentro do abdome do paciente. Para matar essas células, aplica-se uma quimioterapia intraperitonial e hiperaquecida.
O especialista explica que este procedimento tem diferenças da quimioterapia convencional, que se administra na veia ou com comprimidos por exemplo, pois o remédio circula no corpo inteiro e causa os efeitos colaterais conhecidos. “Quando aplica a quimioterapia só dentro do abdome, os efeitos são minimizados. A outra vantagem é que a quimioterapia hiperaquecida faz com que o remédio haja de forma mais eficiente dentro das células”.
Com o auxílio de uma máquina, similar a de circulação extracorpórea usada em cirurgia cardíaca, é feito com que o medicamento circule no local. A máquina aquece o quimioterápico, até 42º C, tornando-o mais eficiente porque, desta forma, consegue penetrar melhor na célula que tem a doença. Esse procedimento de circulação do medicamento, dentro da barriga, durou mais ou menos 1h30. “Com a aplicação, espera-se as células cancerígenas que restaram após a remoção da doença sejam eliminadas”.
É o que tem sido observado na paciente submetida após o procedimento. Ela teve excelente evolução: ficou dois dias na UTI e mais cinco no quarto. A paciente teve alta hospitalar sem dreno, sem sonda, sem dor. “Hoje, ela tem uma vida normal, sem nenhuma sequela da operação. Agora, é o tempo que vai dizer como vai ser. Podemos afirmar hoje que a paciente se encontra livre de doença. Ela aparentemente está curada. Está com a doença totalmente não-identificável”.
A estatística que o cirurgião possui é de que o procedimento foi muito pouco realizado fora das grandes capitais do Brasil. Em centros especializados, a rotina pode ser maior, mas trata-se de uma cirurgia muito recente que permite que as pessoas com câncer avançado tenham expectativa maior de sobrevida, em casos que até então eram considerados de pouca esperança.
A partir de agora, a cirurgia poderá ser realizada outras vezes no hospital, mas o médico enfatiza que não são todos os pacientes que são candidatos a esta operação, tendo em vista que, quando há a doença avançada, clinicamente trata-se de um paciente que está debilitado. Então, não são todos os pacientes que suportariam esse tipo de cirurgia, que também tem seus riscos.
“No geral, fiquei plenamente convicto de que a Medical tem toda a estrutura e condição de realizar uma cirurgia com tamanha complexidade. O apoio da diretoria do hospital possibilitou realizar a operação de forma segura. Todos nos depositaram confiança para a realização deste procedimento pois enxergaram que não é apenas um marco para o hospital, mas sim, uma chance de vida a uma pessoa”.
Dr. Eduardo destacou que não foi uma cirurgia que dependeu exclusivamente do ato cirúrgico, mas sim de uma grande equipe que envolveu além dos cirurgiões oncológicos. Contou também com a participação de oncologista clínico, de uma equipe multidisciplinar de farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, auxiliares de enfermagem, enfermeiros, perfusionistas, médicos intensivistas e anestesistas.
São cirurgiões oncológicos com especialização em procedimentos complexos. A bagagem foi trazida para a Medical e o hospital fica muito à frente na região.