Embora os primeiros sinais de recuperação econômica já estejam se tornando visíveis para os brasileiros, alguns reflexos da pesada crise que gerou instabilidade na política e na economia do país ainda podem ser sentidos. A população, de uma forma geral, perdeu poder de compra, precisou abrir mão de alguns hábitos de consumo e boa parte se tornou inadimplente em seus compromissos.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) no final de 2017, constatou que 62,2% das famílias brasileiras estão endividadas. As dívidas vão desde os cartões de crédito a financiamento de automóveis, mas o que mais preocupa são os financiamentos imobiliários já que, na maioria dos casos, os próprios imóveis é que são oferecidos como garantia.
A Caixa Econômica Federal, por exemplo, banco público que é líder histórico na quantidade de financiamentos imobiliários do país, retomou quase 30 mil imóveis de clientes inadimplentes somente no ano de 2017. Em 2016 o número não chegou a 18 mil imóveis e, em 2015, mal passava dos 13 mil. Para 2018, a tendência é que o número continue crescendo porque, só de janeiro a maio, 17.559 imóveis já foram retomados por falta de pagamento.
O que acontece com esses imóveis?
Quando retomados pelos bancos, os imóveis dos inadimplentes geram muitas despesas, porque a responsabilidade de quitar impostos como taxas de condomínio e IPTU, bem como zelar pela conservação e manutenção, passa a ser dos bancos. Por isso, para “escoar” a grande quantidade de imóveis estagnados, os bancos costumam ofertá-los através de grandes leilões.
“É triste constatar que com a crise tanta gente perdeu para as instituições bancárias o imóvel financiado, mas essa é uma realidade. Os leilões de imóveis, entretanto, costumam ser muito atrativos para novos compradores justamente pela oferta de imóveis com preços muito abaixo dos praticados pelo mercado”, explica Juliana Gil, Diretora de Incorporação da Promoval Incorporadora (www.promoval.com.br).
A principal casa de leilões online do Brasil também percebeu o aumento no número de operações. Em 2015, foram 50 operações; em 2017, o número saltou para 350. Em 2018, só no primeiro semestre, já foram 650 leilões. Parte desse crescimento exponencial é explicada pela dificuldade encontrada pelos bancos em vender esses imóveis, já que valores mais baixos frequentemente não são suficientes para atrair os compradores.
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Cuidados para comprar um imóvel em leilão
Em média, os descontos de um imóvel retomado giram em torno de 40%, mas no último leilão anunciado pelo banco Santander, há imóveis com redução de preço de até 76%. Apesar da oferta que de tão atrativa parece irrecusável, o comprador precisa estar atento a alguns detalhes. Muitos desses imóveis sequer foram desocupados pelos antigos donos; portanto, além de não poder nem visitar o imóvel em questão, o novo comprador possivelmente terá que entrar com uma ação judicial para que o imóvel seja devidamente desocupado.
A contratação de um advogado também é uma etapa altamente recomendada para outras tarefas, como consultar antigos débitos relacionados ao imóvel que podem ser herdados pelo novo comprador, e até mesmo para verificar se não há nenhuma ação contra a execução do leilão, já que nem sempre os bancos esperam os julgamentos finais para dar prosseguimentos aos leilões
As desocupações podem se arrastar por meses ou até anos na Justiça, então é fundamental consultar um profissional habilitado e especializado no mercado imobiliário para verificar se a espera e os custos com processos judiciais realmente fazem a redução no valor do imóvel ser um fator de compensação. A principal dica, que deve estar na mente de qualquer comprador, é nunca arrematar um imóvel por impulso, já que o que pode parecer ser um bom negócio hoje é capaz de gerar muitos transtornos no futuro.