A ex-cortadora de cana Ilda Rodrigues Geraldini, de 46 anos, que possui uma história trágica, é a mais nova milionária da região de Piracicaba. Ela comprou um título de capitalização do Vida Cap Limeira para participar do sorteio e ficou surpresa ao receber uma ligação informando que era a ganhadora de um milhão de reais. A ótima notícia veio no dia 12 de outubro e pegou toda a família de surpresa naquele domingo.
Moradora na casa do sogro, com o marido e outras cinco pessoas (um imóvel bem simples, com dois quartos), no bairro Javari, na periferia de Piracicaba (SP), a dona de casa ainda não se recuperou do trauma que carrega há mais de 23 anos, após a morte trágica do filho (que era uma criança), da irmã e de um sobrinho em um acidente de trânsito na Rodovia Geraldo de Barros (Distrito de Artemis), que liga Piracicaba a Águas de São Pedro.
Os familiares dela caminhavam pelo acostamento da pista quando um caminhão carregado com madeiras tombou e a carga atingiu as vítimas, entre elas duas crianças. Um casal de idosos que passava pelo local também foi atingido e morreu na hora, totalizando cinco vítimas fatais.
A trabalhadora se emociona toda vez que precisa relembrar a história. Uma ferida aberta que somente o tempo irá cicatrizar. Porém, entre as lágrimas da tragédia, surgem os olhos marejados pela vitória.
“Fico muito aborrecida, muito triste mesmo, toda vez que tenho que lembrar. Mas Deus nos dá força e a gente vai vivendo e levando a vida”, mencionou.
Novos capítulos começaram a ser escritos na vida da ex-cortadora de cana a partir de uma ação do marido dela, Fábio Geraldini, 50 anos. O pedreiro foi ao bar da Lordoca, ao lado do serviço dele, comprou uma cartela e pagou pelo Pix, cadastrado em nome da esposa.
Foi tudo que eles precisaram para conquistar o prêmio milionário, após o sorteio ocorrido no Dia das Crianças – “Na hora que me ligaram, fiquei com as pernas bambas. Depois, a ficha foi caindo”, detalhou.
Dona Ilda contava apenas com o salário do marido, oriundo do trabalho na construção civil, para pagar as contas de casa — e nunca sobrou dinheiro pra nada. Agora, os planos começam a tomar novas direções. A mulher pretende usar o dinheiro do prêmio para comprar uma casa própria e deixar o imóvel onde mora atualmente; comprar uma casa para a filha e outra para o filho – “Eu pretendo ir embora daqui e ajudar meus dois filhos.
Vamos dar uma casinha pra cada um”, relatou.
Dona Ilda cortava cana nas décadas de 80 e 90, nas plantações da região, para ajudar a família. As marcas do sofrimento estão estampadas no rosto de uma mulher guerreira que nunca se entregou. Aliás, mesmo com tantas perdas, ela entrega seu tempo para cuidar do sogro (pessoa acamada), que estendeu os braços e lhe ofereceu moradia. Uma prova viva de que, enquanto Deus não disser “acabou”, há ainda uma chance de se superar e alcançar a vitória.



