Mário Jorge Lobo Zagallo nasceu no dia 9 de agosto de 1931, em Maceió (AL). Uma lenda do futebol. Está no seleto rol de personagens que nunca serão esquecidos por seus feitos no esporte mais popular do mundo.
Uma vida recheada de histórias, títulos e polêmicas. Destemido, atuou como jogador, técnico, coordenador técnico e, por diversas vezes, defensor incondicional da seleção brasileira.
Dono de um patriotismo exacerbado que já lhe rendeu vários problemas, mas seu amor é inquestionável. Só ele brilhou em quatro das cinco estrelas bordadas no escudo da CBF.
Mas, por mais patriota que possa ser, Zagallo também já defendeu a bandeira de outros países. Foi técnico das seleções do Kuwait, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes. Nesta última, é lembrado até hoje por tê-la classificado pela primeira vez para a Copa do Mundo. O que só comprova o respeito mundial por seu gordo currículo. Este é um pequeno resumo do que foi o nosso inesquecível Zagallo.
Começou a carreira de jogador como ponta-esquerda no juvenil do América do Rio de Janeiro, no final dos anos 40. Após servir o Exército, transferiu-se para o Flamengo em 1951, clube que defendeu por oito anos, e pelo qual conquistou o tricampeonato carioca de 53, 54 e 55.
No Rubro-Negro, inclusive, foi companheiro de Zizinho, o “Mestre Ziza” e Dida, o qual reputa como um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos.
Menos habilidoso do que seus concorrentes, mas com maior voluntariedade do que a maioria, era chamado inclusive de “Formiguinha”.
Zagallo foi o precursor do recuo de um dos atacantes para o meio de campo, o que originou o 4-3-3. Foi justamente fechando o setor pela esquerda que ele chegou à seleção brasileira. Com a camisa do Flamengo, Zagallo disputou 205 jogos, sendo 128 vitórias, 38 empates e 39 derrotas. Marcou 29 gols.
Foi convocado para a Copa de 58, onde ganhou a posição que era disputada com Pépe. Disputou todas as partidas, num time que era um verdadeiro celeiro de craques: Gilmar, Djalma Santos, Belini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo.
Logo depois da Copa de 58 na Suécia, onde o Brasil conquistou seu primeiro titulo mundial, Zagallo foi jogar no Botafogo, onde ajudou a formar um dos maiores times da história de General Severiano, ou seja: Manga, Joel, Zé Maria, Nilton Santos e Rildo; Airton e Didi; Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo.
Pelo Botafogo ganhou os campeonatos carioca de 1961 e 1962, o Roberto Gomes Pedrosa de 1962, e dois Rio-São Paulo (62 e 64), uma época em que o Fogão mandava no futebol carioca e juntamente com o Santos F.C, mandavam no futebol brasileiro.
Em 1962 disputou mais uma Copa, desta vez no Chile e, mais uma vez como titular absoluto, ajudando o Brasil a conquistar o bicampeonato mundial.
Pela Seleção brasileira, Zagallo vestiu a camisa amarelinha 34 vezes. Foram 28 vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas. Marcou cinco gols.
Zagallo abandonou a carreira de jogador em 1965, aos 34 anos. A partir de então, o ponta-esquerda simples e eficiente deu lugar ao treinador estudioso e estrategista, que contribuiu para a modernização do futebol brasileiro.
A carreira de Zagallo como técnico não demorou para deslanchar. Em 1966 já conquistou o primeiro título na nova função: um carioca juvenil pelo Botafogo. No ano seguinte, já no profissional, ganhou o estadual, fato que se repetiu em 1968.
Um ano depois conquistou a Taça Brasil, o equivalente à atual Copa do Brasil. Era o que faltava para ser chamado para a seleção brasileira no lugar do demitido João Saldanha.
Ao assumir, Zagallo mudou a equipe que havia se classificado para Copa do Mundo do México. Contrariou o antigo treinador e escalou no meio de campo e ataque, jogadores com características de “camisa dez”. Gerson, Rivelino, Pelé e Tostão, além de convocar o goleiro Félix e colocá-lo como titular, deixando os garotos Ado e Leão no banco.
Esses craques, ao lado de Clodoaldo, Jairzinho e Carlos Alberto, entre outros, não tiveram dificuldades para encantar o mundo e faturar o tricampeonato mundial. A equipe que Zagallo escalava e que o Brasil até hoje não esquece era a seguinte: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivelino; Jairzinho, Pelé e Tostão.
De volta ao Brasil, Zagallo acumulou o cargo na seleção e no clube de General Severiano. Em 1971 foi trabalhar no Fluminense, onde conquistou o campeonato carioca.
Em 1972 foi para o Flamengo, onde também sagrou-se campeão estadual. Chegava o ano de 1974 e mais uma Copa do Mundo pela frente, desta vez na Alemanha. O Brasil não precisava passar pelas Eliminatórias por ter sido campeão na última edição, coisa que atualmente não há mais esta regalia.
Já sem Pelé, o time foi confiante nos craques Rivelino e Jairzinho. O time nunca convenceu, mas Zagallo acreditou que a camisa do Brasil assustaria os adversários. Funcionou até encontrarmos a “Laranja Mecânica” holandesa, de Cruyiff & Cia. Sem conhecer o adversário, o Brasil foi derrotado com facilidade por 2 a 0 e disputou desmotivado o terceiro lugar, que perdeu para a Polônia por 1 a 0.
Desgastado com a opinião pública, Zagallo passou um longo período na ponte-aérea Rio – Oriente Médio. Alternou passagens por Botafogo, Fluminense, Vasco, Bangu e Flamengo, com experiência à frente de clubes da Arábia Saudita, a própria seleção local, além de Kuwait e Emirados Árabes.
Retornou definitivamente ao Brasil em 1990, para dirigir o Vasco na Taça Libertadores da América. Fracassou ao não passar sequer da primeira fase. No final do ano seguinte, deu um tempo na carreira de treinador para assumir outra função na velha e querida seleção brasileira, agora como coordenador técnico, fazendo dupla com um velho conhecido, Carlos Alberto Parreira, seu preparador físico em 1970.
A parceria iniciou o trabalho cercado de dúvidas, que só aumentaram com a difícil caminhada rumo a Copa de 94 nos Estados Unidos. Após altos e baixos, o time chegou à conquista do tetra, depois de vencermos a Itália nos pênaltis.
Em 1997, conquistou a Copa América e das Confederações, mas também desafetos, principalmente contra a crônica esportiva paulista. Tanto que a Copa América na Bolívia, foi comemorada com uma reação aos críticos: “Vocês vão ter que me engolir”, disparou de dedo em riste à câmera de televisão. Estava cunhado um dos mais famosos bordões da história do futebol.
Na Copa de 1998 disputada na França, Zagallo estava novamente a frente da nossa seleção. Formou um grande esquadrão, mas na final perdemos para a dona da casa por 3 a 0, num dia em que até hoje permanece um mistério, o que realmente aconteceu com Ronaldo antes da partida? Depois disso, Zagallo ficou seis meses desempregado, até receber o convite da Portuguesa de Desportos, onde trabalhou por nove meses.
Depois de 15 anos, voltou a trabalhar no Flamengo, onde encerrou sua carreira de técnico. Durante todos os anos que trabalhou no Flamengo como técnico, Zagallo comandou 236 partidas. Venceu 116, empatou 59 e perdeu 61 vezes.
A última vez que comandou um time do banco de reservas, aconteceu num jogo de despedida da seleção brasileira, contra a Coréia do Sul em 2002. Neste dia o Brasil venceu por 3 a 2. O gol da vitória foi marcado no último minuto por Ronaldinho Gaúcho, que o dedicou ao Velho Lobo, que gostou tanto da homenagem, que desistiu de se afastar da seleção. Seis meses depois, aceitou o convite da CBF para reeditar a dupla com Carlos Alberto Parreira.
Em 2005, aos 74 anos, Zagallo foi obrigado a sofrer uma cirurgia de mais de quatro horas de duração para a desobstrução do duodeno, depois de mais de uma semana internado. No entanto, mesmo com o susto, Zagallo ainda continuou algum tempo no comando da seleção, ao lado de Parreira, durante a Copa de 2006 na Alemanha.
Foi oficialmente dispensado pela CBF no dia 26 de agosto de 2006 com a promessa de que participaria da organização da Copa de 2014 no Brasil. Como técnico da seleção principal, os números são os seguintes: 135 jogos (99 vitórias, 26 empates e 10 derrotas).
A principal característica de Zagallo ao longo da carreira sempre foi a superstição. Sua ligação com o número 13 sempre existiu. Então vejamos alguns exemplos: Casou no dia 13, morava no 13º andar, a placa do seu carro é LCJ 0013 e foi campeão mundial em 58 (5+8=13) e em 94 (9+4=13).
Com idade avançada, Zagallo vinha com a saúde fragilizada há alguns anos. Em setembro de 2023, ficou cerca de 20 dias no hospital com infecção urinária. No dia 26 de dezembro de 2023, foi novamente internado no Hospital Barra D’Or e morreu nesta sexta-feira, aos 92 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, resultante de progressão de comorbidades previamente existentes.
Recentemente, em pesquisa realizada pela GE com a participação de mais de 100 treinadores, Zagallo foi eleito o segundo maior técnico da história do país, atrás apenas de Telê Santana. Por tudo isso, só nos resta dizer, obrigado Zagallo por tudo que você fez pelo futebol brasileiro e agora descanse em paz.