O primeiro mês de fiscalização da velocidade média de veículos na capital paulista flagrou 230 mil motoristas trafegando acima dos limites nas quatro vias onde a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) testa o novo esquema de monitoramento. Esse condutores já começaram a receber notificações educativas sobre o comportamento irregular ao volante – mas não há previsão legal para que sejam multados.
A fiscalização por velocidade média começou a ser testada no dia 1.º de novembro nas Avenidas 23 de Maio, Bandeirantes, Jacu-Pêssego e Marginal do Tietê. Em vez de o radar calcular a velocidade do veículo no momento em que passa pelo aparelho, o sistema precisa que o carro seja registrado em dois equipamentos Então, calcula, com base no tempo para percorrer a via e a distância entre o primeiro e o segundo radar, a velocidade média Assim, é possível verificar se a velocidade desenvolvida pelo carro é maior do que a máxima permitida.
O balanço, obtido com exclusividade pelo Estado, aponta que, ao todo, 3,8% dos condutores excedem o limite de velocidade. Mas a distribuição entre as quatro vias monitoradas varia. A Avenida Jacu-Pêssego, na zona leste tem a maioria dos infratores: 221 mil.
Ali, 14,2% dos veículos que passaram pelos dois radares de controle estavam acima do permitido. No mês de agosto (dado mais recente), os oito conjuntos de radares instalados no local apontaram 16,2 mil motoristas, flagrados pelo modo tradicional, segundo dados do Painel Mobilidade Segura, disponível no site da CET.
Centro. Já o centro da cidade teve menos motoristas flagrados. Na Avenida dos Bandeirantes, na zona sul, por exemplo, dos 2,8 milhões de veículos que foram registrados no sistema, apenas 2,1 mil estavam acima do limite (0,07%). Na Avenida 23 de Maio, que liga o centro à zona sul, 0,5% dos carros estava correndo demais (6,9 mil veículos de 1,2 milhão). Por fim, há a Marginal do Tietê, onde apenas 350 veículos foram captados acima da velocidade média, ou 0,06% dos 395,9 mil que passaram por lá.
Na avaliação do mestre em Transportes e consultor de mobilidade Horácio Augusto Figueira, o resultado tem relação direta com a densidade do trânsito de cada um das vias. As três do centro expandido da cidade têm trânsito carregado na maior parte do dia, enquanto a Jacu-Pêssego, mais livre, dá mais condições àqueles motoristas dispostos a infringir as normas de trânsito e correr acima dos limites.
“Seria interessante ver a divisão das multas por hora. Nas vias com densidade alta, o motorista não trafega nem à metade do limite de velocidade. Então, a maioria dessas infrações deve ser flagrada à noite ou durante a madrugada”, afirma. “Na Jacu-Pêssego, não”, continua.
Figueira defende o modelo em teste pela CET e sugere que, além das cartas que a companhia está enviando para os potenciais infratores, faixas informando esses números deveriam ser colocadas nas vias.
“Mas a fiscalização pontual também é importante. Ela é a peneira grossa, que pega quem não respeitou os limites nem no radar. A fiscalização por velocidade média é a peneira fina, flagra aquele que tentou frear antes do radar, mas estava acima do limite”, explica.
Educação. Na semana passada, o Ministério das Cidades emitiu um parecer, elaborado com base em um pedido do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em que aprova o envio das cartas educativas que estão sendo endereçadas aos motoristas que excedem os limites, mas destaca que esses condutores só poderão ser multados caso o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) seja alterado – uma discussão que a CET tenta levar a Brasília desde o começo da década.
A Prefeitura informa, desde que tomou essa iniciativa, que a medida tem caráter educativo. “O motorista não receberá pontos na Carteira Nacional de Habilitação nem terá de pagar multa”, afirma a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes. “A ideia é lembrar o condutor que seu comportamento pode colocar em risco a vida dele e de terceiros.”
Só em outubro, 69 pessoas morreram em acidentes de trânsito na cidade. Em outubro do ano passado, foram 73. No acumulado do ano, houve 746 vítimas, uma redução de 5,8% em relação aos 792 mortos entre janeiro e outubro de 2016.
A maioria das vítimas, 340 casos, é de pedestres atropelados. Os números são do governo do Estado.