Dona de uma carreira marcada por sucessos nos palcos, na televisão e no cinema, Berta teve uma trajetória premiada. No teatro, sob a direção de Alberto D’Aversa, recebeu o Prêmio Saci, em 1960, pela interpretação da filha muda da peça Mãe Coragem, de Brecht. Com O Milagre de Anne Sullivan, de Helen Keller, em 1967, recebeu o Prêmio Moliére. Por sua atuação em Anjo Duro, monólogo sobre Nise da Silveira que marcou seu retorno como atriz mais de duas décadas depois de uma ruptura radical, ela ganhou o APCA.
Filha de imigrantes poloneses que chegaram ao Brasil no final dos anos 1920, Bertha Zemelmacher nasceu no dia 6 de agosto de 1934. Adotou o nome mais curto, Berta Zemel, quando saiu da Escola de Arte Dramática em 1956 e foi trabalhar no Teatro Bela Vista com Sérgio Cardoso. Foi ele quem sugeriu que ela simplificasse seu nome.
Antes disso, Berta trabalhou em escritório, fez datilografia e contabilidade, como mandava o figurino na época – e era coisa comum na casa de famílias como a dela, com pouco dinheiro e problemas de saúde. Tinha 15 anos e precisava do salário, mas odiou a experiência.
O primeiro contato com o teatro foi pelo rádio, em casa mesmo. Todo domingo ela ouvia, na Rádio Record, Manoel Durães e sua equipe apresentando o Grande Teatro, com peças nacionais e francesas. Gostou. E achou que o rádio poderia tirá-la de casa. Já atuava no cinema e na TV quando foi convidada para fazer radionovela, e foi feliz. Fez duas, das quais, contou certa vez, esqueceu o título.
“O palco é o prolongamento de minha vida, preciso me respeitar muito na vida, senão como vou me respeitar no palco”, comentou Berta Zemel em depoimento para a biografia Berta Zemel: A Alma das Pedras, escrita por Rodrigo Antunes Corrêa para a Coleção Aplauso.
E o teatro sempre foi seu principal palco. Atuou em Os Dous (1954), Dona Rosita, A Que Ficou Solteira (1954), A Família e a Festa na Roça (1954), O Anúncio Feito a Maria (1955), Hamlet (1956), Henrique IV (1957), A Senhoria (1959), Pedreira das Almas (1958), Romanoff e Julieta (1959), Mãe Coragem e Seus Filhos (1960), Yerma (1962), Sorocaba, Senhor (1963), Yerma (1962), Noites Brancas (1964), Manhãs de Sol (1966), O Milagre de Annie Sullivan (1967), A Vinda do Messias (1970) e Anjo Duro (2000).
Em 1970, ao voltar de uma viagem a Paris, onde conheceu o trabalho de um grupo africano de teatro, ela decidiu montar sua própria companhia para fazer um teatro que ressaltasse a nossa brasilidade, como ela disse em entrevista ao Estadão em 2000. O Teatro Móvel, sua companhia fundada em 1970, viajou pelo Brasil durante muitos anos, apresentando um teatro popular.
No meio disso, em 1972, Berta fez grande sucesso como protagonista da novela Vitória Bonelli, de autoria e direção de Geraldo Vietri. E depois de três anos viajando com a peça A Vinda do Messias, de Timochenco Wehbi, entre 1970 e 1973, na qual protagonizava a moça interiorana que caía de paraquedas no agito da cidade grande, e que exigia muito da atriz, ela decidiu se afastar dos palcos. “Acho que também precisei buscar minha própria linguagem, uma verdade mais certa para o palco e para a vida”, disse, na mesma entrevista ao Estadão.
Berta Zemel foi casada com o ator Wolney de Assis, morto em 2015 vítima de um câncer de pulmão.