O argentino e ex-jogador Diego Armando Maradona, considerado um dos maiores futebolistas de todos os tempos, faleceu nesta semana aos 60 anos de idade vítima de parada cardiorrespiratória. Considerado um evento súbito e inesperado, o problema que levou Maradona à morte pode ser evitado com hábitos saudáveis, como não fumar, atividade física e dieta adequada.
Cardiologista do Sistema Hapvida, o doutor Luiz Pedro Prada Neto explica o que é a parada cardiorrespiratória, seus sinais e também aborda a importância das pessoas conhecerem técnicas que podem ajudar no socorro de vítimas do evento súbito, como a manobra de reanimação. Confira a entrevista.
1 – Tecnicamente, o que é uma parada cardiorrespiratória?
Parada cardiorrespiratória é a interrupção súbita do batimento cardíaco efetivo e do fluxo ventilatório, num indivíduo que não apresentava sinais de deterioração clínica ou que não tinha doença conhecida que pudesse causar este fenômeno. As causas podem ser muito variadas, como fenômenos cardíacos, neurológicos, distúrbios metabólicos, intoxicação por gases, desidratação, dentre muitas outras.
2 – Como identificá-la e como proceder caso alguém próximo sofra parada cardiorrespiratória?
A parada cardiorrespiratória pode ter como primeiro sinal uma interrupção súbita da atividade motora do indivíduo e da comunicação, seguida de síncope (perda súbita da consciência), via de regra, com queda ao solo ou desfalecimento. Pode ser seguida de palidez intensa e movimentos de tentativa de inspiração profunda. A primeira ação é pedir ajuda, gritando por alguém ou acionando o telefone da emergência. Verificar as condições de segurança da vítima (proximidade de fogo ou estar em via de rolamento de veículos ou máquinas). Tentar reconhecer se a vítima ainda respira e se tem pulso. Neste momento, na ausência de uma dessas reações, o socorrista leigo pode colocar a vítima deitada de costas e iniciar compressões no tórax, até a chegada de socorro. Outras manobras, como ventilação, requerem um mínimo de treinamento.
3 – Quando ela não é fatal, pode deixar sequelas?
Estudos mostram que a cada um minuto em parada cardíaca, sem reanimação efetiva, as chances de recuperação diminuem em 10%. Sendo assim, após 10 minutos em parada cardíaca sem atendimento, a chance de recuperação é próxima de zero. Mesmo o indivíduo submetido a manobras de reanimação, pode sofrer queda de oxigenação cerebral e ficar com sequelas permanentes. O uso de desfibriladores automáticos aumenta muito a chance de recuperação.
4 – Como evitá-la?
Conceitualmente, a parada cardiorrespiratória é um evento súbito e inesperado. É possível preveni-la com exames de saúde regulares e uso efetivo de medicamentos recomendados para doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. Hábitos saudáveis também diminuem a chance destes eventos (não fumar, atividade física e dieta adequada).
5 – É mais frequente em alguma faixa etária ou sexo?
Os fenômenos cardiovasculares súbitos aumentam em prevalência com o aumento da idade, mas podem acontecer em pessoas jovens e até crianças (raro).
6 – Está relacionada com doenças?
O evento súbito está relacionado principalmente com doenças ainda não identificadas no indivíduo. Por exemplo: uma pessoa pode ser portadora de alterações estruturais no coração, mas ser absolutamente assintomática e apresentar como primeira manifestação, uma arritmia grave. Exames simples, como um eletrocardiograma, e um exame físico bem feito, podem identificar alterações que precisem de investigação mais
aprofundada.
7 – Quais são os procedimentos médicos após atendimento de parada cardiorrespiratória?
Indivíduos recuperados de parada cardiorrespiratória são submetidos à investigação da causa, e o tratamento inclui o controle destas doenças de base e a recuperação de sequelas.
Ainda de acordo com o Luiz Pedro, todas as pessoas deveriam procurar algum conhecimento sobre manobras de reanimação. “Essa recomendação ganhou destaque na última revisão sobre Reanimação Cardiopulmonar, com a importância da compressão do tórax de forma precoce, pelo socorrista leigo. Também seria importante a familiaridade com a utilização de desfibrilador externo automático (DEA)”, finalizou.