As animações e os remakes recentes dos clássicos de princesas, os mais bem-sucedidos (pelo menos em quantidade de público nos cinemas) filmes de heróis da história, a franquia intergaláctica que se mantém relevante mais de 40 anos depois do lançamento original, as dedicadas histórias para todas as faixas etárias da Pixar e os conteúdos documentais do Nat Geo, e outras produções originais recentes – todo esse conteúdo, que estará disponível no lançamento do Disney+ no Brasil, em 17 de novembro, deve bastar para, num primeiro momento, a nova plataforma de streaming amealhar até milhões de assinantes por aqui.
A análise do conteúdo disponível do Disney+ aponta para um público mais jovem, embora produções como filmes da Marvel e da Pixar tenham potencial de atingir todas as idades. “Quando a Disney fala que ‘nosso conteúdo é para família’, é criança. E as famílias deixam de assinar TV a cabo porque as crianças já nascem no streaming. Esse público tem que ser um alvo para qualquer plataforma”, diz ao Estadão a consultora estratégica de entretenimento e conteúdo Patricia Weiss. A analista também antecipa a chegada do Hulu.com e dos conteúdos da Fox no Brasil, ambos agora sob propriedade da Disney. “Esse momento de lançamento não deixa de ser uma transição para o conteúdo mais adulto.”
O Conto da Aia e This Is Us, duas das séries americanas de maior sucesso nos últimos anos, por exemplo, são produções originais dessas empresas.
A Disney ainda não confirmou ou anunciou a expansão das outras plataformas para o Brasil. A empresa também informou que as entrevistas de seus executivos à imprensa brasileira começarão em novembro.
Outra questão que ainda não tem um anúncio oficial da Disney é o preço da nova plataforma por aqui. O presidente da empresa para a América Latina, Diego Lerner, já afirmou que o pacote básico será na mesma faixa de preço da assinatura mais barata da Netflix, R$ 21,90.
“A Disney+ tem uma tática de preço perspicaz, que é cobrar o básico do mercado”, analisa Weiss. “O consumidor deve olhar especificamente, mesmo que na soma das assinaturas o valor seja maior. O americano olha o orçamento anual, mas o consumidor brasileiro não pensa muito no que deve guardar. Apesar de que minha mãe dizia que dinheiro aqui não dá em árvore”, ri. Ela cita a chegada do Amazon Prime Video como exemplo. “Analisando o volume e a quantidade de opções de conteúdo, o brasileiro adquiriu a assinatura. Porque se o consumidor gosta de uma série, duas, e percebe que tem muitos filmes, pensa ‘bom, é mais opção, maravilha’.”
Carolina Vargas, CEO do grupo Stenna com 15 anos de atuação no mercado, concorda que o preço é bom, mas acredita que a quantidade de assinaturas vai pesar na hora da decisão do consumidor. “A gente nota um comportamento do consumidor que busca conteúdos exclusivos acontecendo em muitas plataformas. Lá fora, a fidelização existe porque existem diversos tipos de pagamentos (como por conteúdos específicos), mas aqui vai fazer muita diferença. Lançou um filme novo da Marvel? O consumidor deve assinar, assistir, depois cancelar. Temos que pensar que R$ 21 era um saco de arroz. Penso muito nessa questão da relação de popularização.”
Ao mesmo tempo que a empresa faz os preparativos finais para sua expansão na América Latina, também anunciou agora em outubro uma reestruturação global, que dá pistas sobre o futuro da companhia Uma nova divisão – de Mídia e Distribuição – foi criada, separada da parte de criação e produção, e a empresa também cedeu mais poderes aos líderes dos seus estúdios, responsáveis pelos conteúdos, descentralizando decisões sobre onde os novos produtos vão estrear, se no streaming, nos cinemas ou mesmo na televisão.
Em diversas matérias na imprensa americana, analistas de mercado afirmam que ainda não está claro como a reestruturação vai funcionar, mas a notícia dá uma pista – assim como a informação de que um dos principais investidores do grupo, Dan Loeb, pediu ao CEO Bob Chapek que cerca de US$ 3 bilhões distribuídos pela empresa como dividendos sejam investidos em produção de conteúdo para o streaming.
Com os parques fechados e os cruzeiros suspensos pelo futuro próximo, o que está claro é que a Disney vem depositando cada vez mais fichas no seu serviço de streaming, cujo crescimento impressionante – 60 milhões de assinantes em apenas nove meses de operação – foi catalisado pela pandemia.
Quem ganha na “guerra” das plataformas é o consumidor (e também o mercado produtor), que terá mais opções para colocar na telinha, a hora que quiser.