O esvaziamento das ruas provocado pelas medidas de isolamento social por causa da pandemia ampliou a insegurança em relação ao risco de furtos e saques tanto do comércio que está de portas abertas como o de portas fechadas. Quem circula em ruas importantes do varejo da capital paulista, como a Oscar Freire, no bairro dos Jardins, encontra uma sequência de lojas de grifes de luxo isoladas por tapumes.
Desde o dia 7 abril, a loja da TVZ da Oscar Freire, por exemplo, está coberta por tapumes. A medida, tomada para a única loja de rua da marca, foi por questões de segurança, diz a coordenadora de marketing da rede, que vende artigos de vestuário, Edina Saueressig. “Como a loja é toda de vidro, desta maneira evitamos vandalismos e furtos.”
O quadro se repete a poucos metros dali, na mesma rua, com as lojas Vivara, Eva, Reserva e Anacapri, que optaram pelos tapumes por questões de segurança, informam as marcas. As lojas Calvin Klein e Rosa Chá, da Oscar Freire, também estão escondidas sob tapumes. Procuradas, essas empresas não se manifestaram.
Sérgio Sabino, gerente comercial da Rental Star Tapumes, voltada para colocação de tapumes metálicos em obras de grandes construtoras, conta que depois da pandemia teve uma demanda fora do normal para prestar esse serviço em lojas fechadas. “Antes, a demanda para colocar tapumes em lojas era esporádica e existia quando ia ter uma reforma. Agora está sendo para proteção da loja”, explica.
O medo de invasão e de furtos também preocupa polos de comércio popular, só que nessas áreas os obstáculos são diferentes. São usadas cercas, grades e barreiras de contenção para evitar arrombamentos, além seguranças disfarçados na frente dos estabelecimentos. “Depois da pandemia, minha loja foi invadida duas vezes”, conta Marcelo de Carvalho, dono da Mototex, que vende uniformes. Ele também é diretor do Sindilojas, que reúne 30 mil varejistas da cidade.
Luciano Caruso, diretor geral da Hagana Tecnologia e Segurança, conta que, desde de março, tem registrado crescimento de 250% de furtos em lojas, monitoradas eletronicamente pela empresa. “As ocorrências são principalmente nos comércios do centro, na região da 25 de Março.”
A loja de Monteiro, do Sindilojas, que foi furtada fica na região central. “Estou na Avenida Tiradentes, nas barbas do quartel da Rota, o que dá uma sensação de segurança”, reclama o empresário. Com as ruas do centro vazias, ele conta que outros lojistas da região enfrentam problemas semelhantes de furtos e reforçaram a segurança com cercas e alarmes. “O policiamento hoje é para fechar loja”, diz, em alusão às regras do isolamento social.
O tenente-coronel da Polícia Militar de São Paulo Emerson Massera admite que o perfil do policiamento e dos crimes mudou com a pandemia. Caíram significativamente as ocorrências de furtos, sobretudo de celulares, e aumentaram as ocorrências de reclamações sobre aglomerações de pessoas, funcionamento irregular de comércio. “Mas aumentamos o patrulhamento nas ruas de comércio”, frisa. No entanto, como os furtos são crimes de oportunidade, o policiamento pode não ser suficiente para inibi-los, argumenta. “Não temos como deixar um policial em cada loja.”
Saques
Sem revelar as estratégias, Massera diz que, desde o início do isolamento, a PM traçou um plano de policiamento para a cidade de acordo com as três fases de evolução da pandemia. A fase inicial, de contágio: a segunda, a da transmissão; e a terceira, marcada pelo caos no sistema de saúde, que pode levar ao “lockdown”. “Temos uma estrutura pensada para que criminosos não se aproveitem disso para fazer algumas ações, como saques, principalmente em supermercados, farmácias, postos de combustíveis, caixas eletrônicos.”
Temendo o “lockdown” e os efeitos dessa medida, supermercados, especialmente aqueles com lojas na periferia da cidade, acompanham de perto os movimentos sociais e têm estratégias específicas para reforçar a segurança. Marcio Mota, diretor de operações do supermercado D’Avó, com dez lojas na periferia de São Paulo, conta que logo no começo da pandemia teve uma tentativa de saque na loja do Itaim Paulista (zona leste). “Fechamos a loja antes de se concretizar o saque.” Segundo o executivo a empresa não aumentou o número de vigilantes nas lojas, mas “mudou as práticas” para evitar o saque. No entanto, não descarta ampliar o quadro de vigilantes se for preciso.
“Não adianta colocar mais segurança no supermercado”, afirma Ricardo Roldão, presidente do Roldão Atacadista, com 35 lojas no Estado de São Paulo. Depois de uma tentativa frustrada de saque na loja da Avenida Marechal Tito, na zona leste, ele contratou uma consultoria israelense para traçar um plano estratégico. “Fomos buscar inteligência para prevenir manifestações”, diz. Na opinião do empresário, aumentar a segurança, colocando pessoas armadas dentro das lojas, pode resultar em tragédia.
Também a rede de supermercados Hirota, com 40 lojas, não aumentou o número de vigilantes. Por enquanto, acompanha semanalmente os movimentos sociais da vizinhança. Hélio Freddi, diretor da rede, observa que houve aumento do número de moradores no bairro de Santa Cecília, no centro, onde tem loja. “Mas, se precisarmos, buscaremos reforço de vigilantes”, diz o executivo, que tem 70 funcionários dedicados à segurança.
Empresas especializadas em segurança registraram aumento da procura de redes de varejo por seus serviços. Cesar Leonel, diretor regional de operações da Verzani&Sandrini, conta que aumentou em 15%, desde o início da pandemia, a demanda de empresas do comércio por projetos de segurança. Esses projetos combinam tecnologia e vigilantes. Os setores que mais estão atrás desse tipo de serviço são redes de supermercados e farmácias. “Neste momento, a procura por esses serviços é pura precaução”, frisa.