A Olimpíada pode ter ficado um pouco mais distante. Mas, mesmo com o adiamento dos Jogos de Tóquio, Rayssa Leal terá apenas 13 anos em 2021 e, se conquistar a vaga olímpica, será uma das mais jovens da história no megaevento esportivo. Hoje com 12 anos, a skatista brasileira divide seu tempo entre ser criança e ter sonhos de adultos. Concilia as brincadeiras típicas da idade e os estudos com os treinos e as competições internacionais.
“Eu penso em estar lá com a minha família, em ver todo mundo brincando e torcendo por nós, brasileiros”, diz a menina ao Estado, projetando a Olimpíada. “O Brasil está com muita força no skate. As meninas e também os caras estão andando muito. Então, acho que com certeza vai dar medalha de ouro para nós.”
A confiança elevada e o discurso maduro de Rayssa contrastam com o jeito de menina, seja no sorriso espontâneo ou na disposição de manter o skate como uma brincadeira em sua vida. Mas, mesmo na busca pela diversão, ela não deixa de lado sua ambição de se tornar profissional. “Sempre numa brincadeira vem um nível a mais, você começa a aprender mais manobras. Sempre acaba melhorando o nível até para treinar mesmo”, afirma.
O nível, de fato, vem melhorando cada vez mais. Desde que despontou nas redes sociais em 2015, quando fez sucesso justamente neste contraste entre a infância e as manobras radicais (ganhou até o apelido de “fadinha do skate” por usar uma fantasia), Rayssa vem brilhando nas competições internacionais. Hoje é uma das melhores do mundo na modalidade Street. E ganha elogios até de lendas do esporte, como o norte-americano Tony Hawk, com quem ela esteve em Berlim, em fevereiro, quando indicada para o prêmio Laureus, o “Oscar do esporte”.
Na ocasião, a jovem brasileira colhia os frutos da fama. Com frequência, era cercada por crianças e até adolescentes. Sem parecer deslumbrada com o assédio e os bons resultados, Rayssa se diz acostumada com os fãs. “É bem da hora estar inspirando crianças do mundo todo. E é muito legal quando elas vêm para pedir para tirar foto. Eu fico pensando: ‘meu Deus, olha só a criança vindo me pedir foto”, diz a menina de 12 anos.
Se ela se comporta quase como uma adulta no circuito internacional, a maranhense vive seu lado infantil na pequena cidade de Imperatriz. Lá joga futebol e handebol, seus outros esportes favoritos, com seus amigos. E frequenta o colégio entre uma viagem e outra. “Sempre quando estou viajando, levo o meu material da escola e o meu notebook para estudar. A escola sempre me ajuda nas provas. Pego o conteúdo, estudo e faço a prova quando chego em casa.”
O rápido sucesso de Rayssa não alterou apenas a rotina na escola Sua família precisou se adaptar às viagens e às competições, principalmente depois que o skate foi oficializado como nova modalidade do programa olímpico.
“Há dois anos tudo mudou na nossa vida. Tivemos que largar tudo de trabalho para acompanhá-la”, diz a mãe da skatista, Lilian Mendes, de 28 anos. O pai precisou largar o emprego de vidraceiro para cuidar do irmão mais novo de Rayssa, de cinco anos. “Não tinha como a gente conciliar o trabalho com as viagens. Geralmente, sou eu quem viajo. O pai vai algumas vezes, quando eu preciso ficar com o pequenininho. Meu trabalho agora é só acompanhar ela mesmo.”
São as premiações e os patrocinadores de Rayssa que sustentam a família. “E tem também a ajuda do COB (Comitê Olímpico do Brasil). Graças a Deus é o suficiente para competir e viajar”, explica Lilian ao Estado.
Na sua avaliação, a jovem atleta, apesar da maturidade precoce, ainda não tem idade suficiente para ter consciência do significado de disputar uma Olimpíada. “Às vezes a gente comenta que ela ainda não tem ideia do que está acontecendo com ela. Ela leva tudo muito na brincadeira, essa responsabilidade grande de estar na Olimpíada ainda não bateu na cabeça dela. Mas ela fica alucinada quando fala de Olimpíada. Quer muito conquistar a vaga ”
Nestes dois anos em que Rayssa despontou para o mundo, a mãe avalia que o skate trouxe outros benefícios para a menina. “Hoje ela está bem soltinha. Antes, tinha muita vergonha. Não conseguia dar uma entrevista. Se perguntasse qualquer coisa, ela só dizia ‘sim’ ou ‘não’. Agora ela interage mais com todo mundo. O skate tem ajudado bastante. A gente fica até um pouco assustada com a mudança.”
Diante das novas responsabilidades, a atleta vem recebendo apoio psicológico, garante a mãe. “Ela é acompanhada pela psicóloga da seleção. A psicóloga vem fazendo um trabalho bem legal com a Rayssa. Não temos um contato pessoal com ela. Mas a Rayssa faz chamadas de vídeo e tem ajudado bastante.”