O Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas, a partir desta quarta-feira (1º), está habilitado para a realização de diagnóstico da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Os testes para a detecção foram desenvolvidos pela força-tarefa Unicamp contra o coronavírus, liderada pelo professor Marcelo Mori, do Instituto de Biologia (IB).
A equipe destaca que os testes ainda não começaram a ser realizados. A condução será realizada pelo Laboratório de Patologia Clínica do HC e pelo professor Alessandro Farias, coordenador da frente de diagnósticos da força-tarefa.
Quando iniciada, segundo o coordenador de comunicação da força-tarefa, professor Henrique Marques-Souza, a testagem será realizada nos pacientes internados e nos profissionais de saúde. “A prioridade são as pessoas que estão na internação, pois elas precisam seguir em um protocolo de cuidado específico para a Covid-19”, pontua o docente ao Portal da Unicamp.
Desse modo, o foco inicial será dentro do HC. “É preciso verificar se as pessoas têm ou não o vírus para distribuir os leitos”, explica. O professor elucida que, diferentemente da maioria das doenças, a enfermidade nem sempre causa sintomas. No entanto, mesmo pessoas assintomáticas podem contaminar outras.
“Pode haver nenhum sintoma ou todos os sintomas. Se eu não consigo olhar pelo diagnóstico visual, com a pessoa acamada, como eu identifico que a pessoa está com o vírus e que é preciso isolar? Por teste. Por isso, também existem um esforço geral para que os profissionais de saúde entrem na prioridade de testagem, para sua própria segurança e dos pacientes não infectados”, acrescenta.
Testagem
A expectativa, após a focalização na demanda interna, é que a capacidade de realização de diagnósticos seja ampliada. “Conforme formos conseguindo maior capacidade de testes, existe a possibilidade de expansão”, afirma o docente. Para que isso aconteça, fatores como a importação de reagentes e a captação de recursos precisarão ser superados.
Como poucas empresas fabricam estes reagentes no Brasil, a importação é necessária. “Os reagentes são importados. O que acontece é que o mundo inteiro está em guerra contra o coronavírus comprando as mesmas munições [os reagentes]. E além disso, ao depender da importação, dependemos do transporte e da mobilidade, o que está afetado pela pandemia”, avalia o professor Henrique Marques-Souza.
Para o docente, isso mostra que os governantes e as organizações do setor produtivo deveriam fomentar a criação de empresas de insumos e serviços de biologia molecular no país. “É estratégico para o Brasil ter uma frente própria que alimente a ciência nacional”, ressalta.
Projeções
As perspectivas, no entanto, são positivas, na medida em que há uma conjugação de esforços de diversos setores para suprir as demandas necessárias para o combate da pandemia causada pelo novo coronavírus.
Em relação à captação de recursos, por exemplo, Henrique Marques-Souza cita os editais de incentivo à pesquisa contra a Covid-19, com liberação de recursos, além do entendimento de empresas de que é preciso investir na luta contra a doença. “Quanto mais as empresas ajudarem os cientistas a reduzirem os impactos da pandemia, menos eles vão sofrer por conta dos danos econômicos. Então, está todo mundo caminhando na mesma direção”, avalia.
Em um cenário ideal, pontua o professor, o controle da pandemia passaria por testar todas as pessoas. Na impossibilidade, a principal medida para o controle da doença segue passando pelo isolamento, até para evitar a superlotação dos hospitais.
“Se tivéssemos um teste para todas as pessoas do País, não iria precisar do isolamento social. O problema é que não temos a como testar todos. Então, na dúvida, é melhor isolar todo mundo do que correr o risco, até porque cada pessoa contaminada passa para outras 2,5 pessoas, em média”, alerta.
Instituto Adolfo Lutz
O credenciamento do HC foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo desta quarta-feira (1º). O comunicado também habilitou para o diagnóstico da COVID-19 a Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto.
Com isso, estima-se que haja um desafogamento na fila de exames do Instituto Adolfo Lutz (IAL), o laboratório referência no Estado para a detecção da enfermidade. O IAL, até esta terça-feira (31), possuía uma fila de 14 mil testes aguardando resultado.