Como disse Roberto Carlos em Jovens Tardes de Domingo, o tempo passa tão depressa, mas já faz 45 anos que o período natalino é marcado pelo especial do ‘Rei’ exibido na TV Globo. Quem diz que a atração há muito não traz novidades no formato terá poucos argumentos para justificar a afirmação em 2019. Roberto Carlos – Além do Horizonte, que vai ao ar na próxima sexta-feira, 20, às 22h21 (conforme a grade divulgada pela emissora), começou a ser produzido em março e reúne três apresentações diferentes, registradas em Nova York, Lisboa e Curitiba.
Pela primeira vez, momentos do cantor na estrada, passando por outras cidades como Madri e Londres, trechos de ensaios e gravações nos bastidores dos shows são exibidos no programa, com direção artística de LP Simonetti e direção-geral de Mario Meirelles. Uma narração do próprio cantor conduz o especial. “Nunca fiz um especial com este formato, incluindo as viagens que já fiz lá fora, os países que visitei e a importância que isso dá à minha carreira”, afirmou Roberto em material enviado à imprensa pela TV Globo.
O especial também conta com reminiscências do tempo em que Roberto dava os primeiros passos na carreira profissional, como crooner contratado da boate Plaza, no Rio de Janeiro. Era o fim dos anos 1950 e o cantor tinha João Gilberto como principal inspiração. Ele interpreta Maria e o Samba ao lado de Erasmo Carlos, autor da música. O ‘amigo de fé’ é o artista que mais participou dos especiais – foram mais de vinte aparições.
Roberto deu voz a Maria e o Samba quando trabalhava na boate. A música foi gravada pela primeira vez este ano, em EP de Erasmo dedicado a sambas, ainda não lançado. “A maior parte de grandes sucessos tive a parceria de um cara que esteve sempre ao meu lado”, anunciou Roberto durante a gravação em Curitiba, no mês passado, reforçando a importância de Erasmo em sua carreira, apesar de as canções assinadas em parceria terem ficado raras ao longo dos anos 2000.
Grandes clássicos de Roberto não ficam de fora do programa deste ano. Além do Horizonte, Esse Cara Sou Eu, Emoções e Lady Laura são algumas das que integram o repertório.
Não há paralelo na história da música popular de um programa de TV apresentado por um cantor que esteja sendo exibido há tanto tempo. Sinal de que a popularidade de Roberto permanece em alta. De 1974 até 2019, ele deixou de gravar o especial apenas em 1999, ano em que morreu sua mulher, Maria Rita.
O professor e historiador Paulo César de Araújo, autor da biografia Roberto Carlos em Detalhes (2006), fora de circulação por um acordo judicial firmado entre Roberto e a Editora Planeta, de O Réu e o Rei (2014), e atualmente preparando novo livro sobre o cantor previsto para sair no ano que vem pela editora Record, lembra que a TV Globo queria contratar Roberto desde os tempos em que ele apresentava Jovem Guarda ao lado de Erasmo e Wanderléa na TV Record.
Antes de ir para a emissora carioca, Roberto fazia aparições fixas no programa de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi. “Ele já era o maior cantor do Brasil e havia uma superexposição. A TV Globo queria um programa semanal, mas Roberto preferia um anual. Ao contrário do tempo em que estava na TV Record, em que ele trabalhava muito e não ganhava tanto, na TV Globo ele iria trabalhar menos e ganhar mais.”
O biógrafo conta que os primeiros especiais de Roberto tinham uma função quase educativa. Em 1976, por exemplo, Aracy de Almeida mostrou aos jovens que era mais do que uma jurada ranzinza que reprovava calouros do programa de Silvio Santos e lembrou os tempos de cantora ao interpretar Conversa de Botequim, de Noel Rosa e Vadico, com o anfitrião. “Ao mesmo tempo que mostrava os sucessos do momento, ele também dava informação. O especial ajudou a solidificar o repertório da música brasileira para quem não tinha acesso a ela”, ressalta Araújo.
O tempo foi passando e, cada vez mais, o especial de Roberto foi adotando o conceito de “show filmado”. Mas ainda é possível tirar alguma informação dele. A música inédita cantada com Erasmo é prova disso.