“Quem não gosta de samba bom sujeito não é / É ruim da cabeça ou doente do pé / Eu nasci com o samba, no samba me criei / E do danado do samba eu nunca me separei”, cantava Alcione. Troque a palavra “samba” acima por bloco e dá para entender o quanto o carnaval de rua paulistano tem atraído pessoas de todas as idades e se diversificado.
E a porta de entrada para a folia no domingo de Momo foi a mesma de tantos outros carnavais: as marchinhas. Foram elas que embalaram talvez a maior concentração de super-heróis, personagens de desenhos e de videogames por metro quadrado no bloco Gente Miúda, em Perdizes. Ele reuniu os pequenos foliões em meio a uma chuva de confete, espuma e serpentina. “Animar e envolver as crianças nesse universo, de maneira lúdica, é o objetivo”, disse uma das produtoras do evento, Daiana Alves.
Grande parte dos foliões de primeira viagem, aliás, tomou a Faria Lima, ali perto, e aprovou o clima familiar do Bloco Madalena. “Eu tinha medo, receio da bagunça, mas me disseram que era tranquilo. Assim, aprendo a brincar o carnaval sem susto”, disse a estudante Natali Dantas. “É a minha primeira vez também. Assistia na TV e morria de vontade”, completou a também estudante Magiele Reis, de 20 anos.
Na zona oeste, aliás, os novatos tinham lugar reservado. Também com clima de matinê, o Jegue Elétrico se vestiu de personagens de histórias em quadrinhos, piratas e bailarinas. Só que a corda de isolamento era usada por crianças pequenas e idosos. “Trouxe o meu netinho. Acho que, para trazer criança, você tem de pegar o início do bloco. Depois fica complicado”, disse Selma Abigail, de 61 anos.
Entre a política e a festa
Nos blocos mais “adultos” ou “veteranos”, a crítica política se misturou ao clima de festa em cortejos como o do Explode Coração, que pelo terceiro ano levou às ruas Maria Bethânia como “trilha sonora” e deixou a Praça da República arrastando mais de 100 mil foliões pelo centro de São Paulo. Ali a homenagem ao álbum Alteza, de 1981, ocorreu em meio a lembranças da vereadora Marielle Franco e manifestações, com pessoas entoando “Ele, não”
Também em blocos como o Ritaleena, na Mooca (zona leste), não faltaram rapazes de rosa e meninas de azul, em clara citação às polêmicas iniciais do governo Jair Bolsonaro. “Este é um bloco feminista, cuidem das amigas”, alertou desde o início a diretora musical, a cantora Alessa.
Enquanto isso, no Ibirapuera, o clima era só de festa, sob o comando de Michel Teló. A chuva, que pelo segundo dia encharcou foliões em cortejos nas zonas sul e leste, não chegou ao parque e o público “se acabou no arrocha” ao som de Ei, Psiu Beijo Me Liga, e Ai Se Eu Te Pego. No setlist, não faltaram modinhas de carnaval e o hit do verão: Jenifer.