A Polícia Civil do Rio Grande do Sul prendeu nesta quarta-feira (1), em Piracicaba (SP), a influenciadora “Japa”, apontada como um dos principais alvos da Operação “Modo Selva”, que visa desarticular uma sofisticada organização criminosa especializada em fraudes eletrônicas, a qual utilizava uma “deepfake” (síntese de imagens e sons humanos, baseadas em Inteligência Artificial), da modelo Gisele Bündchen, para anunciar, falsamente, produtos da PRINCIPIA e da FARM.
No Estado de São Paulo, além de Piracicaba, teve um mandado cumprido em Hortolândia. Os outros estados alvos da operação são Santa Catarina, Pernambuco, São Paulo, Bahia e o próprio Rio Grande do Sul. Em Piracicaba, a prisão da influenciadora foi realizada com apoio de policiais civis da DEIC.
A polícia sul-riograndence, segundo a delegada Isadora Galian, da Delegacia de Polícia de Investigações Cibernéticas Especiais, vinculada ao Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos – DERCC -, a Polícia Civil chegou à quadrilha, através de uma investigação que teve início em 2024, depois que uma mulher registrou um Boletim de Ocorrência relatando que havia sido ludibriada por uma campanha publicitária que prometia um “kit antirrugas grátis” da marca PRINCIPIA, supostamente endossado pela modelo Gisele Bündchen.
Porém, a quadrilha oferecia o produto grátis e cobrava somente o pagamento do frete. No caso da vítima, ela pagou em torno de R$45,00 pelo frete e, na verdade, descobriu que o produto era inexistente.
A investigação revelou um modus operandi que combinava alta tecnologia com técnicas tradicionais de lavagem de dinheiro. O esquema funcionava em várias etapas coordenadas:
Primeira fase – Criação do conteúdo fraudulento: Utilizando redes generativas adversariais (tecnologia de deepfake), os criminosos produziam vídeos falsos de celebridades promovendo produtos inexistentes. Além de Gisele Bündchen, também foram encontrados materiais fraudulentos usando a imagem da apresentadora Angélica Huck, Juliette, Maísa e Sabrina Sato.
Segunda fase – Divulgação massiva: O conteúdo era divulgado através de perfis falsos nas redes sociais, especialmente no Facebook e Instagram. Um dos perfis principais utilizava o nome fictício “Dra. Bianca Oliveira”, criado com dados completamente falsos e conexão através de VPN americana para ocultar a localização real dos criminosos.
Terceira fase – Captura das vítimas: As pessoas interessadas eram direcionadas para sites fraudulentos, onde forneciam dados pessoais e realizavam pagamentos via PIX através de gateways de pagamento controlados pela organização.
Quarta fase – Lavagem do dinheiro: Os valores eram processados através de empresas fantasmas e contas de “laranjas”, incluindo idosas de 80 e 84 anos que tiveram suas identidades utilizadas sem conhecimento.
OS PERSONAGENS DO ESQUEMA CRIMINOSO
Levi Andrade da Silva Luz – O “Cérebro” da Operação Identificado como o líder intelectual do grupo, Levi era responsável pela criação dos deepfakes e pelo desenvolvimento de toda a estrutura técnica dos golpes. Mais preocupante ainda, ele havia criado uma espécie de “universidade do crime digital”, através do perfil @modoselvaoficial no Instagram, onde ensinava
outras pessoas a se tornarem “predadores digitais”. Por isso o nome da Operação “MODO SELVA”.
Lucas Tiago Oliveira de Cerqueira – O “Operador Financeiro” Conhecido pelos demais como “LB”, Lucas era o responsável pela articulação financeira de todo o esquema. Ele controlava múltiplas contas bancárias e coordenava a movimentação dos valores obtidos com os golpes.
Leonardo Sales de Santana – O “Facilitador de Pagamentos” Leonardo controlava o gateway de pagamento ELITE PAY, que processava as transações fraudulentas. Sua empresa tinha um histórico terrível no site “Reclame Aqui”, com 1.130 reclamações em 12 meses e apenas 30% de resolução – um contraste gritante com instituições financeiras sérias que mantêm índices
superiores a 90%.
Lais Rodrigues Moreira/Piracicaba (SP) – A “Influenciadora do Crime” Conhecida como “Japa”, Lais utilizava seus mais de 110 mil seguidores para impulsionar os golpes e promover jogos de azar ilegais. Ela funcionava como uma “multiplicadora” do alcance criminoso – quando os golpistas criavam conteúdo fraudulento, simplesmente a marcavam nas publicações para que aparecessem em seu perfil, atingindo dezenas de milhares de pessoas.
Os crimes investigados são os de Estelionato com fraude eletrônica, Organização Criminosa, Lavagem de dinheiro e Contravenção penal – jogo de azar.

