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Voto dividido e famílias em pé de guerra

Os almoços em família não têm sido os mesmos desde que o jovem engenheiro agrônomo Elliton Aguiar anunciou que, desta vez, iria votar em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente. A decisão, tomada de supetão após assistir ao capitão reformado participar de entrevista no Jornal Nacional, abalou parte de seus familiares. “Aqui é complicado, o pessoal é muito lulista”, diz ele, que agora anda batendo boca com a irmã e um primo nos convescotes domésticos toda vez que a conversa descamba para a política.

O único a cerrar fileira com Aguiar é seu avô, dono de terras e ex-secretário de Limpeza Urbana da cidade de Chapadinha, quase na fronteira entre o Maranhão e o Piauí. “Ele sempre foi de direita, nunca votou no Lula, sempre achou que esse negócio de Bolsa Família ia estragar o povo”, afirma Aguiar, orgulhoso da tenacidade do avô diante da onda vermelha que varreu essa parte do Brasil desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu a rampa do Planalto pela primeira vez, em 2003.

Na quarta-feira passada, dia 12, ele inaugurou o primeiro e único comitê de Bolsonaro nesta parte do Maranhão. Em uma pequena sala com duas mesas, cinco cadeiras, uma geladeira e um banheiro, espalhou adesivos, botons e camisetas do presidenciável do PSL. “Eu sou voluntário, mas a estrutura aqui está sendo financiada por um grupo de empresários da cidade”, diz, ele mesmo parte da elite empresarial da pequena cidade de 70 mil habitantes.

“Eu tenho uma empresa de eventos com mais alguns amigos, fechamos um acordo com um deputado estadual, mas aqui estou de graça, porque acredito mesmo em Bolsonaro para mudar o Brasil, não aguentamos mais a corrupção e esses programas que fazem o povo não querer saber de trabalho, só de ter filhos”, diz ele, recém-formado no campus da Universidade Federal do Maranhão em Chapadinha, criado na gestão do agora candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, quando ministro da Educação.

A sala onde está instalado o comitê foi cedida por um dos muitos empresários desse que é um importante polo econômico na divisa do Maranhão com o Piauí e vem se transformando em uma nova fronteira agrícola do Estado. “Aqui em Chapadinha, eu diria que 90% dos empresários estão com Bolsonaro”, diz Gaudêncio Gomes, o dono da pequena saleta e de um supermercado, um hotel e uma lotérica na cidade.

A exemplo de Gomes, boa parte dos eleitores que antes votavam em Lula integra a elite econômica da cidade – que deu a Dilma sua maior votação proporcional no segundo turno das eleições de 2014 – e não se beneficiou de programas sociais como o Bolsa Família

Ele decidiu criar uma espécie de propaganda subliminar em apoio a Bolsonaro, mas sem exatamente citar o nome do candidato, para não ter problemas com a Justiça. Em propriedade da família, às margens da rodovia que liga Chapadinha ao Piauí, instalou um outdoor com o lema do governo militar na década de 70: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. “A ditadura só foi ruim para quem era ruim”, diz.

Mas há também gente das classes mais pobres, beneficiados por programas de transferência de renda que decidiram abandonar o lulismo e se bandearam para os lados de Bolsonaro. Em geral, são eleitores mais jovens e que veem no capitão reformado uma saída para os escândalos de corrupção que assolam Brasília. Marcos Gonçalvez, de 23 anos, funcionário da balsa que transporta carros e caminhões sobre o Rio Parnaíba, a divisa natural entre o Maranhão e o Piauí, vota em Bolsonaro, a despeito dos protestos de toda a família. “Desde que escolhi o Bolsonaro é assim, todo mundo me critica, até minha mulher.”

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