A segunda cúpula entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, terminou nesta quinta-feira, 28, sem acordo sobre a desnuclearização da Península Coreana. Para analistas, o fracasso coloca em risco todo o avanço obtido nas negociações com a Coreia do Norte e na primeira reunião entre Kim e Trump, no ano passado, em Cingapura
A reunião em Hanói, no Vietnã, foi interrompida abruptamente. Até aquele momento, autoridades dos dois lados esperavam que a reunião fosse capaz de dar resultados mais concretos do que o primeiro encontro em Cingapura.
Para John Ciorciari, diretor do Centro de Política Internacional da Gerald Ford School of Public Policy, da Universidade de Michigan, a ausência de progresso não surpreende. “As partes não estavam perto do ponto de avanço. A reunião foi prematura. Isso deu a Kim uma chance de pressionar Trump por concessões com poucas perspectivas de avanços substanciais na Coreia do Norte”, afirmou.
Segundo Trump, a Coreia do Norte exigia a retirada completa das sanções econômicas para avançar no programa de desnuclearização. Por outro lado, o ministro de relações exteriores norte-coreano, Ri Yong-ho, afirmou que a exigência foi pela retirada de algumas sanções – e não todas, contradizendo o americano.
“Parece que os dois julgaram mal um ao outro. Kim pode ter calculado que Trump, ávido por uma vitória em política externa, o recompensaria com o alívio de sanções”, escreveram as analistas de Coreia Sue Mi Terry e Lisa Collins, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS). Já Trump, segundo elas, pensava que Kim havia aceitado negociar graças a sua política de pressão. “Nenhuma das expectativas foi confirmada em Hanói”, disseram. Segundo elas, o encontro foi uma perda de energia, tempo e recursos e pode tornar as negociações mais difíceis.
Até esse encontro, Trump usava as negociações como um trunfo de sua política externa e costumava dizer que, sem ele, o mundo estaria vivendo uma guerra. O resultado frustrado da cúpula é um retrocesso para as negociações e para o discurso de Trump.
É consenso entre especialistas, no entanto, que os EUA tomaram a decisão certa em não fazer um acordo se a outra opção era um acordo ruim. Kim tem pressionado para que Trump reduza as sanções antes de desmantelar seu arsenal.
Ciorciari acredita que os dois países não têm escolha e devem seguir negociando. “A retórica pode ficar mais hostil, mas eventualmente eles voltarão à mesa de negociações”, afirma. Mesmo assim, ele vê riscos após o fracasso da cúpula. Segundo ele, a Coreia do Norte frequentemente responde a impasses diplomáticos com ameaças, para buscar concessões. “Não seria surpreendente ver mais testes nucleares após o colapso das negociações.”
No primeiro encontro, em Cingapura, Trump e Kim concordaram com um plano de desnuclearização. Para especialistas, isso só aconteceu porque os dois não definiram o que de fato significaria a desnuclearização e quais concessões seriam feitas pelos dois líderes