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Ser bom é diferente de ‘falar bonito’

Vivemos uma semana de profunda tristeza, uma semana que tivemos ‘esfregados em nossa cara’ a maldade humana, a crueldade com que somos capazes de agir contra os mais fracos, mais carentes.
Como pontuou sabiamente Michel de Montaigne: “A covardia é a mãe da crueldade”, quando somos covardes, ou seja, violentos contra o mais fraco (definição do dicionário), mostramos a crueldade guardada em nós, que estava esperando um bom ‘motivo’ para ser utilizada.

Nos chocou a crueldade contra o cãozinho de Osasco, que estava ali, frágil, sozinho, abandonado, ‘mendigando’ alimento, água, carinho, quem sabe um afago … A crueldade com ele começou lá atrás, quando decidiram deixa-lo ali. Ele, frágil, sem condições de cuidar dele mesmo sozinho, sem condições de se defender sozinho, desamparado, correndo risco de morrer de fome, de sede, atropelado, correndo o risco de ‘levar um chute’ de alguém que o considerasse um risco … Ficou ali, sozinho, recebendo o cuidado dos que trabalhavam perto dele (comida e água), provavelmente abanava o rabinho e os amava já, pois assim são os cães: ‘pacotinhos de amor incondicional’. É possível que seguisse quem dava uma mínima atenção a ele, é possível que tentasse acompanhar essas ‘fontes de carinho’ até onde conseguisse e depois voltasse para onde foi deixado, para onde estava sendo visto, cuidado, ainda que bem aquém de seu merecimento e necessidade.

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Mas, pobrezinho, isso não era nem perto do que passaria nesse final de vida… Foi considerado uma ‘sujeira’, era preciso ‘limpar o local’, pois pessoas poderiam se incomodar com a presença dele ali e pessoas “importantes” chegariam… então ele foi ‘limpado’ dali. Foi retirado dali e da terra, do mundo, com requintes de crueldade.

Eu não ousaria falar sobre os já ‘batidos’ meios usados para que ele fosse retirado dali… sabemos como foi, lemos como foi, assistimos (até onde conseguimos assistir), todos choramos, nos revoltamos, todos pedimos justiça, esperamos que ela seja feita! Justiça, não vingança! Que a Lei seja aplicada corretamente, que não regridamos mais ainda e peçamos o milenar e primitivo ‘olho por olho …’.

Mas, como ser bom é diferente de falar bonito, convido a reflexão: como é nossa compaixão com os animais? O que fazemos quando encontramos aquele cãozinho ou gatinho no sol, numa avenida, sozinho, atordoado, perdido, largado? O que faço por ele, que está sujinho, fedido, magrelo, ‘feinho’, sozinho, assustado? Que nossa reflexão possa estar intimamente ligada ao que Arthur Schopenhauer pontuou com sua sabedoria firme: “A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem. ”.
Pensemos em nós: o que fazemos por esses animaizinhos frágeis, soltos e abandonados à própria sorte? O que fazemos por aquele morador de rua que está com fome, sujo, descalço, largado ali? Julgamos, nos afastamos, temos ‘nojo’, medo ou pensamos em uma maneira, ainda que passageira e ‘pequena’ para minimizar o sofrimento de ambos?

Que tipo de ser humano somos? Aqueles que ajudam, estendem a mão, oferecem ajuda, batalham pela vida, doam seu tempo, minimizam sofrimento, tentam ou o que se afastam, não fazem mal, mas preferem não se envolver? Que até têm dó, mas têm os próprios problemas e dificuldades para resolver e não podem ‘socorrer a todos’, mas “ficam na torcida” para dar tudo certo!?

Como dizia Emily Dickinson: “Se eu puder aliviar o sofrimento de uma vida, ou se conseguir ajudar um passarinho que está fraco a encontrar o ninho… A vida terá valido a pena.”. Portanto, não nos isentemos (Isentar – isentar verbo – desobrigar-se) de ajudar, de minimizar o sofrimento de uma vida, não repassemos a responsabilidade para outrem, ‘desejando profundamente que tudo se ajeite’. Façamos a nossa parte!

Encerro com um pensamento que, espero, nos faça refletir sobre essa coluna de hoje: “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” Madre Teresa de Calcutá

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