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Seis meses antes de morrer, Lemão Corrêa deu entrevista a Edmar Ferreira

Edmar Ferreira

O atleta mais velho em atividade em Limeira nos deixou na sexta-feira. A morte de Luiz Carlos Corrêa da Silva aos 94 anos deixou uma cidade inteira de luto, afinal de contas, quantas e quantas vezes ele subiu no lugar mais alto do pódio na natação.

Exatamente em setembro passado, quando completou 94 anos, Edmar Ferreira foi até a casa desse mega atleta para contar um pouco de sua história. Lemão Corrêa foi capa da Gazeta de Limeira e durante 30 minutos foi entrevistado para a Rádio Melhor FM e para o canal do Youtube do narrador esportivo.

Leia a matéria que foi feita com Lemão Corrêa:

Não pense você, que seu objetivo é parar. O amor pela natação fala muito mais alto do que a dificuldade de se locomover na água. Luiz Carlos Corrêa da Silva é um grande exemplo para várias gerações. Um dos mais completos esportistas da história de Limeira.

Nem mesmo a pandemia interrompeu seus planos. Mesmo ficando quase dois anos sem competir, seu Lemão, como é carinhosamente chamado, tem orgulho em ser o atleta mais longevo da cidade.

Nascido em Limeira em 1º de setembro de 1928, Lemão Corrêa é um espelho para os mais jovens. Um atleta admirado não só por suas conquistas, mas pela força de vontade.

É filho do lendário Lauro Corrêa da Silva, homenageado em uma das principais avenidas de Limeira, e da professora Magdalena Munhoz Corrêa da Silva. Uma família de 12 irmãos.

Com 8 anos de idade ia ver seus irmãos Rafael e Fernando nadar no Ribeirão Tatu. Na época os estilos eram “cachorrinho” e “arrancada”. Foi então, que Fernando decidiu dar um “empurrãozinho” no caçula, que caiu no rio. “Aprendi a nadar cachorrinho na marra”, sorriu.

Casou-se em 1951, com a também nadadora Sylvia Negro Corrêa da Silva, com quem teve quatro filhos: Paulo Roberto (in memoriam), José Renato, Silvia Conceição e Fernanda. São oito netos e cinco bisnetos.

Lemão Corrêa estudou no Grupo Brasil em 1940. Foi contador, professor no Castello Branco e administrador de empresas. Foi o 1º presidente do Diretório Acadêmico XX de Maio, de 1971 a 1972 e participou do Projeto Rondon.

No futebol, Lemão Corrêa foi goleiro da Internacional de 1951 a 1953. Seu melhor jogo, segundo ele, foi o empate por 3 a 3 com o Guarani. Foi fundador do E.C Estudantes, onde se tornaria campeão amador em 1955. Foi presidente do Panathon Clube, além de diretor do Limeira Clube e do Nosso Clube. Foi nomeado pelo prefeito Mário de Souza Queiroz como presidente da comissão municipal de esportes da cidade.

Em 27/08/1950, foi campeão regional do Troféu Bandeirantes do Estado de São Paulo no Limeira Clube. Disputou os Jogos Abertos do Interior por Limeira na natação em Rio Claro, no voleibol em Campinas e no basquete em Sorocaba.

“Realmente eu era um esportista nato. Um polivalente”, disse orgulhoso.

De 1963 a 1966 foi técnico de natação infanto-juvenil do Limeira Clube, conquistando o título do interior em cima do poderoso Colégio Koelle, de Rio Claro. Segundo seu Lemão, a equipe rio-clarense era um colosso e essa foi uma de suas maiores e mais festejadas vitórias. Ganhou também o Troféu Eficiência Regional em 1963, 1964, 1965 e 1966. Foi técnico da Associação Ararense de 1967 a 1970.

Em 1987, Lemão Corrêa ingressou na equipe máster de natação do Limeira Clube. Uma de suas maiores conquistas foi a medalha de bronze nos 200m costas do Campeonato Sul-Americano de 2007, disputado na Ilha Margarita, na Venezuela. Outra forte emoção do nadador foi ter conduzido a bandeira do Brasil na cerimônia de abertura.

As homenagens continuavam e ainda em 2007, seu nome foi inserido nos troféus e nas medalhas do Circuito Unami. Ganhou o Troféu Imprensa de melhor esportista da cidade e dois troféus Fumagalli, um em 1965 como melhor técnico e outro em 1996, como campeão brasileiro máster. Ao todo, tem mais de 600 medalhas, todas elas expostas em seu quarto.

E qual é o segredo para tanta longevidade no esporte? Lemão diz que foram os cuidados de dona Silvia, que gostava de fazer costura, tricô e crochê.

“Ele me tratou bem por 66 anos. Além disso, eu me alimentava e dormia bem. A gente nunca brigou, quer dizer, eu nunca briguei com ela. Era ela que brigava comigo. A Silvia foi uma mulher espetacular, que só fazia o bem. Se dedicou muito a Casa das Crianças”, elogiou.

E o nosso entrevistado se emociona todas às vezes que fala da saudosa companheira.

“Quando deito para dormir me lembro dela e acabo chorando. Sinto muita falta dela. Quando ela nadava comigo, a gente tinha um ritual. Quando acabava a prova eu ia até a escadinha com a sandalinha, com a toalha e com o roupão para colocar nela. Aí eu ganhava um beijinho de agradecimento e quem estava na arquibancada aplaudia. Fazíamos isso sempre, era um costume. As pessoas esperavam por isso. Virou uma marca. Teve uma festa dos melhores do ano que eu entreguei o troféu para ela e ela entregou para mim. Foi inesquecível. Bons tempos que infelizmente não voltam mais”, lembrou.

Lemão Corrêa sempre gostou de provas longas e desafiadoras. Suas especialidades eram os 800m livre e os 400m peito. “A vida toda treinei duas vezes por semana e tinha pelo menos uma competição por mês. Acredito que a constância seja o segredo para nadar até hoje. Virou uma rotina e meu corpo nem sentia mais o esforço. Isso me dava ritmo”, contou.

Apesar de não gostar de médico, seu Lemão faz seus exames regularmente. Vai ao dr Fernando, cardiologista, de seis em seis meses. E o que mais ouve é: “que saúde de ferro”.

Sua filha Silvia disse que seu pai precisa ser estudado. Que não é normal um senhor de 94 anos com tanta disposição e vontade de treinar. “E ele só não está melhor por conta da pandemia. Foi duro ficar em casa nesses dois anos. Mas ele arrumava sempre um jeito”, sorriu.

Recentemente, levou dois tombos em casa e precisou de atendimento médico. Agora, recuperado, se prepara para retornar aos treinos em outubro. “Esporte é saúde e natação é a minha vida. Enquanto eu conseguir dar minhas braçadas, não vou parar”, disse com sorriso estampado no rosto.

Lemão tem as conquistas expostas na parede do seu quarto, junto com uma homenagem dos 90 anos e uma foto dos tempos de Internacional. As principais, algo em torno de seis medalhas, ele juntou todas em uma fita azul e do nada, disse assim para suas filhas.

“Essas são muito especiais e vão comigo para o caixão”. As mulheres da casa ficaram assustadas com o depoimento, mas depois ele sorriu. “Brincadeira, vou deixar de herança. Quero que vocês tenham muito orgulho do pai que tiveram”.

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