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Saúde mental em tempos de quarentena

“Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.” Carl Jung

E vamos nós falar de quarentena, isolamento, Covid-19, álcool em gel, máscaras, ficar em casa, não trabalhar, cair a renda, filhos sem aula, que pavor… que nervoso! Mas logo esse ano, logo agora que tínhamos tantos planos, tantas idéias… que nervoso ficar sem ver familiares, sem abraçar e beijar, sem tomar um café com amigos, sem trabalhar, sem andar pela rua, sem dar uma corridinha em uma loja buscar algo que falta! Somos seres humanos, seres carentes de afeto, de beijo, de abraço, de contato, somos brasileiros, somos os reis dos beijinhos, dos abraços, só quem fala a Língua Portuguesa e vivencia nosso dia-a-dia conhece a palavra saudade, sim, saudade é palavra que só a Língua Portuguesa possui, porque é muito afeto junto que não cabe nas palavras comuns das demais línguas. E saudade é doída, né?

Viktor Frankl, neuropsiquiatria austríaco mundialmente famoso, não só por seu trabalho excepcional com a Logoterapia, mas também por nos relatar sua experiência dramática após passar por quatro campos de concentração nazistas, perder esposa (grávida, à época), irmão e pais. Ele se tornou o prisioneiro nº 119.104 e recebeu tal tatuagem de identificação. O livro maravilhoso “Em busca do sentido” (sugestão para dias de quarentena) é best-seller internacional, nele podemos conhecer um pouco mais de sua história, de seu sofrimento, do isolamento e insegurança que passou e como saiu disso tudo, tendo perdido tanto, fortalecido, bem, disposto a ajudar e a não sucumbir ao medo, à angústia e à tristeza. Em dado momento de seus pensamentos o autor diz que “quem tem um porque enfrenta qualquer ‘como’” e tem razão, não é.

Temos nossos porques, todos nós. Todos nós temos aqueles que são nossos porques, nossas razões ou como eu digo ‘meu mundo, meu ar, sem eles não há razão’ e nossos porques nos ajudam a enfrentar os ‘comos’ e as circunstâncias que a vida nos apresenta muitas vezes. Essa quarentena é um bom exemplo disso, não é? Nos submetemos à ela, por nossos porques, pelo bem maior, pelo bem deles e de todos. Não que seja fácil, não que seja leve, não que seja bom, mas necessário, vital, de suma importância hoje. Questão de saúde e de sobrevivência.

Neste momento, muitos de nós reclamam do isolamento, da queda nos rendimentos, nas dificuldades que enfrentam em casa ‘presos’, na angústia que sentem, na necessidade de sair, de ter vida normal e cotidiana, de produzir. Esquecem-se que o vírus está aí e não se importa com nossas necessidades, nossas contas, nossas tristezas, nossa saudade. O mesmo Viktor Frankl nos diz que “Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida.”

Profundo e tocante, não? Podemos substituir nossos ‘ai que horror estar preso’, ‘ai que exagero’, ‘quem sustentará as X famílias que dependem de mim, mais a minha?’ por ações práticas!

Tire esse tempo para ler, para se cuidar, para se re-conhecer, sim, nosso dia-a-dia ocidental cruel e corrido nos impede de vermos e de avaliarmos o que nos tornamos, como nos modificamos, quanto nos modificamos, que tal esse tempo para um re-conhecimento de nós mesmos?

O psiquiatra Primo Paganini, que também está em isolamento preventivo, realizando consultas on-line e ajudando como pode com entrevistas e dicas presenteou-nos com uma entrevista à CNN Brasil e nela ele falava da importância do isolamento, da importância de mantermos nossa saúde mental e física bem cuidada nesses tempos duros e nos lembrava do que podemos fazer pelo outro.

Quando se referia a nós mesmos, ele disse: mantenham-se hidratados, façam refeições saudáveis, exercitem-se em casa, da melhor forma possível. Cuidem-se. Cuidem de seu emocional, não pensem em um mesmo assunto o tempo todo, não fiquem em pânico, não adiantem tragédias. Olhem para si mesmo.

Sim, nesses tempos isto é muito importante, pois evita que sejamos tomados pela ansiedade, que vem quieta, mas galopante e de nós toma conta, se não estivermos prontos a combate-la. A depressão, aquela tristeza sem fim, também é silenciosa, vem de forma quieta e mansa e se deixarmos se instala, por isso a importância de nos cuidarmos.
Quem faz tratamento psiquiátrico e psicológico, NÃO PARE, não dê pausas! Não façam isso! Não deem brechas para recaídas. Pense no caminho percorrido e no sofrimento que estão evitando passar. Converse com o profissional que cuida de você e lhe acompanha e decidam juntos o melhor caminho para dar continuidade ao tratamento.

Quem está em casa, com seus entes queridos, observe-os. É comum acontecerem mais episódios de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), dados os rituais de higienização que são muitos, a insegurança, os medos e a ansiedade que a situação traz, por si só. Não menos comum são os TAGs (Transtorno de Ansiedade Generalizada), que podem ocorrer nesta época e pelas mesmas razões que já citei e outro transtorno que tem aparecido é a Depressão. Converse com seu Psiquiatra, ouça e atenda as orientações a ti passadas por ele. Faça semanalmente sua sessão de Psicoterapia e não deixe de comentar com seu Psicólogo o que se passa com você, seus sentimentos e seus pensamentos.

Para quem está relativamente bem, que não apresenta comprometimento significativo, não julgue quem está passando por isso. Acolha a angústia do outro, incentive-o a se cuidar e a cuidar de sua saúde mental.

É importante que você tenha um cronograma diário, que inclua alimentação de qualidade, leitura, trabalho (se for possível), exercício, atividade relaxante, contato com os demais (sim, CONTATO, hoje temos WhatsApp, Skype, Video-Chamadas, abusemos desta tecnologia, enquanto os abraços não nos são permitidos).
Não se esqueçam de seus idosos: PACIÊNCIA com eles, ensinem como se faz vídeo-chamada, como se usa o Skype, peça para ouvir suas histórias, façam coisas em casa juntos (quem com eles moram).

Não adiante problema. VIVA UM DIA DE CADA VEZ. Traga e mantenha sua cabeça no hoje. SÓ POR HOJE! Só por hoje farei a quarentena… só por hoje não sairei, só por hoje… Ainda bem que o N. A. (Narcóticos Anônimos) nos ensinou isso, não?

Fale e busque ajuda, se precisar. Ofereça ajuda, se puder. Vamos exercitar toda nossa solidariedade e nosso amor nos dias de hoje.

Quem precisar tirar dúvidas, pode falar comigo no sophiarodovalho@rapidonoar.com.br ou no Skype: sophia.rodovalho.rodrigues. Responderei todos, ainda que leve um tempinho.

Encerro com um trecho de uma canção do Legião Urbana: “Só por hoje eu não quero mais chorar, só por hoje eu não vou me destruir, posso até ficar triste se eu quiser, é só por hoje, ao menos isso eu aprendi (…)”.

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