Em outubro, a combinação de chuvas torrenciais com forte ressaca fez as ondas engolirem cerca de 150 metros da faixa de areia da Praia do Tombo, no Guarujá, provocando o desmoronamento parcial de construções e mudando o perfil do lugar. Mas essa situação não está longe de se repetir: mais da metade das praias paulistas recebeu a classificação de risco “alto” ou “muito alto” de erosão em um programa de monitoramento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. A situação já motiva obras e preocupa autoridades municipais.
“Não existe nenhuma praia fora de risco no Estado de São Paulo, porque o nível do mar está subindo e, quando isso acontece, esse é um dos primeiros impactos”, afirma a pesquisadora do Instituto Geológico Célia Regina Gouveia de Souza. Ela coordena o monitoramento, realizado a cada cinco anos desde 2002.
O mapeamento classifica os riscos de erosão costeira nas categorias “muito alto”, “alto”, “médio”, “baixo” e “muito baixo”. Das 98 praias paulistas avaliadas, 51,5% estão classificadas com risco “muito alto” ou “alto”. O encolhimento da faixa de areia é causado por uma combinação de mudanças climáticas globais – que elevam o nível do mar e causam eventos meteorológicos extremos – e fatores locais, como a urbanização e outras interferências humanas.
Nas categorias “muito alto” e “alto”, encaixam-se 46,3% das 67 praias do litoral norte, 62,5% das 23 praias da Baixada Santista e 62,5% das oito praias do litoral sul. Das 98, mais de 35% estão na categoria de risco “muito alto”. Só duas praias no Estado aparecem sob risco “muito baixo”: Toque-Toque Pequeno e Santiago, em São Sebastião.
Santos
Algumas áreas extremamente vulneráveis à erosão costeira, como o bairro da Ponta da Praia, em Santos, já começaram a receber intervenções. A prefeitura de Santos iniciou em janeiro a instalação de 49 “geobags” – grandes bolsas de tecido geotêxtil com 300 toneladas de areia cada uma -, que formarão uma barreira de contenção de mais de 500 metros.
“É um projeto piloto, com instalação recente, que deve comprovar sua eficiência em alguns anos. Acreditamos que uma avaliação mais concreta deve ser obtida em 12 meses”, ressalta o secretário municipal de Meio Ambiente de Santos, Marcos Libório. O projeto tem base em nota técnica desenvolvida pelos professores Tiago Zenker Gireli e Patrícia Dalsoglio Garcia, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e é acompanhado por especialistas da National Oceanic and Atmospheric Administration, da Universidade de Maryland (EUA).
“Esse tipo de obra é muito importante, porque é um tipo de intervenção mais planejada e flexível. Em geral, quando uma praia começa a sofrer erosão, prefeituras colocam anteparos rígidos, como muros, ou blocos de granito, o pior tipo de intervenção possível”, diz Célia.
Segundo a pesquisadora, o problema com os anteparos de pedra é que eles modificam o contexto da praia, agravando ainda mais a erosão. “As pedras não deixam a areia se fixar e ainda provocam a reflexão da onda, que bate na estrutura e joga mais areia para fora.”
Soluções
As obras inadequadas causaram problemas graves na Praia de Massaguaçu, em Caraguatatuba, segundo ela. “Havia um trecho de praia com erosão localizada e o problema agora está se alastrando lateralmente para o norte e para o sul.”
O Instituto Geológico está produzindo agora um guia de obras costeiras para orientar os gestores públicos. “As melhores soluções envolvem a alimentação artificial de praias”, destaca a coordenadora. Outro projeto, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vai monitorar ao longo de quatro anos a Praia da Enseada, no Guarujá, e a Praia de Itaguaré, em Bertioga. Assim será possível determinar a influência da urbanização no padrão de erosão costeira. “A ideia é estabelecer cenários de elevação do nível do mar.”