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‘Questão fiscal é o que preocupa os investidores’, diz Morgan Stanley no BR

O Brasil não está imune às turbulências do mercado externo, mas está, contudo, mais preparado em relação a outros países emergentes para enfrentar a volatilidade, acredita o responsável pelo banco de investimento do Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema. Segundo ele, a desvalorização do real que aconteceu neste ano não foi tão grande assim em relação a outras moedas, o déficit em conta corrente é muito menor que o da Argentina, por exemplo, e o nível das reservas é muito maior. Para Zema, a principal preocupação do investidor estrangeiro em relação ao País tem a ver com a situação fiscal e de que forma ela será endereçada pelo próximo presidente. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Em meio a um cenário de turbulência global, como está o acesso das companhias ao mercado de capitais este ano?

A atividade de mercado de capitais foi muito reduzida durante o período de recessão e as empresas ficaram muito dependentes do crédito bancário. Agora, há cada vez mais empresas acessando, tanto no mercado local quando no internacional. Com a retomada do mercado de capitais, as empresas ficaram menos dependentes da relação bancária e conseguiram diversificar as fontes de financiamentos.

A cautela em relação ao crescimento global e valorização da taxa de câmbio ameaça essa atividade?

O contexto geral do Brasil ainda é muito positivo, com inflação abaixo da expectativa, não vemos pressão inflacionária no curto prazo e o Banco Central está comprometido em entregar inflação no centro da meta. A desvalorização do real que aconteceu neste ano não foi tão grande assim em relação a outras moedas. Certamente, incertezas fazem com que as empresas levem mais tempo analisando oportunidades no mercado de capitais, mas não vejo no horizonte de curto prazo a atividade diminuindo em decorrência dessa mais recente volatilidade. No curto prazo, teremos muita atividade no mercado de capitais. Tínhamos uma expectativa de que haveria uma atividade muito forte no ano passado, como de fato foi, mas que as empresas ficariam mais reticentes no ano eleitoral. No entanto, isso não se provou uma verdade. As empresas estão acessando o mercado de capitais neste ano, talvez não nos mesmos volumes do ano passado, mas o mercado segue receptivo a essas histórias. É possível que uma piora do cenário global possa afetar o apetite, mas ainda não vemos isso acontecer.

Como está o apetite externo em relação a investimentos no Brasil?

O apetite externo é muito seletivo e não serão todas as histórias que virão a mercado que funcionarão, mas o sucesso das últimas três emissões do mercado de ações (Notredame, Hapvida e Banco Inter, que abriram capital) mostrou claramente que o mercado está disposto a realizar investimentos.

O que afeta mais esse apetite, o cenário externo ou as eleições?

A eleição certamente é um fator de incerteza, mas de uma forma geral esse aspecto não afetou esse apetite ainda. A medida que formos nos aproximando de outubro, inevitavelmente esse fator influenciará mais. Eleição é uma variável importante, mas nesse momento não é a principal. O ambiente macro externo e no Brasil tendem a influenciar mais a atividade. Isso tendo em vista que hoje o mercado precifica que, quem quer que seja eleito, endereçará a questão fiscal.

E qual tem sido o interesse dos investidores estrangeiros em reuniões com as empresas?

Os investidores estão sempre interessados em entender melhor o cenário eleitoral, muito interessados em entender o momento de recuperação macroeconômica do Brasil e quão grande é a influência dos fatores externos em relação ao País. A expectativa de aumento das taxas de juros lá fora sugere alguma preocupação sobre os efeitos que haverá na economia brasileira. O Brasil não fica imune ao que acontece no resto do mundo. Contudo, o Brasil, comparado a outros mercados emergentes, parece estar muito bem preparado para enfrentar essas turbulências.

Ao contrário da Argentina, que passa por uma crise cambial e recorreu ao FMI?

Exatamente. Temos um déficit em conta corrente muito menor do que o deles e nível de reserva muito maior. Estamos muito mais bem preparados para enfrentar as turbulências globais. A principal preocupação do investidor estrangeiro em relação ao Brasil tem a ver com a situação fiscal e de que forma ela será endereçada.

Com o atual cenário de baixa taxa de juros, qual a expectativa de crescimento do mercado de capitais no Brasil?

Sem dúvida nenhuma, a taxa de juros baixa ajuda os mercados de dívida e de ações. Talvez uma mudança de patamar do mercado possa acontecer no próximo governo, com toda a “boa vontade” do mercado com esse novo governo. Poderemos ver um nível de atividade no mercado de capitais maior do que nos últimos dois anos, que já registraram uma mudança drástica do patamar de atividade.

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