… então a luta continua firme, de um lado nós agarrados à uma realidade que já não se faz a mesma, a uma situação, pessoa ou coisa que já não faz parte deste momento e de outro a vida, seguindo firme seu curso, caminhando em sua velocidade usual, não parando nunca, implacável como o tempo, fazendo com que as forças se esvaiam e se percam nos esforços mais profundos e perdidos de nos agarrarmos a algo que não ficará mais …
Quanto sofrimento, quanto desgaste, quanta batalha, quantas lágrimas, quanto suor gasto em vão! A vida segue seu curso, “(…) a vida não para, … o tempo acelera e pede pressa …” (Lenine), e machuca, causa muita dor estarmos agarrados a algo que já não faz parte daquele momento, daquela fase.
É como ficarmos parados na ‘estação anterior’, tentando fazer com que nela exista o destino que deveríamos alcançar, mas ele está na próxima … não o faremos, a menos que deixemos esta estação, que encaremos o caminho até a próxima, com suas curvas, turbulências, novidades, inseguranças, belezas e lutas…. Não há outra saída, assim é nossa vida, as estações são sempre uma fase do percurso, mas não nosso destino final.
Paramos em uma, vivemos o que precisamos viver, sorrimos tanto, choramos outro tanto, esbravejamos um pouco, nos irritamos (como dizem os jovens: que nunca?), nos acostumamos aos rostos, às vozes, estamos bem e seguros, mas, opa! … devemos rumar à próxima estação. A jornada é obrigatória, o embarque também, então, se nos agarrarmos àquela estação antiga e nos recusarmos a embarcar, ficaremos estagnados, amarrados à uma realidade que não é mais a nossa, a um mundo que não mais fazemos parte e a pessoas que não estão mais nesta fase…
Mas, e aí? É virar as coisas e fingir que a estação anterior não existiu? Simples assim? Mas como? Tanta coisa, tanta vivência, tanta emoção, tanta vida e simplesmente deixar?
Cada estação nos traz o aprendizado, os sorrisos, as lágrimas, os amigos, os sonhos, as dores, as emoções, deixam memórias, deixam marcas, nos modificam, nos ensinam, nos ajudam a seguir em frente, mais fortes, mais preparados, mais doces, mais firmes, mais suaves, mais intensos, esta é a vida!
A cada nova jornada, ficam as memórias, ficam as lembranças … ‘ “re-cordar”. Pus o hífen de propósito para destacar o “cordar”, que vem do latim “cor”, que quer dizer “coração”. Há memórias que moram na cabeça, muito úteis. Essas memórias não doem, são informações que levamos no bolso, ferramentas. Mas há outras memórias que moram no coração, são parte da gente. ’
Rubem Alves
De posse de nossas memórias todas, as úteis e as do coração, de todo aprendizado, dos rostos que traremos para sempre conosco, das pessoas que serão sempre parte de nós, dos sentimentos mais intensos, embarcamos, deixando de lado o que faz parte do passado e seguimos em frente, prontos e abertos a tudo de novo que iremos viver, mais maduros, conscientes, mais doces, mais firmes… e seguimos viagem!