Sábio Sêneca, nos deixa um alento para não sofrermos tanto com a maldade alheia, embora seja difícil pensar assim enquanto se sofre com a crueldade imposta a nós por terceiros.
Aristóteles acreditava que a bondade era aprendida pelo hábito. Dizia ele: “Quanto mais um ser humano praticar o bem, melhor ele será. E quanto mais ele praticar o mal, mais vicioso será”.
Do ponto de vista pragmático e fenomenológico, esta afirmativa está correta, mas ela nos leva a um questionamento importante: “De onde vem aquele sentimento maléfico que sentimos no olhar ou no tom de voz de quem pratica o mal”? “De onde vem o prazer irresistível da fofoca?” E, de forma ainda mais grave, “de onde vem o prazer sádico de se torturar e matar alguém?”.
A Psicologia aponta que tudo isso vem de dentro de cada um. Nascemos, dotados da capacidade de amar e de odiar. Porém, ao longo da vida, vamos sendo mais reforçados por comportamentos de ódio ou de amor, dependendo da história de vida, da criação, das vivências e vamos aprendendo a sentir mais prazer em amar ou em odiar, sim, odiar também é prazeroso para muitos, apesar de disfuncional e doentio.
Shakespeare, em uma passagem belíssima de “Rei Lear”, buscando compreender o mistério desta profunda questão – a de porque alguns seres humanos são predominantemente bons e outros maus – diz: “Deve ser por causa das estrelas a diferença de temperamento dos seres humanos. Pois, mesmo entre dois irmãos, gerados pelo mesmo pai e pela mesma mãe, quanta diferença há.”. Sim, muita diferença, mesmo, pois, apesar da criação, dos reforçadores que recebemos de nossa história de vida, devemos considerar os aspectos cognitivo-emocionais, isto é, o que eu pensei, o que eu concluí sobre a maldade e a bondade pra mim e como eu decido me comportar com os demais.
Muitas vezes, a pessoa que pratica a maldade disfarça a mesma de modo que ela mesma demore a perceber (ou às vezes nunca perceba) quão má está sendo.
Somos seres livres e dotados de livre-arbítrio, mas não somos bons e maus apenas porque queremos. Além de nossa opção pela adoção de comportamentos cruéis não podemos deixar de considerar toda a formação psíquica e de caráter dos indivíduos.
A inveja, aquele sentimento mais profundo de querer ocupar aquele lugar, de querer ter para si aquela vida é um dos principais motivadores para explicarmos a maldade… A inveja não é sentimento atual, não é coisa nova. Vale lembrar o comentário esperançoso de um conhecido sobre Lúcifer, o anjo caído, que foi expulso do paraíso porque, em um rompante de ódio e inveja, quis ocupar o lugar de Deus. Dizia ele, cheio de esperança: “Nunca pensei que haveria essa possibilidade – a de alguém conversar com Lúcifer para tentá-lo fazer desistir da ideia vingativa de competir e de ser Deus”.
É isso, em muitos casos de maldade, vemos que quem a pratica, sente uma inveja maior que sua capacidade de raciocinar sobre as consequências de sua futura ação e sobre o porquê está pensando em agir desta forma. O invejoso, não vê mais nada além de seu desejo de ocupar aquele lugar e não poupa pensamentos e estratégias para tentar alcançar seu objetivo, ainda que precise utilizar outras pessoas (que podem ter semelhante apreço à maldade) para ir à busca de seu objetivo.
A maldade é antiga, assim como a inveja o é e igualmente antigas são as técnicas utilizadas pelos maldosos e invejosos para ‘aniquilar’ sua vítima e tentar assumir seu lugar.
Desde os primórdios, a fofoca, a calúnia, o massacre velado ao outros são técnicas adotadas por estes indivíduos. Enquanto assistem o sofrimento que causam no outro, experimentam sensações de prazer e de medo de serem descobertos em sua farsa, mas continuam, pois seu desejo de aniquilar e de destruir é maior.
Ainda hoje vemos grandes maldades, bastante refinadas, saídas das pessoas mais tranquilas, boazinhas e fofas do mundo. Em tempo de whatsapp, as maldades e as fofocas ocorrem de maneira sigilosa, mentirosa, articulada e “correm” por muitos celulares e muitos grupos, atingem um número gigantesco de pessoas, até que chega no alvo marcado pelo idealizador de tudo, que sente o baque daquele comportamento e daquela maldade, que sofre com tudo e que se vê em meio a um emaranhado de mentiras. Experimenta a dor, a angústia de ter sido exposto, a raiva e a tristeza com as mentiras, a vergonha por estar sendo exposto.
Não é raro que a pessoa busque desmentir o máximo possível essas informações, queira ‘provar’ a verdade, tenha a necessidade de esclarecer os fatos, pois afinal, trata-se dela e da vida dela.
Se você está passando por situações como estas, antes de qualquer coisa, tenha a certeza que você não é o primeiro e tão pouco será o último a despertar a inveja e a maldade de outras pessoas. Esclareça o que puder, de forma assertiva, isto é, sem agressividade e sem tristeza, apenas se atendo aos fatos, deixe que os fofoqueiros façam a parte circense da história.
Em seguida esqueça a questão! Por mais dolorido que possa ter sido, por mais marcas que você possa ter acumulado, são aprendizados para uma vida, te ajudam a subir degraus em direção à maturidade.
Lembre-se: nenhum de nós está imune à maldade e à inveja. Vemos as pessoas mais boazinhas do mundo ignorando o outro e seus sentimentos da forma mais cruel possível, apenas para deleitar-se com este sofrimento e tentar diminuir um pouco a vontade de ocupar aquela vida.
Além de esquecer, apenas afaste-se de quem adotou tais comportamentos disfuncionais e doentios.
Lembre-se quem cria a fofoca e espalha é fofoqueiro e maldoso, quem apenas toma conhecimento e passa para frente também o é e quem só ouve idem. “Não há palhaço sem a plateia”, já dizia nossa avó, ou seja, não há fofoca que caminhe sem ouvidos atentos e comentários maldosos.
E por fim, avalie os danos que você teve e busque solucioná-los juridicamente, mas também emocionalmente. Não menospreze o que passou, busque ajuda Psicológica para que tudo o que você viveu possa se transformar dentro de você em aprendizado.
“Para cultivar a sabedoria, é preciso força interior. Sem crescimento interno, é difícil conquistar a autoconfiança e a coragem necessárias. Sem elas, nossa vida se complica. O impossível torna-se possível com a força de vontade.” Dalai Lama
*Texto usado como parte da construção deste artigo: “A bondade e a maldade humana”, de Psicologia em Ribeirão Preto.