A psicoterapia, que tem sua origem em conceitos da psicologia e sempre foi rodeada de tabus, ganhou destaque no período pandêmico e ainda mais atenção durante as Olimpíadas de Tóquio, quando a ginasta Simone Biles (prodígio da delegação estado-unidense) anunciou que desistiria da sua participação nas provas de ginástica artística.
A perda de pessoas queridas, sentimento de solidão, estresse na vida conjugal, profissional, entre outros, provenientes do isolamento social, combinados à falta de uma base emocional bem construída, só reforçam a importância do cuidado com a saúde mental.
Outro fator que comprova essa importância são dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que revelam que 800 mil pessoas por ano, entre 15 e 29 anos, cometem suicídio decorrente de quadros depressivos que não receberam o devido acompanhamento clínico
E ainda que existam falas que transitem entre a crença — comum, mas equivocada — de que “fazer terapia é caro” e o medo de julgamento, a naturalidade com que o tema vem sendo tratado, somada à popularização de videochamadas e surgimento de startups focadas em oferecer ‘psicoterapia sem fronteiras” tornaram possível e aumentaram a busca por cuidados com saúde mental.
De acordo com Rebeca Paes, psicoterapeuta clínica há mais de dez anos, nas primeiras sessões é comum que pacientes tragam resistências como se a indicação para fazer terapia fosse uma crítica, ou que estão enlouquecendo. Para ela, dar visibilidade e naturalizar a discussão sobre saúde mental é fundamental para quebrar os tabus que ainda rondam a psicoterapia. “Se a qualquer sintoma físico ou suspeita, procuramos um médico, por que não nos permitir o mesmo cuidado quando mentalmente esgotados, em luto, pressionados, nos sentindo deprimidos?”.
Rebeca ainda afirma que sua carteira de pacientes teve um crescimento de mais de 30% durante a pandemia, mesmo com os atendimentos sendo feitos totalmente on-line, o que, na verdade, possibilitou esse crescimento.
Caren Silveira, também psicoterapeuta clínica, relata ter percebido que os atendimentos on-line abriram mais portas para que o processo terapêutico seja vivenciado de forma mais acessível e necessária diante do cenário atual e reforça que a dedicação dos pacientes e o vínculo se formam da mesma maneira que no atendimento presencial.
A busca por um psicólogo, no entanto, nem sempre é fácil para todos, que tendem a recorrer a indicações de pessoas próximas ou terceiros E quando não conseguem, acabam desistindo e convivendo com a depressão, que, de acordo com a OPAS, atinge cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo.
Foi com o objetivo de facilitar esse contato entre psicólogos e pessoas que desejam iniciar um processo terapêutico que Michely Ciardulo — graduanda do último período de Psicologia e formada em Recursos Humanos — criou a Selfyi, startup de São Paulo, que nasce sob o lema de ‘psicoterapia sem fronteiras”.
Michely, que também ocupa a cadeira de CEO da startup, espera que a Selfyi consiga, através da tecnologia, desmistificar o acesso à saúde mental, criar uma comunidade de psicólogos e estudantes de psicologia, além, é claro de oferecer à população acesso à terapia com custos mais acessíveis do que os praticados por clínicas particulares e demais plataformas existentes no mercado.
Pensando no impacto econômico, segundo dados da (OMS) Organização Mundial da Saúde, a perda de produtividade resultante da depressão e da ansiedade, custa à economia mundial US$ 1 trilhão por ano
Nesse sentido o conceito, ESG (Environmental, Social and Governance) vem ganhando cada vez mais espaço no mundo corporativo, principalmente no âmbito Social com a criação de estratégias de bem-estar e principalmente saúde mental dos colaboradores. As empresas que desejam ter seus objetivos alcançados, se manterem competitivas e principalmente que se preocupam com o lado social da empresa, precisam estar atentas e investir no seu principal ativo: o “capital humano”.
Pensando nisso a startup desenvolveu um projeto cujo objetivo é levar a psicoterapia para dentro das organizações de forma humanizada, focada no indivíduo e suas potencialidades. O ser humano é biopsicossocial, “separar pessoal do profissional” se torna complicado, para não dizer impossível, já que ambos são parte de uma mesma pessoa.
“Fazer psicoterapia auxilia o colaborador a melhorar sua forma de se expressar e se comunicar, a conhecer seus limites, criar estratégias saudáveis de trabalho e a se relacionar melhor de forma geral”, conclui Michely Ciardulo.