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Por que tenho de passar por isso?

Não é raro escutarmos dos pacientes, em consultórios, ou de amigos em conversas mais sérias, de conhecidos este questionamento. Frequentemente passamos por situações que nos tiram o chão, que nos amedrontam, nos entristecem, nos revoltam, situações que são difíceis de aceitarmos.

Esses dias, em conversa com um amigo, escutei dele uma frase muito simples, porém de uma complexidade e de uma coerência única. Disse-me ele, ao nos referirmos a uma determinada situação: “Passamos por aquilo que temos de passar!”. É isso, nós passamos por aquilo que temos de passar, tudo o que vivemos, por pior e por mais dolorido que seja, pode ter como resultado final o aprendizado, a nova maneira de agir, a nova maneira de ver o mundo, o cuidado com a saúde, a pausa necessária para repor as energias, enfim, as situações de adversidade que passamos vêm com uma lição de melhora em forma de bônus, cabe a cada um de nós direcionarmos o olhar para os tais bônus.

Rubem Alves em seu livro “Ostra feliz não faz pérola”, conta que Nietzsche observou que gregos levavam a tragédia a sério, para eles tragédia era tragédia. “Ele se perguntou então das razões por que os gregos, sendo dominados por esse sentimento trágico da vida, não sucumbiram ao pessimismo. A resposta que encontrou foi a mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas.”

Ainda em seu livro, falando do sofrimento, ele pondera como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? Referindo-se a Beethoven e a Sinfonia nº 9 em Ré Menor, Op.125 (1822-1824).

Não quero aqui fazer uma apologia ao sofrimento, que por si só, já tende a ser evitado por nós e deve ser combatido da melhor forma possível, até que retomemos nosso equilíbrio e nossa paz, para que o sorriso possa vir de forma espontânea e natural, mas é inevitável que algumas situações nos trarão sofrimentos, medos e angústia.

Muitas destas situações de sofrimento poderíamos ter evitado, caso tivéssemos agido desta ou daquela maneira. Não o fizemos. E agora? Agora aprendemos como deveríamos ter agido e não mais retomaremos tal erro.
Outras situações ocorrem a despeito de nossa ação e de nossa vontade (por exemplo problemas de saúde), o que fazer? Cuidar da saúde, reaprender a ser saudável, a retomar o equilíbrio. Descobrir uma nova forma de viver que garante uma vida saudável e sem dor.

O sempre sábio e ponderado Ruben Alves nos diz que “A vida tem sua própria sabedoria. Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar o broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que têm que acontecer de dentro para fora.”, bem no caminho do meu amigo, não menos sábio que afirmou que passaremos por aquilo que tivermos de passar.

A diferença principal reside em como passaremos por tudo isso! Podemos reclamar, chorar, esbravejar, questionar, sofrer mais do que o necessário ou podemos enfrentar a situação que a vida nos apresenta, compreendendo que ela faz parte de nossa história, nos ajuda a escrever as linhas de nosso futuro e certamente constituem oportunidades para aprendermos.

Diante de um sofrimento existe sempre a possibilidade de contarmos com a Psicoterapia, que é o espaço e o momento destinado às nossas reflexões, às nossas dores, ao nosso questionamento e juntos, terapeuta e paciente, podem resignificar muito do sofrimento e da situação vivida, transformando esta experiência em algo edificante, com o passar do tempo.

Finalizo minha reflexão, também colocando aqui um trecho de uma conversa com outro amigo, sobre o sofrimento e a falta de equilíbrio nos dias de hoje.

Ele me contava da medicina chinesa e me explicava como os antigos permaneciam saudáveis, pois seguiam o princípio do equilíbrio. Segundo a filosofia oriental, o primeiro passo para viver em harmonia e equilíbrio com o mundo é encontrar o próprio equilíbrio e harmonia.

É preciso coragem para mudar e perseverança para manter essa mudança, mas talvez esta seja uma das grandes lições que os sofrimentos que passamos queiram nos ensinar: olhar mais para nós mesmos, buscar o equilíbrio e que muitas vezes abandonamos.

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