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Ouvir é uma arte e um ato de amor e de empatia

Nosso dia-a-dia está cada vez mais voraz, mais agitado, os diálogos e conversas têm se tornado cada vez mais rápidos, superficiais e desinteressados.

Vamos pensar: quando foi a última vez que paramos para ouvir alguém, experimentando uma verdadeira troca através do diálogo, isto é, que praticamos a escuta empática?

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Hoje em dia ouvimos ‘já prontos’ para falar logo, para mostrar rapidamente nosso ponto de vista, para agilizarmos as coisas e pode ser que essa ‘agilidade’ nos faça perder a chance de ouro de ouvir o outro, de exercitar a escuta empática, ou seja, aquela escuta que nos leva a sair de nosso universo e entrarmos no universo do outro, para entender suas dificuldades.

Ouvir não significa apenas escutar ou simplesmente estar de corpo presente no momento em que o outro fala, ouvir é mais do que isso, ouvir é a tentativa verdadeira de entender o outro, de entender sua realidade, seu problema, seu sofrimento.

“Assim, tentando abraçar sem julgamentos a experiência ou angústia alheia, essa é a tal da empatia que muitos falam, mas poucos sabem o que ela significa na prática.” Andreia Barreto de Miranda

Andreia Barreto de Miranda pontua ainda que a ação de exercitar uma escuta saudável e empática pode exercer um efeito terapêutico benéfico para aqueles que precisam de acolhimento em momentos de vulnerabilidade e dúvidas.
Expor fraquezas, medos, angústias, tristezas e dores é sinal de força daquele que expõe e sabe pede ajuda. Por isso, ouvir, adotar uma escuta empática e carinhosa é de extrema importância.

Nem sempre os problemas têm o mesmo peso para todos, aliás, quase nunca o têm. Cada um vê os problemas, sua seriedade e sofre com eles, a partir de sua história de vida, de seus medos e receios.

Devemos sempre procurar olhar com os olhos do outro o problema ou situação que ele nos traz, pois só assim teremos a dimensão do que significa para ele o que está nos contando.

Muitas vezes pode nos parecer simples e de fácil solução, mas devemos lembrar que não somos nós que estamos vivendo isso e minimizar a dor alheia além de não ajudar é pequeno e maldoso.

Muitas são as vezes que quem fala precisa apenas de uma escuta atenciosa, carinhosa, empática e que a pessoa que ouve esteja disposta a escutar e dizer “eu te compreendo, será que juntos não achamos uma saída ou pelo menos temos algumas idéias?”.

O falar é muito importante para quem sofre, para quem enfrenta problemas e ser ouvido sem ser julgado, sem ser recriminado pode ser revigorante e pode diminuir a dor e a tensão de quem vive o problema.

Cuidado com frases do tipo: “Só isso e você está assim?’, “Se eu fosse você, faria …”, “Nossa que carnaval por pouca coisa.”, dentre outras, pois estas minimizam a dor do outro e o fazem ‘desistir’ de falar.

Compreender que o peso dos problemas e das situações varia de pessoa para pessoa é muito importante, uma vez que nos ajudará a entender porque, muitas vezes existe uma pessoa sofrendo por um problema ‘mínimo’ a nosso ver.

Como diz sabia e poeticamente Rubem Alves: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil…”

Ele diz ainda, parafraseando Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…

E resume: “Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…” Rubem Alves

Encerro com um convite a reflexão, do belíssimo Rubem Alves: “É chegado o momento, não temos mais o que esperar. Ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra.”

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