Passamos muitos anos, anos demais até, diga-se de passagem, acreditando que somos um povo acolhedor, alegre, cuidadoso, afetivo, generoso, solidário e não nos permitimos ver a verdade, a dura realidade que vem aparecendo a cada dia durante esses últimos anos: somos um povo metido a espertalhão, preconceituoso, egoísta, cruel e ignorante.(Óbvio: temos exceções, mas estamos a falar da maioria. Graças a Deus por nossas exceções.).
Durante estes últimos anos vimos isto das piores formas: nossa solidariedade ficou adormecida diante da fome, diante da miséria, diante de pessoas em situação de rua. Nosso preconceito ficou claro a cada demonstração de racismo, de xenofobia e de LGBTQI+ fobia que presenciamos e não foram poucas. Nossa agressividade ficou clara com a ampla aderência às armas e aos clubes de tiro no lugar de cultura e de lazer.
Nossa alegria genuína fracassou e nos inseriu em infinitas brigas e discussões horríveis nas redes sociais, nas festas de família, nos grupos de aplicativo. Desaprendemos a conversar e a falar de nossos pensamentos, de nossas ideias, mas sim, passamos a exigir que estas fossem as válidas e as corretas e que fossem aceitas. Assistimos atônitos pessoas se machucando, brigando, atirando umas nas outras por divergirem de opinião. A alegria já era, né?
Nossa caridade mostrou que era frágil em todas as situações que soubemos de pessoas tentando lucrar em cima da dor e da tristeza alheios. Esta tragédia em no litoral de São Paulo deixou isto muito claro para nós, não é? Em meio à tragédia, morte, destruição, sede, fome, muita dor, pessoas lucrando (muito acima do lucro permitido normalmente) com venda de litros de água, de transporte e alimentos. Também, atônitos soubemos de pessoas reclamando das casas (localização destas) que serão construídas aos desabrigados, pois atrapalham a valorização de seu imóvel. Depois vimos autoridades pedindo encarecidamente que a população que está bem evite o litoral, ainda que tenha pago a viagem já. Pedindo que a população não queira ‘curtir a praia’ nesse momento de tanta dor aos demais.
Talvez precisemos repensar nossas condutas, nossas certezas, nossos ‘merecimentos’. Seria importante que olhássemos para o caminho que estamos trilhando com bastante ressalva e busquemos melhorar. Evoluir.
É chegado o momento de evoluirmos, de buscarmos diálogo, entendimento, que abrirmos mão de nossos preconceitos, de buscarmos ajudar, sem olhar a quem, de investirmos em união, respeito, cultura, paz, independentemente de nossas crenças pessoais. Que possamos melhorar enquanto povo, nação, pessoas.