O atirador de elite é uma das táticas empregadas pela Polícia Militar para lidar com situações críticas e proteger vidas que estão em risco. Em São Paulo (SP), são treinados e formados dentro do 4º Batalhão de Choque pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e pelo Comandos e Operações Especiais (COE). Apesar de possuírem a mesma função, os atiradores de ambas unidades são designados para ocasiões diferentes.
Os profissionais passam por um intenso treinamento para que a precisão do tiro seja a mais certeira possível. Mas antes de qualquer disparo, o atirador desempenha um papel fundamental para a tropa que está em solo, que é a de observador.
Observador avançado
O COE, unidade de elite da PM paulista, completou 54 anos na quarta-feira (13). São oito equipes que se dividem entre as missões. Um atirador de precisão do COE é acionado sempre que é necessário agir no enfrentamento ao crime organizado.
Ele atua em locais de alto risco, como áreas de mata e náutica, em comunidades com suspeitos armados e em explosões a agências bancárias, crime conhecido como o “novo cangaço”. Também faz a segurança de equipes em varreduras de casco de navios.
Ao chegar no local da emergência, o atirador tem autonomia para tomar a decisão técnica de onde quer se posicionar. Alguns fatores são levados em conta como a visualização do terreno, a distância para que o alvo não consiga ver o policial e um lugar em que a arma não fique na mira da tropa.
O atirador só é autorizado a disparar quando todas as tentativas de negociação com o causador foram esgotadas. Ele também protege a tropa e executa o papel de observador, passando informações privilegiadas para os policiais que estão em solo.
“Temos uma visão e equipamentos que a patrulha que está em solo não tem. Então, a gente informa toda a cena do crime para os policiais decidirem qual a melhor alternativa a se fazer naquele momento”, explicou o cabo Éder, atirador de elite do COE desde 2018.
Os equipamentos mais utilizados são o telêmetro, que mede a distância do policial ao alvo, o anemômetro, que mede a velocidade do vento para não prejudicar o disparo, a luneta de espotagem, que auxilia na observação, permitindo a aproximação da imagem em até 24 vezes, e o visor noturno que alcança uma distância de até 800 metros. Todos os acessórios, incluindo os fuzis utilizados pelos atiradores, pesam, aproximadamente, 30 quilos.
O cabo Éder se dedicou a dois anos de treinamento intenso para desenvolver confiança em suas habilidades profissionais e realizou três cursos de atirador, inclusive o do próprio 4º BPChoque, que tem duração de um mês.
“Uma das provas era acertar um alvo de três centímetros a uma distância de cem metros. É bem difícil.”, pontuou. “Um bom atirador precisa mais do que o óbvio que é ter mira e visão, é preciso estar disposto, ser dedicado e ter muito controle emocional.”
Sniper policial
Os atiradores do Gate atuam em áreas e distâncias menores, diferentemente do COE. São acionados para ocorrências que envolvem reféns, ameaças de suicídio e proteção de autoridades. Eles são conhecidos como “sniper” policial.
Um sniper, que prefere não ter a identidade revelada por questões de segurança, é atirador da unidade há dez anos. Ele lembra de uma ocorrência que participou em 2018, em que o trabalho de observação foi fundamental para libertar um refém.
“O causador estava bastante agressivo com a equipe de negociação. Quando ele saía da visão da tropa, o observador percebeu que ele dava risada, que era tudo um teatro. Então ele avisou os policiais em solo, que agiram estratégicamente para salvar e libertar a refém”.
Para atuar nas ocorrências, o policial já se escondeu dentro de casas, apartamentos, carros, veículos dos Bombeiros e até em ambulância. “O atirador de elite é uma ferramenta do gerenciamento de crise. É um tiro pontual para preservar vidas que não eram para estar naquela situação”, finalizou.