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O difícil enfrentamento do final de um casamento

Tudo começa lindo, com a troca de olhares, sorrisos, com longas conversas sobre afinidades e pensamentos semelhantes e o casal vai tendo a certeza que se ama. Ambos acreditam piamente que não conseguem viver separados e que se completam. Não há divergências, não há brigas.

Decidem pelo casamento, pois viver juntos, formar uma família, se encontrarem todos os dias é a única opção plausível de felicidade.

E vão, aventuram-se! Casam-se!

Eu costumo brincar que o casamento ocorre mesmo quando o casal volta da “Lua de Mel”, colocam as malas no chão, fecham a porta, passam a chave e pronto: “Que comecem os jogos!”.

Sim, aí sim, as coisas começam de verdade a acontecer. Quem desfaz a mala? E as roupas sujas, quem lava? Mas quem guarda as limpas? Quem irá pra cozinha? Quem guardou a escova de dente virada para baixo no Porta-Escovas do banheiro?

E passam os dias, a luz fica ligada em um cômodo o dia todo, aumentando o valor da conta de energia, na televisão só se assiste futebol, sair é quase que motivo de briga porque vai roupa nova, secador de cabelo, maquiagem, perfume e de repente o outro está de calça, camiseta e um tênis velho, aquele horroroso da época de solteiro. Saem já de cara virada, se aturando.

Vem a conta, quem paga? “Se eu paguei a energia, você paga a conta”. “Mas eu fui ao supermercado, você paga.”. Dividem. Ambos contrariados pensam: “Onde já se viu casar e dividir conta?” “Jogar na minha cara que pagou isso ou aquilo, o que pago é bem mais caro”.

E voltam mudos, respirando fundo no carro. Dormem sem falar um com o outro! Ao acordar no dia seguinte, brigas. Banheiro bagunçado, tubo de pasta de dente ‘destruído’. Almoço que não sai.

Comida pronta não dá, precisa cozinhar. Deitar no sofá caríssimo e claro: só pode ser brincadeira. Chega a fatura do cartão: que gasto é esse com roupa? Que absurdo!
Vestiu quem? Um time de futebol completo, com os reservas? Não pago!

“Áh paga, porque paguei o supermercado!” e “Paguei a farmácia”. “Gastei muito porque comprei camisetas novas pra você, pra substituir aquelas horríveis que sua mãe te deu”.

Seguimos com as discussões sem fim!

Afastam-se, cada um vai para um cômodo, a casa fica pequena demais para os dois! Minúscula. Trombam-se na cozinha tomando água, provocam-se para escovar os dentes, brigam por causa do volume da televisão.

Ele disse: “Bem que minha mãe achava que você era mimada demais e ia me falir!” e ela: “Minha mãe também falou que você não era chegado ao trabalho e que era grosso.”.

Não se falam! Dias passam, distância cresce, conversam apenas o necessário e o trivial e em tempos de internet, passam a maior parte do tempo em redes sociais, sonhando com a vida perfeita.
Até que vem a idéia: “Vamos ter um filho! Irá nos unir, nos ajudar a nos entendermos melhor…”. Beleza…combinado.

“Engravidam”, que alegria da descoberta do sexo, definir o nome, montar o quartinho, fazer o Chá de Bebê. Tudo lindo!

Nasce o bebê! Noites sem dormir, choro, distância já existia, apenas aumenta… fralda é cara, roupinha, banho, horários, uma complicação pra quem já não vinha bem.

Arrastam-se os meses e anos e a distância, a divergência de idéias só aumenta e fica maior.

O diálogo vai desaparecendo e dando lugar às brigas. O tom de voz vai subindo. Os argumentos dando lugar às acusações. Não há mais paz. Filhos que choram. Tentativas de paz que duram pouco, já não há mais como continuar e tomam a decisão pela separação.

Por mais que pareça difícil, muitas vezes esta é uma saída. Estar casado é uma decisão pautada no amor, no diálogo no respeito. Na falta de tudo isso, muitas vezes, a separação pode ser uma saída.

E aí começam brigas horríveis, quem fica com o que, quem comprou o que, quem tem mais direito, o custo com as crianças, quem é menos capaz de criar, um jogo horrível de apontar os defeitos, de “lavar a roupa suja”, não há mais amor e parece que todas as qualidades do outro sumiram, só há defeitos, sórdidos. Crianças neste meio, assistindo, perdidas a tudo isso, sem entender nada e ansiosas.

Acabou o casamento? Foi-se o amor? Não há admiração? Ok, tudo ok. Não podemos confundir tudo isso com um jogo baixo de ameaças, de acusações, de disputas de quem é o pior ou quem é o mais ‘louco’.

Já que teremos o fim, respiremos. Pensemos em tudo o que se viveu, juntos, tudo o que foi construído, juntos, nos filhos de ambos e paremos de pensarmos apenas nos “próprios direitos” e pensemos no mais justo, no mais ético, do menos danoso. Pensemos que os filhos não merecem ver pais se engalfinhando e se acusando. Não merecem estar neste meio. Não merecem sofrer. E nem vocês, o futuro ex-casal, merecem tudo isso.

Partam para um acordo consensual, busquem um advogado que possa mediar os conflitos de vocês de forma pacífica. Que os oriente na divisão de bens e de gastos de forma justa. Que lhes ajude a organizar a guarda dos filhos, que merecem conviver igualmente com ambos, pai e mãe.

Busquem ajuda psicológica para este momento. Já no início da crise poderiam tê-lo feito, mas neste momento é crucial. Cuidem do emocional de cada envolvido neste processo. Busquem melhorar, não deixem que esse sofrimento os endureça. Possibilite que tudo isso possa lhes transformar em pessoas melhores, mais fortes, mais maleáveis, mais cientes de seus defeitos e qualidades.

Busquem a melhora. Não para seu ex, não para seus filhos, mas para você, para que esteja bem. Esta melhora se refletirá em seu ex, em seus filhos, em seu trabalho, em tudo.

Em tempos de crise, pararmos um pouco, respirarmos, refletirmos e evoluirmos é fundamental.

“Quem põe ponto final numa paixão com o ódio, ou ainda ama, ou não consegue deixar de sofrer.”
Ovídio

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