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O combate à depressão na sociedade atual

Foto: Arquivo Pessoal

A depressão é conhecida como o mal do século. Estimativas mostram que, no Brasil, a doença aumentou 18% entre 2005 e 2015, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que mais de 322 milhões de pessoas sofrem com esse transtorno em todo o mundo.

Segundo os dados da OMS, o Brasil é o país com maior número de depressivos da América Latina e o segundo com maior prevalência nas Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de depressivos.

Com esses dados é possível perceber a importância dos cuidados com a saúde mental. Por isso, a equipe do Rápido no Ar conversou com a psicóloga Tânia Sales Ribeiro, de 36 anos, para entender um pouco mais sobre a doença.

Causas

De acordo com Tânia, a depressão tem infinitas causas, que vão de traumas de infância a até um ambiente violento. “A depressão tem infinitas causas; desde traumas na infância até um ambiente hostil ou violento. Essas são as raízes; uma pessoa que vivencia isso durante a infância, tem uma grande pré-disposição a desenvolver o transtorno”, disse.

Ela também destaca que tem a questão genética e a forma que ela aprendeu a lidar com os próprios sentimentos. “Sem contar que também existem os transtornos de personalidade que influenciam bastante para o desenvolvimento da depressão”, frisou a psicóloga.

Além disso, é extremamente importante esclarecer que além de ser uma doença silenciosa, ela não escolhe faixa etária e nem mesmo classe social. “A depressão não escolhe faixa etária e nem classe social, as vezes é mais difícil perceber que uma criança tem depressão mas isso é totalmente possível; a adolescência também é um período bem suscetível a doença”, diz.

Sintomas

Já sobre os sintomas ela destaca que o principal indício da doença é a tristeza persistente. “O sintoma mais conhecido é a tristeza, mas todos nós temos esse sentimento. A diferença está na frequência e na intensidade com que a pessoa sente essa tristeza”, relatou.

Porém, ela ressalta a importância de se olhar com cuidado para essa tristeza. “Mas todos nós temos períodos em que temos traços depressivos. Todo mundo vai passar por isso de alguma forma, e é aí que está o diferencial, como cada um lida com isso. Alguns vão procurar na bebida, na droga, na prostituição, em vícios no geral. Enquanto outros vão procurar no esporte, na terapia, na religião. Então, todos nós vamos ter que aprender a lidar com os sentimentos ruins de alguma forma, mas o importante é a consciência; ter a consciência do que está sentindo e do que está acontecendo. Buscar a ajuda de um profissional para se conhecer melhor e conseguir de fato entender o que está causando a tristeza, e principalmente não permitir que esse período se prolongue e permaneça”.

De acordo com ela, é totalmente possível reverter os primeiros sinais de uma depressão leve. “O problema é se a pessoa ficar ali por muito tempo, porque aí baixa os níveis de dopamina e de serotonina; baixa a motivação, começa a impactar a qualidade de vida dessa pessoa e o tratamento se torna mais difícil. E pode gerar uma depressão maior”.

Além disso, a doença traz consigo inúmeros outros sintomas. “A depressão causa uma perda da vontade de viver, acaba com a motivação profissional; afeta as relações familiares. Pode acontecer a obesidade ou a perca de peso excessiva; a pessoa começa a se isolar do mundo. Também temos a ansiedade, a angústia, a não aceitação de algum problema, muitas ruminações e dificuldade de lidar com o passado e até mesmo a perda de um ente querido”, enfatiza.

Depressão versus suicídio

A profissional evidencia a importância de cuidar de si logo nos primeiros sinais de uma possível depressão, pois o quadro pode se agravar. “Na depressão maior, que é a depressão que não é tratada, existe um risco altíssimo da pessoa se suicidar. Mas nesses casos, ela não quer tirar a própria vida, o problema é que ela não aguenta mais aquela dor interna na qual se encontra. Então ela fica sem perspectiva, ela sente que não é capaz de sair dali e aí ela não vê uma outra forma a não ser se suicidar; não é que ela quer tirar a própria vida, ela quer tirar aquela dor e a única forma que ela vê, infelizmente é através do suicídio”.

Produtividade

Segundo ela, a doença atrapalha todas as áreas da vida do indivíduo. “A depressão é a causa de maior afastamento do ambiente de trabalho. A doença interfere muito na produtividade da pessoa porque demora até ela entender o que está acontecendo com ela. E tem as pessoas que não fazem tratamento e começam a ter um rendimento muito baixo, e aí são demitidas e acabam se ‘afundando’”.

Tem cura?

A psicóloga diz acreditar na cura mesmo ela não sendo comprovada pela ciência. “Até onde estudei, não tem cura. Mas acredito que tenha sim! De forma cientifica ainda não se tem uma cura 100%, porque a pessoa pode ter se recuperado de uma depressão lá atrás, mas se ela passar por um acontecimento muito trágico, como por exemplo, uma perda muito grande, ela tem uma pré-disposição a voltar naquele estado. Por isso que a ciência não vê como cura total”, diz.

Tratamento

Sobre os tratamentos indicados, ela ressalta a importância de combinar terapia e medicação. “O tratamento mais indicado é a terapia com um psicólogo e a medicação com um médico psiquiatra. Porém, existem outros fatores que ajudam a aumentar a qualidade de vida do paciente, como por exemplo, ter uma alimentação balanceada, fazer exercícios físicos e dormir bem. Seguir uma rotina também é importante porque quando a pessoa estabelece uma rotina é porque ela tem objetivos a serem alcançados; talvez o objetivo seja perder peso para melhorar a autoestima, então ela tem que seguir focada nesse objetivo. Se ela ficar falhando, ela começa a ter aquele sentimento de incapacidade, de impotência, de desânimo e acaba não se achando capaz.
Você pode estabelecer uma rotina e entender que em um determinado dia talvez você não estava tão disposta a realizar aquela atividade e aceitar isso; é diferente de você se cobrar e achar que você não vai dar conta ou que você não consegue”, relata.

E às vezes a pessoa até conhece os tratamentos mas não tem força para se tratar. Existe isso ou não?

“Sim, a pessoa fica naquele sofrimento interno e o caso se agrava. Porque ela começa a ter uma crença errada sobre a própria vida. Ela começa a achar que já tentou de tudo para melhorar e passa a acreditar que nada vai mudar. Às vezes está em uma depressão recorrente, que é aquela depressão de tempos em tempos; a pessoa fica um período depressiva e depois volta a ficar bem, depois ela retoma esse período depressivo. Então, muitas vezes nós temos uma dificuldade de entender o que está acontecendo. Que tipo de depressão que é”, relata.

Quais são os tipos de depressão que existem?

“Existem vários tipos de depressão; tem a leve, a moderada, a grave. E também tem a depressão dentro de outros transtornos. A depressão, por exemplo, pode vim através de um transtorno de ansiedade. Tem também a depressão recorrente e vários outros tipos”, diz.

O que caracteriza cada tipo de depressão?

“Depende muito do estado da pessoa. A pessoa com uma depressão leve geralmente não busca tratamento; ela acha que é um momento e muitas vezes vai buscar ajuda no álcool, por exemplo, ‘vou sair, vou beber e vai ficar tudo bem’. Aí saí, bebe e no outro dia ela tem que lidar com aquele sentimento novamente e aí ela vai buscando meios de camuflar isso; e aí quando se percebe já vai pra um outro estado, um estado mais grave onde começa a incapacitar ela e é aí onde ela começa a prestar mais atenção e recorre a algum tipo de tratamento.
A pessoa tenta lidar de alguma forma sem entender a gravidade do que está acontecendo. Então acha que é uma tristeza por causa de um problema ou por conta de uma fase difícil. Ela não entende que precisa olhar realmente o que está acontecendo com ela”, relata.

Ela é mais predominante nas mulheres ou não?

“É mais predominante nas mulheres, porém, os homens tem uma dificuldade maior de lidar com questões emocionais. Ou seja, os homens tem outros problemas, eles são mais suscetíveis ao álcool, a droga e a violência, por exemplo. Aí você vê que a porcentagem com relação ao homem é maior com relação a isso, porque essa é a maneira que eles tem de lidar com as questões da vida”, diz .

As mulheres são mais predominantes nos consultórios?

“Sim, o homem vai menos no psicólogo e no psiquiatra, então nas pesquisas o público feminino é predominante quando se trata de depressão. Mas as mulheres são mais presentes nos consultórios porque se cuidam mais. Elas não transferem o problema”, destaca.

Isso tem algo relacionado com a diferença da educação entre os gêneros?

“Com toda certeza! Nós mulheres sempre fomos mais estimuladas a olhar pra essa questão emocional. Desde criança, quando a sociedade coloca ali pra menina que ela tem que ser amada e dar amor, que ela vai ser mãe; então você já constrói essa questão afetiva muito forte para a mulher, enquanto que para o homem não. O homem já é estimulado a ser o provedor, ele não é muito estimulado a olhar para essa questão emocional; o homem precisa mostrar mais força e é aí onde a gente vê a forma como eles lidam”, afirma.

E pra finalizar, tem algo comprovado que os problemas globais como a Pandemia e a Guerra da Ucrânia, afetam o emocional das pessoas?

“Influencia pela forma que a pessoa vê o evento. Se ela já está em um estado de depressão e está vendo a vida dela de forma muito negativa, o estado dela pode se agravar porque ela começa a ficar sem perspectiva achando que nada dá certo na vida dela”, finaliza.

Para conhecer mais sobre o trabalho dela, visite seu Instagram @taniasalesribeiro.

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