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O bizarro mundo ‘Tiger King’

Conhecido nos EUA por colecionar polêmicas, o excêntrico Joseph Allen Maldonado – Passage, ou Joe Exotic, ganhou fama no mundo todo depois que a série documental Tiger King estreou na Netflix. A produção, dirigida por Eric Goode e Rebecca Chaiklin, e que tem Joe Exotic como personagem principal, é um dos sucessos atuais da plataforma de streaming. Fanático pelos holofotes, o ex-proprietário de um parque de felinos de grande porte, em Oklahoma, no entanto, não pode desfrutar de sua popularidade em escala mundial. Joe está cumprindo prisão de 22 anos por abuso de animais (ele foi acusado de matar cinco tigres saudáveis) e por planejar a morte de sua arqui-inimiga, a ativista Carole Baskin, dona do santuário de animais Big Cat Rescue, em Tampa, na Flórida.

Os diretores partiram a campo com a proposta de investigar o universo dos criadores de animais exóticos, tendo como eixo central a rivalidade entre Joe Exotic e Carole, mas o que se revela, sobretudo para quem não conhece os personagens dessa história, é uma rede de conexão entre criadores (e adoradores) de tigres e traficantes, envolvendo ganância, dinheiro e poder.

E não há mocinhos nessa trama – nem mesmo uma ativista como Carole, que naturalmente ocuparia esse posto. Com sua voz doce e semblante gentil, ela surge, à primeira vista, como o extremo oposto de Joe. No entanto, a série reacende uma suspeita do passado: Carole matou seu primeiro marido, Don Lewis?

Milionário, Lewis desapareceu em 1997, e o caso nunca foi solucionado. Aliás, há um episódio da série todo dedicado à biografia de Carole – depois do lançamento da Tiger King, ela e o atual marido, Howard Baskin, afirmaram que a versão final da produção não é a mesma que foi apresentada a eles na época das filmagens. Sobre o fato de ter resgatado o passado de Carole, o diretor Eric Goode, em entrevista ao The New York Times, afirmou: “Senti que tínhamos a responsabilidade de examinar, até certo ponto, o marido desaparecido. E acho que, se você perguntar a Joe, ele não se sentiria explorado. Foi exatamente assim que Joe viveu sua vida. As pessoas provavelmente têm sentimentos diferentes sobre como foram retratadas, mas, no geral, acho que fomos muito justos”.

Apesar de Carole ter uma participação importante no documentário, Joe Exotic é, de fato, o grande protagonista. Ele criou uma persona que, diante de seu público, o transformava em uma figura mais fascinante do que os próprios felinos que criava Roupas espalhafatosas, boné na cabeça evidenciando seus mullets, falastrão, carismático. O documentário mostra, no entanto, que a mise-en-scène escondia, nos bastidores, um homem egocêntrico, que gosta de armas, destrata seus funcionários (e seus desafetos), e é mais preocupado com o dinheiro que seu negócio lhe rendia do que com os próprios animais. Além, claro, de passar boa parte de seu tempo ameaçando de morte, sua rival Carole, que se opunha à maneira como ele tratava seus animais.

Gay assumido em Oklahoma – Estado conservador e apoiador de Trump -, Joe chegou a ter dois maridos. Quase estrelou o próprio reality show. Lançou-se como candidato a governador, perdeu e os gastos com sua campanha o levaram de vez à ruína financeira.

Tiger King, que, no Brasil, ganhou o título de A Máfia dos Tigres, retrata uma parte dos EUA que não está no centro da atenção do mundo. E expõe personagens que parecem ter saído dos Simpsons, tamanha a bizarrice do universo onde vivem, e da forma como pensam e se comportam. Parece ficção, mas é real.

E não se trata apenas de Joe e Carole, como também de quem os cercam. Pessoas que colecionam felinos de grande porte ou animais exóticos – muitas vezes criados dentro das próprias casas -, que são fanáticos por armas, que já cometeram crime ou tiveram algum problema com a Justiça. Talvez daí o fascínio que a série causa na audiência.

São oito episódios, e o último deles traz de volta alguns dos entrevistados da série, para falar sobre a repercussão da produção. Todos a distância, já em pleno período de pandemia. Preso, Joe Exotic, claro, não deu seu depoimento. E talvez não tenha a dimensão que o documentário ganhou mundo afora.

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