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Ninguém nasce mulher: torna-se mulher

Pensei muito mesmo se escreveria falando de mulheres, na semana em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, pois sabia que teríamos lido bastante coisa, visto muitas homenagens belas, lido algumas coisas ‘questionáveis’, visto outras ruins, enfim, fiquei a pensar por uns dias… Aí vi a morte trágica de uma jovem com tanta vida pela frente, vi que ainda não entendemos a homenagem justa da Mangueira à Marielle Franco (calma, gente, as demais mulheres heroínas também são dignas e merecem homenagem, mas esse não era o enredo da escola, seria meio que ‘fugir do tema da redação’: zera), me lembrei que muitas de nós ainda ganham muito menos que os homens, pelo mesmo trabalho, com a mesma formação, me lembrei que ouvimos: ‘também, queria o que com aquela saia curta?’ ou ‘mas como não quer casar e ter filhos, que estranha’ ou ainda: ‘nossa o marido é um santo: lava louça pra ela, dá conforto, dá carro e ela ainda assim se separou’ e pensei: vou escrever sim!

Pela Mariana, pela Stella, pela Letícia, pela Maria, pela Lourdes, pela Carol, pela Laís, pela Ana, pela Raquel, pela Daniela, pela Maitê, pela Virgínia, pela Clarice, pela Márcia, pela Catarina, pela Valéria, pela Gislaine, pela Val, pela Marília, pela Bruna, pela Adriana, pela Lina, pela Elis, pela Debby, pela Silmara, por mim, por nós!

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Simone de Beauvoir tinha plena razão: “Não nascemos mulher! Nos tornamos mulheres!” Sim, precisamos ‘nos tornar mulher’ cada vez que temos de impor que sairemos sim de calça jeans e tênis, ou de saia bem curta, ou que não faremos regime para agradarmos aos ‘pretendentes’ futuros, mas que se o fizermos, será por nós, por nossa saúde, pelo nosso bem-estar, que iremos cortar o cabelo curto, porque gostamos, achamos bonito! Nos tornamos mulheres quando precisamos andar juntas pela rua em determinado horário, pois não é totalmente seguro, nos tornamos mulheres quando ouvimos ‘Áh mas vai ver que ela traiu, por isso apanhou.’ e nos indignamos com isso, tentamos explicar o óbvio a quem diz a frase, ainda que, possamos ser ‘agredidas verbalmente’ ou ‘virarmos piada’, nos tornamos mulheres quando descobrimos que temos de estudar muito, mas muito mesmo, mostrar um trabalho muito, mas muito bom mesmo, para sermos reconhecidas e ‘bem faladas’ por nosso trabalho, nos tornamos mulheres quando trabalhamos fora, levamos trabalho pra casa, cuidamos dos filhos, da casa, enquanto pensamos em soluções para os problemas do trabalho, para as contas a pagar, quando ‘operamos milagres’ para solucionar tudo isso, nos tornamos mulheres quando fazer algo por um filho se torna se torna o objetivo máximo e o fazemos por amor (não só aos nossos filhos, mas a todos os filhos). Nós, mulheres somos assim: nos unimos em nossas dores (exceto por uma ou outra, mas são acolhidas por nós, ainda assim), sofremos com uma mãe que sofre, nos alegramos com uma mãe que se alegra, nos damos as mãos, porque unidas somos mais fortes, unidas somos um grupo, unidas nos amparamos e nos protegemos. Nos tornamos mulheres, pois a vida vai nos ensinando tudo isso, dia após dia.

O dia internacional da mulher é para ser construído e comemorado, ano após ano. Digo construído, pois ainda precisamos construir um ambiente de igualdade perante os homens, sem termos de ouvir: “Áh, então vá carregar um saco de cimento, se quer ser tratada com igualdade!” ou “Quer igualdade e quer que eu pague a conta do restaurante?” ou ainda “Quer igualdade, mas quer que eu abra a porta pra ela entrar e dê flores.”. Vem cá, deixa eu perguntar: Já carregaram uma criança no útero, subindo escadas, ao final da gestação?, Já carregaram criança com febre no colo, chorando, no ônibus, a caminho do hospital? Já pegaram filho grandinho no colo, machucadinho ou às lágrimas? Daqui o saco de cimento! Ele nem pesa! Bora lá! A conta do restaurante? Jura? É tão pequeno que nem vale a pena comentar! Dividir a conta do restaurante é mole! Abrir porta do carro, a gente abre sem problemas, não requer nem mesmo habilidade! Receber flores? Muitas de nós preferem deixa-las em um lindo jardim, florindo e alegrando a todos que passam por elas!

Sabe o que seria super bom? Seria super bom respeito, seria bom sermos tratadas com seriedade, sem estereótipos, sem expectativas sobre a mulher ideal, sobre a mulher boa. Sobre como mulheres devem agir, sobre quais profissões devem seguir!

Áh, conheço mulheres caminhoneiras carreteiras que não deixam a desejar para homem nenhum, dirigem aquele baita caminhão, carregado, pesado, com maestria, cuidado, ajudam a carregar e a organizar a carga de forma incrível! Sim, é trabalho de mulher sim! De mulherão mesmo! E são mães, são lindas, vaidosas, doces! Minha total admiração a elas.

Existem mulheres acima do peso, tão lindas, tão de bem com seu corpo, tão ‘gatas’, que aquela minissaia lhe cai tão bem, mas tão bem, fica tão bonito, tão gracioso…
Existem mulheres tão magrinhas, mas tão magrinhas, mas tão de bem com seu corpo, que aquele biquíni largo, somado às pernas finas fica lindo, fica meigo, fica harmônico e alegre!

Existem mulheres tão tranquilas com seus parceiros de vida, que ficam tão bem com eles, sem rótulos, sem medo, sem receio, apenas dividindo a vida, compartilhando amor. Há mulheres tão ‘de bem’ com sua homossexualidade, que saem de mãos dadas com sua parceira de vida, de forma tão suave e tão bela e discreta, que passam leveza, tranquilidade, discrição, amor e companheirismo…

Existem mulheres tão eloquentes e tão comunicativas, que passam suas idéias, brigam por seus ideais de maneira forte, de maneira coerente e enfática. Dão voz àquelas que que são mais quietas, mais introvertidas, mas pensam e pensam coisas belas, importantes e relevantes!

Existem mulheres pesquisadoras, poetisas, atrizes, maquiadoras, vendedoras, ambulantes, médicas, empreendedoras, empresárias, mecânicas, caminhoneiras, advogadas, psicólogas, dançarinas, biólogas, políticas, engenheiras, operadoras de produção, arquitetas, matemáticas e todas, sem exceção estão certas nas profissões que escolheram, se estas as fazem felizes!

Dia 08/03 deve ser um dia para incentivarmos às mulheres a serem o que elas querem ser, assumindo as dores e às delícias de serem assim. Deve ser um dia para agradecermos às feministas, que de forma suave, brava, linda, meiga, forte nos conquistaram o direito de estudar, de trabalhar, de votar, de usar calça jeans, de expressarmos nossa opinião, de nos separarmos/divorciarmos sem sermos taxadas (muito taxadas pelo menos).

Deve ser um dia, que dar flores, bombons, anéis, jantares, poderia ser substituído por reconhecimento sincero, elogio verdadeiro, respeito, igualdade, poderia ser substituído pelo entendimento inteiro de “Não é não!”, poderia ser substituído por não dizermos que feministas são peludas, fedidas, feias, ou coisas ocas e baixas como estas. Feministas são mulheres que buscam nada mais que igualdade, apenas igualdade, não superioridade, igualdade. Não, não lutam sem depilar, não defecam em praça pública, não fazem isso. Estes estereótipos foram erroneamente atribuídos a elas. Pense bem, lhe parece que Coco Chanel teria a descrição acima? Ela era feminista! Em 1920, Coco revolucionou a moda e quebrou paradigmas, transformando moda em libertação. A estilista produziu roupas confortáveis que se traduziam em liberdade feminina. Entre as bandeiras dela está a própria calça para mulheres. O comportamento de Coco também foi um exemplo de liberdade, pois ela teve vários namorados, mas não casou com nenhum deles. E Bertha Lutz? O direito ao voto feminino no Brasil (1932) tem influência direta de Bertha, uma bióloga e educadora brasileira que nasceu em São Paulo, em 1894 e é considerada uma das figuras mais significativas do feminismo. Filha do renomado médico e cientista Adolfo Lutz, foi uma das sufragistas mais famosas.

Sua militância era inspirada nos movimentos feministas europeus. Ela também participou do comitê elaborador da Constituição, em 1934, que garantiu às mulheres a igualdade de direitos políticos.

“Se há uma injustiça e desigualdade, alguém precisa dizer alguma coisa – e por que não você? Devemos ser feministas globais e incluir homens e meninos” Meghan Markle, casada com o príncipe Harry, será que ela é peluda, defeca em praça pública ou sai nua se expondo pelas ruas? Ou só fala asneiras? Não acredite em estereótipos! Busque conhecer mais! Feministas querem apenas que mulheres e homens sejam tratados com igualdade, apenas isso! Estranho precisamos ‘brigar’ por isso, não?
Encerro com um convite a reflexão: “Dizem que meninas com sonhos se tornam mulheres com visão. Que possamos nos capacitar para realizar essa visão – porque não basta simplesmente falar sobre igualdade. É preciso acreditar. E não é suficiente simplesmente acreditar nisso. É preciso trabalhar para isso. Vamos trabalhar nisso. Juntas” Meghan Markle

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