Ícone do site Rápido no Ar

Morre Roque Del Mondo, que trabalhou 50 anos na Inter de Limeira

Homem idoso sério olhando para frente

Edmar Ferreira

Meio século dedicado a Internacional. Sem dúvida alguma, Roque Del Mondo foi uma das pessoas mais importantes da história do clube. Ele nos deixou aos 87 anos, mas deixou um legado.

Lealdade, fidelidade e honestidade andavam lado a lado desse limeirense, que não media esforços para ajudar o Leão, mesmo sem nunca ter recebido salários. “Minha recompensa foram as amizades que construí no futebol ao longo desses anos”, disse em recente entrevista a Edmar Ferreira.

Seu amor pela Internacional começou precisamente em 1949, na época em que prestava o Tiro de Guerra. O Tenente Arlindo, chefe de instrução, virou técnico da Internacional e pediu ajuda ao atirador Roque Del Mondo.

Sua missão era reunir 10 amigos de TG para buscar eucalíptos em uma fazenda da região para que a arquibancada de Vila Levy fosse ampliada. Em troca de todo esse suor, ganhou três finais de semana de folga do quartel.

Roque dificilmente perdia um jogo da Internacional em Vila Levy. Não demorou muito para se tornar um sócio do clube. Ele guardava com muito orgulho essa e outras carteirinhas.

Na entrevista, Roque lembrou que o Leão precisou jogar em Americana uma vez e que o presidente da época, Benedicto Iaquinta necessitava de colaboradores.

“Ele me convidou para trabalhar nesta partida. Chamei o amigo Dudu, que era dono de um bar, e acompanhamos o seu Dito em seu caminhão. Chegando lá, fiz tudo certinho no jogo. Cuidei da bilheteria e controlei os gastos. Apresentei até um balancete para ele. O presidente gostou tanto do que fiz, que me convidou para trabalhar na bilheteria de Vila Levy nos anos 60. Aceitei, é claro”, lembrou.

Em 1967, a Inter precisou pedir licença na Federação Paulista de Futebol para a construção do Limeirão. Mesmo assim, Roque continuou prestando seus serviços à Veterana. “Era tesoureiro e passei a cuidar do time amador. Mesmo sem futebol profissional, continuamos pagando religiosamente as taxas na Federação Paulista”, frisou.

Com o fim da “Era Benedicto Iaquinta” em 1975, Roque achou que também sairia, mas foi convencido pelo então presidente Jairo Oliveira a continuar como tesoureiro da Internacional. Em seguida virou conselheiro benemérito ao adquirir um título de sócio do Clube de Campo.

Em razão de sua humildade, lealdade e honestidade, além do profundo conhecimento do futebol paulista, Roque virou uma espécie de unanimidade no Limeirão. “Todo presidente que era eleito gostava de mim. E assim fui ficando. Foram quase 50 anos no setor de arrecadação da Internacional”.

Roque era admirado também por dirigentes de outras equipes, em especial dos times grandes de São Paulo. “Tratava muito bem os visitantes, sejam eles dirigentes, árbitros e jogadores. Quando a Inter jogava fora de casa, recebia o mesmo tratamento. A cordialidade fazia parte da função que exercia”.

Roque lembrou no bate-papo que antigamente as rendas eram divididas e por isso, acompanhava a Internacional em jogos pelo Campeonato Brasileiro. “Viajei o Brasil todo, graças ao Leão. Se desse empate, 50% para cada time. Se houvesse um ganhador, ele recebia 60% da renda e o perdedor ficava com 40%. Por ser de confiança da diretoria, cuidava da parte financeira que pertencia a Internacional”.

A maior emoção que viveu na Internacional foi o título paulista conquistado diante do Palmeiras. Roque estava no Morumbi naquele inesquecível dia 3 de setembro de 1986.

Ele contou que trabalhou no setor de arrecadação durante todo o primeiro tempo, mas que em razão do nervosismo, abandonou o posto e ficou posicionado atrás do gol do goleiro palmeirense Martorelli. “Vi os gols de Kita e Tato bem de pertinho. Foi uma emoção indescritível. Minha vontade era sair pulando, tamanha alegria, mas tinha que me conter, afinal, era um dirigente”, contou.

Roque até esqueceu que estava à trabalho e para sua surpresa, o serviço de alto falante do Morumbi pediu a sua presença no setor de arrecadação. “Os mais de 100 mil torcedores ouviram meu nome. Foi legal demais”, sorriu.
Roque ainda viveu outros momentos felizes na Internacional, como as conquistas do Campeonato Brasileiro da Série B de 1988 e as Séries A-2 de 1996 e 2004.

Mas para sua tristeza e de milhares de leoninos, a Internacional “chegou ao fundo do poço” em 2009, com a queda para a última divisão do futebol paulista.

“Não dava para acreditar que um time tão famoso e respeitado em todo o Brasil estava caindo para a quarta divisão de um campeonato que ela mesmo conquistou em 1986. Foram momentos difíceis. Imagine para nós, que trabalhamos todos esses anos em prol do clube. Vê-lo desabando desta forma nos comovia”. Mas a Inter deu a volta por cima e retornou à Série A-3 no ano seguinte, sob o comando do técnico Claudemir Peixoto.

Roque deixou a Internacional em 2012, pouco antes do centenário. “Sai junto com o Dr Ailton Vicente Oliveira. Estava cansado. Cheguei a conclusão que precisava me afastar, afinal, fiquei quase meio século no clube. Mas nem por isso deixei de amá-lo”.

Ele fazia questão de guardar os balancetes mais importantes que fez nesse período, como dos títulos de 1986 e 1988 e de jogos importantes, contra os chamados grandes da capital.

Roque Del Mondo deveria se chamar Roque Del Monde, mas o cartório errou em seu nome, trocando o “e” pelo “o”. Esse cidadão do bem nasceu em Limeira no dia 16/08/1936. Era filho de Guilherme Del Monde, que trabalhava como pedreiro e da dona de casa Maria Candian Del Monde. Deste relacionamento nasceram 11 filhos: Roque, Josefina, Antônio, José, Milton, Emílio, Mário, Ezolina, Reinaldo, Palmira e Angelo.

Roque foi casado com Cleonice Pilon Delmondo e teve três filhos: Maria Lúcia, Luiz Marcelo e Ana Paula.

Estudou no Colégio Brasil. Seu primeiro emprego foi como alfaiate com Geraldo Mezanelli, na Praça Toledo Barros. Abriu a Loja M.Del Monde na Rua 7 de Setembro. Foram 20 anos no ramo.

Em 1991, inaugurou o Café e Carinho na Maria Buzolin. Mas recentemente decidiu arrendá-la, até para curtir mais a vida de aposentado. Roque nunca jogou futebol, apenas brincava, como ele mesmo gosta de falar. Além da Inter, era são-paulino.

Roque dedicou parte de sua vida também a Matriz de Nossa Senhora das Dores. “Cheguei a vender cartelinhas de bingo para a construção da igreja. Tenho foto ao lado do sino, no exato momento em que ele chegou. Vi essa igreja ser construída e me orgulho disso. Sempre que posso e que solicitam da minha ajuda, colaboro nas missas. Sou vicentino também. Outra grande emoção que senti foi assistir uma missa do saudoso Papa João Paulo 2º no Vaticano”, completou.

Roque será velado no Monumental até às 16h. Seu sepultamento está marcado para as 16h30, no Cemitério Saudade.

teste
Sair da versão mobile