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México toma medidas contra a indústria das armas

Foto: Karolina Grabowska/Pexels

O governo do México entrou nesta quarta-feira, 4, com um processo na Justiça americana contra grandes fabricantes de armas dos EUA no qual pede compensação financeira pela onda de violência relacionada ao narcotráfico que atinge o país há mais de 15 anos. Os mexicanos alegam que a falta de controle das empresas contribui para o fluxo ilegal de armas pela fronteira.

A ação incomum foi ajuizada no tribunal federal dos Estados Unidos em Boston – sede de grande parte de empresas como Smith & Wesson, Glock, Colt e outras. Cerca de 2,5 milhões de armas ilícitas americanas foram despejadas pela fronteira na última década. As vendas legais de armas no México são fortemente restritas.

A ação sustenta que os fabricantes de armas americanos têm consciência de que seus produtos são traficados e utilizados em atividades ilícitas contra a população civil e autoridades mexicanas. Além dos danos financeiros solicitados – que as autoridades mexicanas estimam que podem chegar a US$ 10 bilhões (o equivalente a R$ 52,02 bilhões) se o processo for bem-sucedido -, também busca a adoção de controles mais rígidos sobre as vendas e melhores recursos de segurança nas armas. Além disso, pede que as empresas façam estudos e campanhas na mídia para prevenir o tráfico de armas.

As empresas não comentaram o processo. Mas, no passado, os fabricantes de armas negaram responsabilidade por crimes em que suas armas foram usadas. A indústria de armas de fogo afirma que tenta garantir que as armas só possam ser compradas por aqueles legalmente autorizados a possuí-las.

Uma lei federal americana que entrou em vigor em 2005 protege os fabricantes de armas da maioria das reivindicações de responsabilidade civil, dificultando o sucesso de ações judiciais como a do México.

Violência

Nos últimos anos, cartéis de drogas se dividiram em grupos menores e rivais que se diversificaram em atividades criminosas como extorsão e sequestro. Enquanto isso, as redes de drogas aumentaram os embarques de heroína, metanfetaminas e fentanil para os Estados Unidos.

Sucessivos presidentes mexicanos tentaram estancar a violência reformando o sistema de justiça, visando os chefões do tráfico e aumentando os benefícios sociais para afastar os jovens do crime Mas eles tiveram poucos resultados. Analistas de segurança dizem que o governo não teve vontade política para realizar uma transformação mais profunda nos tribunais e na polícia que pudesse combater a corrupção e a impunidade para os crimes de drogas.

As organizações criminosas mexicanas podem obter armas de nível militar por meio de um intermediário nos Estados Unidos com relativa facilidade.

Nos últimos anos, por exemplo, o uso de fuzis de precisão calibre .50 cresceu no México. A arma foi usada por organizações criminosas para atingir altos funcionários mexicanos.

Retórica

Em 2018, durante sua disputa pela presidência, Andrés Manuel López Obrador prometeu romper com as táticas fracassadas de seus antecessores para combater o narcotráfico. Em vez de prender e matar traficantes como os líderes anteriores haviam feito, ele focaria nas causas da violência.

Em paralelo ao discurso contra o tráfico de armas, López Obrador também dobrou seu apoio às Forças Armadas, abraçando a militarização que também marcou os governos anteriores.

Um pilar central de sua estratégia para combater o crime foi a criação da Guarda Nacional, uma força de segurança federal com 100 mil integrantes mobilizados em cerca de 180 quartéis regionais em todo o país. Na semana passada, López Obrador anunciou que a guarda receberia um financiamento adicional de US$ 2,5 bilhões.

Em todo o México, os assassinatos caíram menos de 1% desde que López Obrador tomou posse. Isso foi o suficiente para o presidente alegar, em um discurso no mês passado, que havia ocorrido uma melhora em um problema herdado por seu governo.

“Há uma situação de violência incontrolável e uma trágica deterioração da segurança pública no México”, diz Angelica Duran-Martinez, professora de ciência política da Universidade de Lowell. “Não há uma política de segurança clara.” (Com agências internacionais).

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