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Investir bem é uma coisa, torrar dinheiro é outra

Desde o começo do ano, um dos assuntos mais frequentes em programas esportivos (e em mesas de bar) é o Palmeiras. Mais precisamente, o caminhão de dinheiro que a Crefisa despejou no time.

Quem acompanha futebol sabe bem que o torcedor do Palmeiras alternou momentos gloriosos e difíceis na última década. Uma Copa do Brasil conquistada no mesmo ano do segundo rebaixamento do clube para a Série B pode ser um bom resumo do que uma das maiores torcidas do Brasil passou. Até que em 2015 as coisas começaram a mudar.

O Palmeiras trouxe o diretor de futebol Alexandre Mattos, que havia sido campeão brasileiro nos dois anos anteriores com o Cruzeiro. Poucos dias depois, chegou a Crefisa. De maneira tímida, o Palmeiras começou a trazer jogadores em grande quantidade. O investimento e o esforço renderam o tricampeonato da Copa do Brasil, e consequentemente, uma vaga na Libertadores 2016.

Após a eliminação na primeira fase, a torcida, obviamente, não ficou nem um pouco feliz, e começou a cobrar resultados. E foi aí que um dos fatores determinantes dessa historia apareceu: Alexandre Mattos mostrou que tem a necessidade de gastar o dinheiro (dos outros). E não gastou pouco. Gastou milhões, e trouxe jogadores oriundos de todos os cantos do Brasil. Pouco importava a qualidade, o curriculum, a condição física, ou qualquer outra variável. O negócio era gastar e demonstrar poder de fogo.

O investimento deu resultado. O Palmeiras conquistou o campeonato Brasileiro, após longas duas décadas de jejum. Sob as ordens de Cuca (que chegou no meio do campeonato Paulista e arrumou a casa) e contando com Gabriel Jesus, o Verdão fez a alegria da outrora apreensiva torcida. Parecia que enfim os tempos de glória haviam voltado. Aparentemente teríamos um remake do filme que a Parmalat escreveu nos anos 90.

Para não perder o costume, Alexandre “Mittos” (como alguns torcedores o apelidaram) continuou investindo forte em algumas “revelações” que tiveram bons momentos durante algum período de tempo em suas carreiras. Tudo isso, gastando muito, é óbvio. O ápice se deu quando o atacante Borja foi contratado por mais de 30 milhões de Reais.

Pode se justificar que ele foi decisivo nas fases finais da Libertadores. Realmente foi. Também pode se afirmar que ele fez gol atrás de gol no futebol Colombiano. Porém, vamos lá: Borja passou por vários times, e não criou raiz em nenhum. Apesar de ter sido decisivo, e de ter feito bastante gols, existe algo chamado fase. Acho que na ganância de contratar, esqueceram do histórico GIGANTESCO de jogadores que foram comprados a peso de ouro após boas atuações, e que viraram verdadeiros fiascos. Resultado: o Palmeiras conta com um jogador descontente no banco, que quando recebe a chance de ser titular, mostra que tem o mesmo sangue que uma barata correndo em suas veias. Borja virou símbolo. Mas não é apenas ele. Felipe Melo e Michel Bastos chegaram ganhando muito, sabe se lá Deus o motivo. Ganharam um cartaz que nunca mereceram de alguns anos pra cá, e além de nenhum dos dois ser o que parte da mídia tentou os transformar, não são as melhores pessoas do mundo dentro de um vestiário.

Some se a isso o fato de que a Copa Libertadores virou obsessão, e um punhado de jogadores supervalorizados chegando a todo instante. Acha pouco? Calma que tem mais. No meio do caminho, após uma campanha irregular, o treinador Cuca voltou, após um “período sabático” pra inglês ver. Não voltou com nada de muito diferente dentro de campo. Mas continuou com suas terríveis manias e superstições, chegando ao cúmulo de fazer muita gente comprar uma calça horrorosa com a desculpa de ser uma calça da sorte.

O clube foi eliminado nas oitavas de final da Libertadores. Caiu nas quartas de final da copa do Brasil. Está distante do líder do Campeonato Brasileiro. Pode ser campeão? Pode, afinal, tudo pode acontecer.

Porém, muito desse ano deve ser tirado de lição. A primeira é que o fato de você pagar caro em um jogador não o transformará em um craque. Se você pagar 100 milhões no romarinho pelo simples fato dele ter feito um gol na Bombonera, ele continuará sendo o Romarinho.

A segunda é que o simples fato de você desejar ganhar um torneio, não vai trazer o troféu. Por mais incrível que possa parecer essa afirmação, acredite, todos os times que disputam a Libertadores querem vencer. Pois é, não basta queimar dinheiro, gravar vídeo motivacional, fazer caras e bocas, falar que vai bater em uruguaio e todo esse jogo mental. Não sei se isso pode ajudar, mas “apenas” desempenhar um bom futebol já seria o suficiente para chegar mais longe no torneio.

A lição número três é bem óbvia: Superstição e religião não ganham jogos. Se fosse assim, treinador não estudaria esquema tático, mas sim, o horórscopo. E a Seleção do Vaticano seria campeã Mundial todo ano. Pode parecer bonitinho ver treinador e jogador de joelhos, pedindo ajuda divina, ou utilizando a medalha, a camisa, a cueca e o boné da sorte. Bonitinho até é, porém, pelo pouco que sei, isso não faz gol, e o único meio de ganhar campeonatos é colocando a bola na rede.

Para finalizar, a quarta lição que o Palmeiras pode tirar é que ter dinheiro não signifca nada. Aliás,pode significar, desde que seja bem gasto. O que alguns chamavam de Real Madrid das Américas virou o Manchester City Tupiniquim. Gasta dinheiro por gastar, até alguns campeonatos, mas não consegue chegar onde deseja. Porém, continua com muita grife.

Apenas lembrando que muitos se esquecem de um “detalhe” muito importante: ano passado o Palmeiras contava com Gabriel Jesus, um jogador diferenciado para os padrões do futebol Brasileiro, e que faz muita falta, além de ser o suficiente para bater em praticamente todo mundo, já que os times daqui não possuem nenhum valor individual como Gabriel, tampouco eficiência tática suficiente para neutralizar um jogador letal como ele.

Quanto aos torcedores, a vaga na Libertadores, ou o título nacional está de muito bom tamanho. Criar expectativas apenas pelo alto investimento é normal, porém, a chance de gerar decepções é alta. Este ano, foram várias. E pode vir mais, afinal, nada é impossível no futebol. Nem mesmo torrar dinheiro para passar um ano em branco.

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