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Investigação revela ligação de limeirenses e iracemapolense com quadrilha especializada em roubar tratores

Uma quadrilha especializada em roubo de tratores e máquinas agrícolas foi condenada nesta semana pela Justiça de Piracicaba. No bando, há integrantes de Limeira e Iracemápolis. Na sentença, que tem 307 páginas, há informações de como os integrantes do grupo criminoso agiam e na denúncia o Ministério Público (MP) aponta que, num período entre abril e outubro de 2016, a quadrilha agiu em dezenas de cidades do interior de São Paulo, como Piracicaba, Matão, Limeira, Marília, Cerquilho, Tietê, Hortolândia, Campinas, Rio das Pedras, Itu, Dois Córregos e Brotas, além de outras até o momento não apuradas.

De acordo com o MP, os réus, 31 no total, juntamente com outras pessoas não identificadas, integraram e promoveram organização criminosa composta por mais de quatro pessoas, com o emprego de armas de fogo, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefa.

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A INVESTIGAÇÃO
O bando passou a ser investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Piracicaba após o roubo de um trator na Fazenda São Francisco. Foi instaurado inquérito policial e, durante a investigação, com autorização judicial, os investigadores grampearam telefones usados pelos integrantes do bando.

As escutas telefônicas revelaram detalhes da ação do bando e que eles agiam de forma organizada e era responsável por furtos e roubos à mão armada de máquinas agrícolas e outros crimes a estes correlacionados, como adulteração de sinal identificador de veículo automotor e receptação, além de criar estrutura para dar aparência lícita à posterior alienação de tais máquinas, inclusive com emissão de notas fiscais falsas.

Na investigação, a Polícia Civil descobriu que o réu J.A.S. era o chefe da organização. No decorrer das escutas, vários roubos foram registrados e ficou comprovada a atuação do bando não somente na região de Piracicaba, mas em todo o estado de São Paulo. J. contava com pessoas encarregadas de remarcar as máquinas subtraídas, outras responsáveis pela emissão de notas fiscais frias para o transporte dessas máquinas, além de seis grupos de pessoas que faziam os roubos, bem como de receptadores. Algumas dessas pessoas, conforme a investigação, agiam em mais de um grupo, mas todas eram ligadas ao J., embora somente os chefes desses grupos mantinham contato com ele.

Ainda durante as escutas telefônicas, a Polícia Civil descobriu que os roubos eram encomendados por J., tanto que os policiais conseguiam identificar antecipadamente onde os roubos iriam acontecer, faziam diligência de campo para tentar abordar os envolvidos durante a execução dos crimes e acabaram apreendendo várias máquinas que haviam sido subtraídas. Após a subtração das máquinas, os tratores tinham a numeração remarcada e uma nota fiscal era emitida por empresas de fachada, para viabilizar o transporte das máquinas, enviadas para várias partes do país. Conforme os policiais, graças às investigações, eles conseguiram apreenderam várias máquinas enquanto elas estavam sendo transportadas. Os réus foram identificados durante as escutas telefônicas e durante as diligências de campo. No relatório de investigações, os policiais ainda mencionam que as notas fiscais fabricadas aparentavam idoneidade e eram capazes de ludibriar o adquirente da máquina.

Na região de Piracicaba, a Polícia Civil descobriu que quem atuavam nos roubos eram D.M.R. e C.M.S.. A dupla atuava sob o comando de J. e contava com a ajuda de outros membros da quadrilha para remarcação das máquinas, emissão das notas frias e transporte das máquinas. Os grupos roubavam ou furtavam as máquinas e vendiam a grande maioria para J., que até atraiu a atenção de outros grupos criminosos que tentaram fazer negociações sem a intermediação dele, mas a maioria das máquinas eram direcionadas para J.. Os investigadores descobriram ainda que, no contexto geral das conversas grampeadas, ficou evidenciado que tudo o que os réus roubavam era direcionado para o J., mas também podiam roubar sem ordem dele.

QUADRILHAS DE LIMEIRA
Durante as escutas telefônicas feitas no celular de J., os policiais conseguiram identificar outras pessoas que também furtavam e roubavam tratores, alteravam os sinais identificadores e revendiam as máquinas para outros estados, para dificultar a localização. Uma dessas máquinas foi mandada para Teresina (PI), mas ficou retida pela fiscalização. Os investigadores conseguiram o CNPJ da nota fiscal que acompanhava a máquina e o endereço que constava no documento era de um lava-rápido.

As investigações continuaram e os policiais identificaram também uma quadrilha que agia nas cidades e Hortolândia e Sumaré, liderada por E.S.P., que tinha J. como seu “braço direito”. Nessa quadrilha, faziam parte C.T.M. e V.F.C., este último identificado após participação em um roubo na cidade de Monte Mor, quando parte da quadrilha conseguiu fugir, mas ambos foram presos em flagrante a bordo de um caminhão que transportava a máquina roubada de uma empresa que estava prestando serviços naquela cidade.

Durante a prisão, eles disseram que o caminhão pertencia a outro membro da quadrilha, posteriormente identificado como D.R.G., que, segundo as escutas telefônicas, comandava uma quadrilha em Limeira, que tinha como integrantes J.A.C.L.F., M.J.T. e R.C.S.S..

D., que comandava o bando em Limeira, foi preso em Tietê junto com M. e R. e, no mesmo dia da prisão, os policiais encontraram uma máquina com a numeração adulterada em poder de um morador de Americana. Outras duas máquinas apreendidas em Marília, conforme os policiais, foram roubadas pela quadrilha de Limeira, comandada por D..

As escutas telefônicas revelaram ainda uma outra quadrilha de Limeira, que também atua no roubo de máquinas. Esse outro grupo era comandado por A.S.P., que, além de roubo de máquinas, a quadrilha, da qual também faziam parte C.C., A.O.G. e A.V.S., praticava roubos contra empresas metalúrgicas.

Num dos crimes, a quadrilha de A. praticou um roubo na cidade de Itu e os policiais conseguiram interceptá-los em Limeira. A. mantinha bastante contato com J. (citado no início como chefe da organização), que, por sua vez, tinha conexão com V.S., conhecido nos meios policiais locais e morador de Iracemápolis. Ele, inclusive, já chegou a ceder imóvel para acusados de envolvimento com roubo a banco. V. foi preso em Itirapina, junto com o limeirense M.A.R. e P.A.G. que é esposa de M.. O trio foi detido logo após a prática de um roubo em Dois Córregos. O limeirense M. tinha um caminhão e utilizava o veículo na prática de roubos. Já sua esposa, segundo as gravações, também participava dos crimes como “olheira”. Os policiais ligaram o iracemapolense ao bando quando descobriram que o trator que foi parar em Teresina era transportado num caminhão que era dirigido por L.S.S., subordinado de V..

PAGAMENTOS AOS LIMEIRENSE E VALORES
J., tido como a cabeça do bando, chegou a visitar Limeira para efetuar pagamento aos membros da quadrilha da cidade. Os policiais acompanharam um encontro no qual o réu levou dinheiro para membros da quadrilha a caminho de Limeira e que, em Limeira, J. fazia contato pessoal com J.A., M. e o iracemapolense V..

A emissão das notas fiscais era feita por ordem de J., que cobrava dos roubadores 5% a 10% do valor da nota e pagava R$ 50 para a pessoa que emitia o documento.

J. partilhava os lucros com os integrantes das quadrilhas de acordo com a participação de cada um na empreitada criminosa. Assim, de uma máquina que valia R$ 300 mil, ele pagava R$ 50 mil ou R$ 60 mil para o pessoal que efetuou o roubo, descontando desse valor o montante para a emissão da nota fiscal fria e das plaquetas de identificação.

A quadrilha movimentava cerca de R$ 2 milhões por semana e, durante as investigações, o os policiais constataram a emissão de, aproximadamente, 90 notas fiscais, algumas delas com duas ou três máquinas.

Numas das conversas interceptadas, os interlocutores citam que a muralha digital de Limeira tinha “pegado” um dos carros usados no crime e que, por conta disso, o veículo foi deixado no meio do mato. Os criminosos citam que souberam da localização por meio de reportagens. Nesse mesmo dia, a Guarda Civil Municipal de Limeira recebeu denúncia sobre um automóvel que trafegava com o farol apagado na Fazenda Quilombo e os agentes viram um rapaz que fugiu. Na caçamba de caminhão deixado para trás, foram encontradas duas máquinas Bob Cat. Perto do caminhão, encontraram um veículo Fiat/Uno.

A SENTENÇA
Na sentença assinada no dia 18 de maio, a juíza Gisela Ruffo, da 4ª Vara Criminal de Piracicaba, condenou o iracemapolense V.; D., acusado de chefiar o bando em Limeira; e o casal M. e P. por organização criminosa. As penas, em regime semiaberto, variam de quatro a seis anos de prisão.

Os réus V.F.C., R.A.R., A.O.G e D.B.P. foram absolvidos. A defesa dos condenados pode recorrer da decisão.

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