Motoboys e entregadores preparam para a quarta-feira, dia 1º, um boicote nacional contra os aplicativos de entregas, como iFood, Rappi, Loggi e Über Eats. O movimento, organizado pelos motoboys via WhatsApp, reúne lideranças difusas pelo País e acontece à margem da organização dos sindicatos, em uma mobilização inspirada na greve dos caminhoneiros de maio de 2018
A pauta de reivindicações da categoria engloba desde a definição de uma taxa fixa mínima de entrega, por quilômetro rodado, até o aumento dos valores repassados aos entregadores por serviços realizados. Eles também cobram das empresas uma ajuda de custo para a aquisição de equipamentos de proteção contra a covid-19, como máscaras e luvas.
Outra queixa dos entregadores é sobre os bloqueios de colaboradores nos aplicativos que, segundo eles, acontecem sem uma política de transparência definida. Alguns motoboys acusam os aplicativos de punirem quem se nega a realizar entregas, por exemplo, na chuva, ou em determinados horários e dias.
“Eles (os aplicativos), com essa política de bloqueio, nos obrigam a trabalhar na hora em que eles querem”, afirma Diógenes Souza, um dos líderes do movimento na cidade de São Paulo. “Quem se nega a fazer o serviço porque não gosta de pilotar no meio da chuva corre o risco de ficar o dia inteiro bloqueado”, diz.
Remuneração
Segundo os motoqueiros, os aplicativos vêm gradativamente reduzindo a comissão paga pelas entregas. A redução se dá mesmo com o aumento dos pedidos durante a pandemia do coronavírus, que colocou boa parte das famílias em isolamento social e suspendeu a operação presencial de restaurantes. “Eu trabalhava oito horas para faturar R$ 150 em um dia. Agora, preciso trabalhar de 12 a 15 horas diárias para ganhar a mesma coisa”, conta Simões, líder do movimento no Rio de Janeiro. Ele pede para não ser identificado pelo primeiro nome com receio de represálias dos aplicativos. “Eles com certeza vão me bloquear”, afirma.
Em nota, o iFood informa que não adota nenhuma medida que possa prejudicar aqueles quem rejeita pedidos. “Ao rejeitar muitos pedidos, o sistema entende que o entregador não está disponível naquele momento e pausa o aplicativo, voltando a enviar pedidos, em média, 15 minutos depois.” A empresa também afirma que, em nenhuma hipótese, penaliza colaboradores que participam de movimentos.
Outra pauta rechaçada pelas empresas é a de que os aplicativos tenham reduzido o repasse aos motoboys pelas entregas. Segundo a colombiana Rappi, o frete varia de acordo com o clima, dia da semana, horário, zona da entrega, distância percorrida e complexidade do pedido.” Rappi também criou um mapa de demanda para ajudá-los a identificar as regiões com maior número de pedidos.”
Manifestações
Não é a primeira vez que os entregadores se organizam em torno dessas pautas. Em abril, os entregadores organizaram um buzinaço em São Paulo e, em junho, realizaram um protesto.
Desta última experiência, aliás, eles começaram a discutir uma paralisação nacional. “Foram surgindo grupos de WhatsApp de todos os cantos com o mesmo tema, paralisação dia 1º de julho. Eu saí de um monte, porque não dou conta, mas estou em cinco deles, com uns mil motoqueiros no total”, afirma Diógenes Souza. Segundo os líderes, cerca de 50% dos entregadores de São Paulo devem aderir ao movimentos. No Rio está sendo esperada a adesão de mais de 70%.
MPT
Após o início da pandemia, o Ministério Público do Trabalho emitiu uma nota técnica listando algumas medidas que precisam ser tomadas pelas empresas de aplicativos durante a crise sanitária. Pelo documento, as empresas precisam fornecer gratuitamente aos colaboradores álcool em gel (70% ou mais), espaço para lavagem de mão e para higienização dos veículos, com sabão e papel toalha, além de água potável para o consumo desses profissionais.
Segundo os manifestantes, essas exigências não foram atendidas. “Antes, os restaurantes deixavam a gente usar o banheiro. Agora, a gente roda o dia inteiro sem conseguir beber água e nem ir ao banheiro”, afirma Simões.
Procurados, Loggi e Uber Eats não se posicionaram.