Enquanto os parques paulistanos estiveram fechados em razão da pandemia do novo coronavírus, o advogado Paulo Lanari, de 43 anos, se virou como pôde para adaptar os treinos de corrida que fazia no Ibirapuera há mais de 2 anos. O jeito foi correr dentro do próprio apartamento. “Lembrei de quando jogava squash, esporte no qual a gente se movimenta em um espaço menor. Colocava um fone de ouvido e corria”, diz. Com a abertura gradual dos parques, ele retornou ao seu hábitat no fim de julho, para correr de 5 a 7 km.
Assim como ele, com a reabertura dos parques e o retorno da ciclofaixa de lazer aos domingos e feriados, muita gente voltou a praticar atividades físicas ao ar livre. Esse retorno, no entanto, exige cuidados tanto do ponto de vista físico quanto para evitar contaminação. E a máscara, embora incômoda, é necessária (e obrigatória): a multa é de R$ 524,59 para quem não usá-la em locais públicos em São Paulo.
“Eu me sinto seguro no parque. Estou sempre com máscara, não toco em nada, não converso e não corro atrás de grupos”, diz Lanari, apesar de afirmar que vê muitos frequentadores sem máscara. Desde segunda-feira, o advogado tem um incentivo ainda maior: vai poder contar com a orientação da assessoria esportiva da qual é aluno há cerca de 1 ano e meio, que volta ao parque depois de quase 5 meses. “É importante, pois eles veem a passada, a velocidade correta e os limites a fim de evitar lesões”, diz.
A treinadora de Lanari é Alic Viana, coordenadora técnica do Clube Floow, que oferece assessoria esportiva em parques como Ibirapuera, Villa Lobos e do Povo. Ela, que durante a quarentena desenvolveu treinos online, que incluíam disputas e desafios, acha a volta das atividades em parques precoce. “É meu papel estar lá, orientar os alunos, mas não sei se é o momento certo. Tenho medo que eles voltem a ser fechados devido ao avanço da doença”, diz ela, que, agora, atenderá um aluno por vez. “Neste momento, o foco não é mais performance, o alto rendimento, e sim a saúde e o bem-estar mental”.
Apesar do retorno da atuação presencial da assessoria, nem todos os alunos voltarão a treinar nos parques. Na verdade, até agora, apenas 30% dos cerca de 40 corredores do time de Alic resolveram fazê-lo. Por isso, os treinos online serão mantidos também quando a pandemia acabar.
A cartorária Karina Zuleika Cabreira, de 40 anos, decidiu não voltar a correr nos parques. Ela até tentou, mas não gostou do que viu no Ibirapuera. “Havia muita gente sem máscara, em grupos Para ficar nervosa com esse tipo de situação, prefiro não ir.” Por ora, ela corre logo cedo pelas ruas do bairro de Santa Cecília, onde mora, e foge das aglomerações. “Quero fazer a minha parte como cidadã a fim de contribuir para o controle da epidemia e, consequentemente, diminuir o número de mortes. E não aglomerar é essencial para isso.”
No pedal
A volta da ciclofaixa de lazer estimulou o advogado Marcos Miziara, de 39 anos, a voltar a pedalar por seu caminho favorito: ir da região da Praça da Árvore, onde mora, rumo à Avenida Paulista e, depois, seguir para algum parque. Ele mantém distância dos demais ciclistas, mas confessa que, quando está sozinho, pedala com o nariz descoberto. “Quando paro em algum semáforo ou quando percebo que alguém parou muito perto, subo a máscara”, diz.
Neste momento, para ele, pedalar é uma terapia – e uma opção à academia. “Não me sentiria seguro em um ambiente fechado, com muitas pessoas, tendo que colocar as mãos nos aparelhos. Só volto quando houver uma vacina.”
A preocupação de Miziara faz sentido. Embora não exista um ambiente 100 % seguro, esportes ao ar livre são mais recomendados neste momento. “Sabemos que, quanto mais arejado o ambiente, melhor. Academias nem sempre têm uma ventilação adequada. E quando nos referimos a isso falamos em ventilação natural, não em ar condicionado. A ventilação natural favorece a renovação do ar, reduzindo a propagação do vírus”, explica o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Nesse período de adaptação e recomeços, o incômodo em comum continua sendo a máscara. Alic, Lanari e a editora de arte do Estadão Viviane Jorge (leia depoimento abaixo) já testaram diferentes modelos. “Quase morri sufocada com a feita de borracha sintética (neoprene)”, diz Alic. “A estilo buff foi a que melhor me adaptei, apesar de ter que ajustá-la sempre ao rosto”, diz Lanari.
Para o fisiologista e médico do esporte Adalho Fregona, além do período de readaptação para retomar a atividade física depois de um tempo parado, exercícios mais extenuantes, por enquanto, devem ser evitados em função do uso da máscara. Enquanto ela continuar necessária, o jeito é diminuir a intensidade do treino “À medida que o indivíduo se sentir fatigado, deverá pausar o treino, realizar inspirações profundas e descansar até reoxigenar o sangue.”