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Estar em paz ou ter razão?

Dia após dia nos vemos mais e mais rodeados por pessoas cheias de razão, por pessoas cujos ‘lados da história’ são sempre os mais importantes e que merecem atenção, não importando o restante da história e o que se diga.

Como dizem: ‘O endereço mais difícil do mundo é o lugar do outro’. É compreensível que demos importância aos nossos problemas e nossas dificuldades, nossas dores e necessidades, tudo isso é absolutamente plausível, porém não é aceitável que não consideremos o outro, essa outra pessoa que tem problemas, que sente, que chora, que tem medos, que adoece, que tem angústia, ansiedade e etc.

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Quantas são as vezes que somos surpreendidos por pessoas cujos problemas e razões são ‘as maiores do mundo’ e o restante da humanidade apenas lhes deve respeito, piedade, entendimento e etc?

Não é raro presenciarmos pessoas que, por se acharem com a razão, não se incomodam ou ficam desconfortáveis em maltratar, agredir e/ou difamar ao outro.

Briga-se por tudo e por nada. WhatsApp e demais ferramentas de comunicação, viraram ferramentas para torturar nas mãos dos ‘cheios de razão’.

Quantas não são as pessoas que mandam 10, 15 mensagens de uma vez só, textos gigantes, áudios que mais se parecem com um podcast que com um áudio (e vários, um seguido do outro), que fazem chamadas usando o aplicativo, a despeito do quão invasivo e deselegante isso possa ser, pessoas que, apesar da razão que julgam ter, colocam-na a perder torturando e massacrando o próximo.

São essas mesmas pessoas que pedem empatia, que falam em respeito, que tomam posse da razão e do ‘lado certo’, não é?
Empatia? Aquela que pode ser caracterizada como a capacidade emocional de se colocar no lugar das outras pessoas, percebendo o que elas sentem e ficando atentos às consequências que suas ações poderão ter na vida delas, mesmo que essas consequências não sejam imediatas (Vieira, 2017)? A empatia não é somente compreender o lugar do outro de forma racional. Vai além. É uma conexão que se dá através do âmbito emocional e pessoal dos indivíduos. (Sampaio et al., 2009)

Então a pessoa que manda de 10 a 15 mensagens seguidas no WhatsApp e áudios que são mais podcasts que áudios, se se colocarem no lugar deste outro, irão gostar muito e se sentir à vontade com essa conduta?

Como é difícil ser empático, né? Como é complexo ter razão, mas pensar que toda história tem 2 lados, tem 2 razões, tem justificativas plausíveis de todos os lados e que uma boa conversa e respeitosa sempre pode solucionar problemas, não é?
O tempo passou, evoluímos, fomos pra Lua já, estudamos vida inteligente fora da Terra, desenvolvemos satélites, super computadores, melhoramos a tecnologia, nossas crianças ‘nascem conectadas’ praticamente, mas desaprendemos a conversar, a dialogar. Queremos monólogos longos e opressores, cheios de eu, eu, eu, lotados de quero, quero, quero ou preciso, preciso e preciso, vazios de escuta, vazios de entendimento, vazios de compreensão, vazios de humanidade.

Percebemos que estamos falhando enquanto seres humanos quando escutamos algumas pessoas menosprezarem diagnósticos de COVID-19, de tumor, de depressão, de ansiedade, dentre outros. Como é triste ver isso. Há uns dias li algo do tipo, diante de um diagnóstico complicado: “Eu não estou nem aí.”, diante desta frase, nenhum argumento vale, nenhuma saliva deve ser desperdiçada, nenhum verbo deve ser utilizado, pois cairá no vazio, em um oco total de humanidade. O melhor mesmo é ‘deixar pra lá’, retirar da vida e seguir em frente sem um ser tão sem humanidade ao redor.

É importante estarmos em paz, sermos felizes (ao menos buscarmos a felicidade), estarmos cercados de humanos que sentem, que amam, que se compadecem com o sofrimento dos demais, do que tentarmos mostrar algo a alguém assim.

Encerro com um convite a reflexão: “Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil.” Extraordinário (Wonder), 2012, R. J. Palacio

Contato: sophiarodovalho@rapidonoar.com.br

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