“Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.” Rubem Alves
Eis que 2020 começou quente! Estamos passando “pelo fogo” desde o início do ano. Estamos lutando, cada um de nós, a luta pessoal, enfrentando problemas particulares, lidando com sofrimentos únicos e juntos enfrentamos pandemia, isolamento social, dificuldades financeiras, medos de adoecermos, saudade de sairmos às ruas tranquilos, saudade de abraçarmos os amigos, saudade de reunirmos a família, saudade de sairmos de casa, somado a insegurança do que é essa doença, como curar, prevenir, vacinar, a proximidade com a morte, passamos a olhar a morte por curvas e números e isto é assustador.
Nos dias de hoje o ‘look’ da moda são máscaras, o perfume mais chique é o álcool em gel, o cumprimento mais amoroso é um olá, sem contato físico. As reuniões viraram conferências on-line, ver o mundo passou a ser da janela de casa, farmácias e supermercados tornaram-se os nossos ‘passeios’. Nosso conceito de ensino mudou, de conversa mudou, happy hour não existe mais, descobrimos as ‘lives’ e estas são entretenimento comum a todos.
Não bastasse isso enfrentamos uma ‘guerra política’ no que se refere ao isolamento Uns minimizam o efeito do Covid-19 e outros dão ao Covid-19 uma seriedade que nos arrepia. Muitos de nós ficamos perdidos com esta dicotomia e esta guerra.
A televisão noticia o tempo todo o avanço da doença no País e no Mundo e nos deixando numa tensão nervosa, nunca tivemos tão pouco controle em nossas mãos. Nunca ficamos tão inseguros e assustados.
Os rituais de limpeza de cada um de nós foram atualizados, os rituais de chegar em casa idem. Muitos de nós estamos lidando com a tensão, com a ansiedade, com o medo. Muitos perdemos a rotina, nos vemos acordando e indo dormir sem muito objetivo e cercados pelo medo e pelas dificuldades financeiras.
Em meio a tudo isso, podemos adotar práticas não tão saudáveis para lidar com esse momento e passar por isso. Vemos um aumento do consumo de bebida alcoólica entre as pessoas, tem sido crescente a ansiedade e o TOC, também tem sido crescente os casos de violência doméstica, indicando que nem todos estão lidando de forma saudável com todo este cenário.
É importante pensarmos e nos conscientizarmos que tudo isso irá acabar e que exigirá de nós força, exigirá de nós foco, disciplina para nos reconstruirmos e nos reinventarmos pós-pandemia.
Como o faremos se tivermos nos ‘destruído’ com consumo de álcool excessivo, se estivermos lidando com uma ansiedade e com transtornos emocionais e sobretudo se estivermos protagonizado episódios de violência, que marcam e que não são esquecidos jamais?
Reflita! É preciso limpar a casa, é preciso cuidar das roupas, é preciso relaxar e ‘esquecer os problemas e turbulências’ e é possível nos desentendermos e discordarmos uns dos outros, porém, não podemos nos deixar dominar por rituais de limpeza, ansiedade com a morte, doença ou situação de pandemia e de pós-pandemia, relaxarmos e esquecermos os problemas é importante, mas não é igual a abusarmos do álcool e dos psicotrópicos e quando discordamos podemos ficar mais ‘acalorados’, mas nunca agressivos e violentos.
Use este tempo para olhar para você e descobrir como você lida com as situações de adversidade, como você esquece os problemas, como você se previne e como você discute e argumenta sobre uma divergência.
Adote práticas saudáveis. Adote uma rotina que inclua produção e relaxamento. Desenvolva técnicas de diálogo e de conversa. Busque lidar com suas ansiedades e suas frustrações sem se destruir ou massacrar.
Isso também vai passar!
Encerro com um convite a reflexão a partir de uma música muito apropriada ao momento:
“Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei, escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã, espera que o sol já vem (…)” Flávio Venturini e Renato Russo.