Uma rodada global de enfraquecimento da moeda americana, aliada à manutenção do otimismo com o avanço da reforma da Previdência após o destravamento de votação de MPs no Congresso, fez com que o dólar furasse o piso de R$ 3,90 na sessão desta segunda-feira, 3. Afora uma pequena alta na abertura dos negócios, a moeda americana trabalhou em queda pela manhã e acentuou as perdas ao longo da tarde, após fala de um dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Com mínima de R$ 3,8835 (-1,07%) , menor valor intraday desde 16 de abril, o dólar encerrou o pregão em queda de 0,96%, a R$ 3,8878 – nível mais baixo desde 15 de abril (R$ 3,8681).
Dados de atividade industrial mais fraca que o esperado nos Estados Unidos divulgados pela manhã e temores crescentes em relação à guerra comercial abalaram as expectativas para o crescimento americano e, por tabela, elevaram as apostas em afrouxamento monetário nos EUA. O resultado foi uma onda global de enfraquecimento do dólar, intensificada ao longo da tarde após o presidente do Fed de Saint Louis, James Bullard, afirmar que um corte na taxa de juros “pode ser justificado em breve”. No exterior, o índice DXY – que mede a variação do dólar em relação uma cesta de seis divisas fortes – perdeu mais de 0,50% e registrou o menor nível intraday desde 13 de maio.
“Ao contrário da semana passada, quando o mercado aparentemente adotou um otimismo com o destravamento do Congresso, a queda do dólar está muito mais ligada ao cenário lá fora, com o Fed falando da possibilidade de corte de juros”, afirma Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, para quem o recuo de 2,23% dólar na semana passada foi exagerado e sem base em fundamentos e sinais mais concretos de melhora na articulação política. “O mercado está dando novamente a dúvida ao governo, mas não parece que o governo já tem os votos para aprovar a Previdência no plenário da Câmara”.
Na sequência de apreciação de Medidas Provisórias que animou o mercado, as atenções se voltaram nesta segunda-feira às articulações para a votação no Senado da MP 871, que combate fraudes no INSS e pode expirar caso não seja aprovada ainda nesta segunda. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a MP 871 era fundamental para garantir que mudanças previstas para a aposentadoria rural possam ser retiradas da PEC da Previdência. Em encontro com governadores do PSDB, que defendem a manutenção de Estados e municípios na reforma, o relator da PEC da Previdência na comissão especial na Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), disse que pode apresentar seu relatório nesta quinta-feira (6) ou, no mais tardar, até a próxima segunda-feira (10). No fim do dia, Maia foi além e previu que a reforma deve ser aprovada no plenário da Câmara no fim de junho ou início de julho.
Para Felipe Pelegrini, gerente de tesouraria do Travelex Bank, apesar da queda recente do dólar, o mercado de câmbio tende a seguir “muito arisco”, monitorando de perto as negociações em torno da reforma. “Não se pode descartar novas altas caso o estresse político aumente. Sem notícias negativas, a tendência é que o dólar fique entre R$ 3,85 e R$ 3,95”, afirma Pelegrini.