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Das piores pessoas, tiramos os maiores aprendizados

Já dizia sabiamente Carlos Drummond de Andrade: “Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.”

É claro que sabemos disso, temos a real dimensão que somos muito diferentes uns dos outros, que pensamos de forma diversa uns dos outros, cada um de nós tem seus valores, seus ideais, suas crenças, suas prioridades, cada um de nós tem suas angústias, suas razões …

Muitas vezes, na verdade na grande maioria das vezes, diante de um ‘conflito’, uma divergência, se analisarmos friamente e ‘de fora’ a situação, perceberemos que os lados envolvidos no mesmo têm razão, mas como?

Unanimidade não existe! Razão única e exclusiva não existe. São pontos de vista diferentes, argumentos diferentes, por isso, faz-se necessário que sejamos pessoas fáceis de lidar, pessoas dispostas a chegar a um consenso, chegar a um acordo, conversar.

“Pessoas difíceis” não se enquadram aí! Elas têm visão unilateral, a visão do EU: eu isso, eu aquilo, eu aquilo outro, eu e eu. Quando falam de ‘você’ é sempre para salientar que ‘você errou, você pisou na bola, não aceito o seu pensamento, não aceito a sua visão dos fatos, seu sofrimento não existe, sua dificuldade não interessa…’.

Quanta gente assim por aí! O que ganhamos se formos as tais “pessoas difícieis” ? Pense comigo aqui: o que ganhamos se não nos colocarmos no lugar do outro e não formos empáticos, o que ganhamos se minimizarmos o sofrimento e as dificuldades dos demais, o que ganhamos se ignorarmos o diálogo, partirmos para um monólogo agressivo e cruel e não estivermos abertos a escutar e a negociar?

Ganhamos dor de cabeça! Damos dor de cabeça! Nos tornamos tiranos, cruéis! Deixamos a humanidade de lado, para assumir uma postura briguenta, uma postura autoritária, uma postura de ‘estou certo’, ‘sou certo’, não me importa o outro, o que importa sou eu!

Não raras vezes, cito em minhas colunas a empatia e Rogers definindo-a com perfeição, quando diz: “Ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele.”. As pessoas difíceis são assim, elas olham o mundo do outro, através de sua visão apenas, não olham à luz dos olhos do outro. Apenas atropelam ao outro com sua visão egoísta e unilateral.

Conviver com estas pessoas é, sem dúvida, difícil, horrível, chato, desgastante! Tudo o que mais queremos é nos livrar daquela criatura egoísta, dura, fria, que não se importa, que não vê ninguém e nem o ‘lado de ninguém’.

Mas então, o que aprendemos com elas? Aprendemos, antes de mais não a não ser como elas! Ao melhor estilo: “Não seja esta pessoa!”. A partir deste contato sofrido e ruim, descobrimos que não devemos ser assim, que este deve ser um exemplo afixado na parede, um exemplo sobre o perigo de não ser empático, de não olhar para o outro com sensibilidade, aprendemos a monstruosidade de sermos estas pessoas.

Mas não aprendemos somente isso! Aprendemos a apenas ‘escutar, ignorar’ e não entrar em discussões e / ou conversas com quem ignora como fazê-lo! Fique atento: alguém cheio de razão e sempre correto, apontando os erros do outro é alguém que deve ser evitado a todo custo. O contato com uma pessoa dessa deve ser evitado, pois só causa sofrimento, não se chega a consenso e só vem a mágoa e a tristeza.

A filosofia oriental já dizia, com sua sabedoria milenar que “ O homem comum fala, o sábio escuta e o tolo discute.”.

Deixemos para as ‘figuras difíceis’ ocuparem o lugar de tolo, deixemos que sejam vistos e apontados como os tolos. Apenas escutemos, com sabedoria, de quem vai aprendendo, enquanto escuta o tolo falar e grasnar, ainda que o tolo nos provoque, use de ironia, seja grosseiro, seja deselegante! Tolos são assim… cabe a eles e apenas a eles mudarem ou viverem uma vida oca e vazia, sendo tolos, egoístas e pessoas a serem evitadas a todo custo!

Que nós possamos exercitar a escuta, a empatia, o cuidado com o outro, que possamos nos tornar sábios dia após dia, por mais que isso pareça difícil (e é).

Tenhamos como norte a compreensão, a busca pelo consenso, a não sobreposição do mais ‘forte’ sobre o mais ‘fraco’, do que está ‘em maior vantagem’ ou ‘com mais razão’ sobre aquele que sobre por estar errando e estar errado …

Apontar, criticar, dar lições, falar, ‘fofocar’ é simples, não requer prática e tão pouco habilidade, basta uma língua afiada, zero empatia, zero noção de que todos somos humanos, portanto, falhos em alguns momentos…. Ser tolo é ser esse imenso vazio, repleto de uma arrogância e de certezas que ligam nada a lugar algum.
Sejamos sábios, como Voltaire bem define: “Os sábios falam porque têm alguma coisa para explicar; os tolos, porque gostam de ouvir a própria voz!”.

Se formos falar, que seja para edificarmos, ajudarmos, sermos humanos e empáticos… caso contrário, o silêncio vale ouro!

Encerro com uma canção de Lulu Santos, que suaviza e ilustra a coluna de hoje: “ (…) Eu vejo um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera, com habilidade, pra dizer mais sim do que não, não, não. Hoje o tempo voa, amor, escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir, não há tempo que volte, amor, vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir (…)”

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